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Foto do escritorHenrique Debski

XX FANTASPOA | Consumed, de Mitchell Altieri (Idem, 2024)

Sem conseguir decidir suas influências, Consumed é genérico em boa parte do tempo, e quando descobre o que deseja ser, já é tarde demais.



Pessoalmente, sempre costumo dar valor a filmes de terror que exploram criaturas folclóricas e seus significados, ainda mais quando se propõe a debater questões morais e o próprio agir humano.

 

De certo modo, Consumed inicialmente coloca à mesa elementos para debater a relação do casal protagonista, que faz uma trilha na floresta em comemoração à eficácia do tratamento para câncer da mulher, que está quase desaparecendo. O desgaste emocional é colocado em evidência pela direção de Mitchell Altieri, fruto dos tempos difíceis que passaram, e com ênfase no medo do futuro.

 

Acontece que, desde cedo, o longa possui uma dificuldade em aprofundar os protagonistas, na medida em que o texto assinado por David Calbert se limita a diálogos vagos e pouco inspirados, que batem sempre no mesmo ponto do “esforço conjunto”, sem conseguir efetivamente colocar para fora os sentimentos do casal.

 

É nessa dinâmica de um descompasso que uma estranha criatura ladra de peles é usada como o catalisador dessa conciliação, ao fazer deles alvos fáceis. Se o longa se limitasse a esta ideia, talvez encontrasse espaço para discussões genuínas e sinceridade em relação aos protagonistas. Mas o caminho escolhido é o de uma prova de amor, ao colocar uma segunda ameaça, um tanto ambígua, para atuar na equação, representada pelo personagem de Devon Sawa, que caça a criatura.

 

O resultado dessa escolha vem disfarçada em uma frágil tentativa de se construir uma metáfora ao redor do monstro, que representa o medo de suas vítimas, e através dele as consome. Por isso que sonhos e alucinações se tornam elementos recorrentes deste terror, que de alguma forma precisa nos mostrar o inconsciente dos personagens, mas não encontra saída mais criativa para tanto. É também por essa razão que a doença é colocada no centro de tudo, sobretudo dos sonhos da personagem vivida por Courtney Halverson.

 

Se não bastasse a artificialidade dos envolvidos neste triângulo humano frágil, o longa tem ainda mais problemas quando tenta trabalhar a criatura, especialmente quando a revela sendo um Wendigo. O folclore cai por terra diante da carência de características do monstro genérico, uma grande fumaça feita a partir de um trabalho inacabado de CGI e que exalta uma estranha ausência de correção de cor, e que só vem a dar as caras, de verdade, na reta final.

 

E são nesses momentos finais que Altieri parece inspirar-se para buscar alguma identidade a seu projeto que, até ali, exalava apatia. Porém já era tarde demais para isso, ainda frente aos mais de 80 minutos em que o filme enrola para seguir os caminhos mais fáceis.

 

A homenagem e o abraço ao cinema de terror B clássico até concede uma estética interessante ao monstro e a violência do desfecho, mas não é suficiente para salvar Consumed do mais infinito desinteresse que promove para com o espectador, ao não oferecer nada de novo, e, mais ainda, não conseguir aproveitar nem sua criatura bizarra ou ao menos a mitologia em torno dela.

 

Ao terminar, a impressão que fica é de Consumed ser um filme com mais intenções do que qualquer execução, cambaleando para todos os lados com uma narrativa previsível e arrastada, que nem consegue decidir quais são as suas influências durante boa parte do tempo. Quando parece descobrir o que deseja ser e onde se inspirar, já é tarde demais, pois a atmosfera genérica já está consolidada e o espectador só espera, cansado, pelo fim.

 

Avaliação: 1.5/5

 

Consumed (Idem, 2024)

Direção: Mitchell Altieri

Roteiro: David Calbert

Gênero: Terror, Thriller

Origem: EUA

Duração: 95 minutos (1h35)

Assistido no XX Festival Fantaspoa.

 

Sinopse: O casal Jay e Beth faz uma viagem para acampar em comemoração a sucesso de tratamento de Beth para diminuição de seu câncer. Porém, eles acabam presos entre um homem louco e um monstro que rouba peles.

(Fonte: Fantaspoa - Adaptado)

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