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Foto do escritorHenrique Debski

XX FANTASPOA | Azrael, de E.L. Katz (Idem, 2024)

Mesmo sem palavras, a presença de Samara Weaving é ótima em Azrael, mas nem sua dedicação salva o filme da incompreensão.



Desde A Babá e Casamento Sangrento, todo filme de terror que envolve a presença de Samara Weaving no elenco naturalmente já tem minha atenção. E Azrael é um daqueles longas que dependem, em grande parte, da força de seu protagonista, na medida em que o roteiro de Simon Barrett opta por desenvolver-se em um mundo pós-apocalíptico cujas palavras são consideradas um pecado. Por esta razão, os gestos e olhares tornam-se a única e principal forma de se expressar e comunicar dentro daquele universo.

 

A direção de E. L. Katz, em um primeiro momento, se destaca na medida em que estabelece uma traumática situação de separação entre a personagem de Weaving, que nomeia o filme, Azrael, e seu par romântico, seguida do oferecimento da protagonista como oferenda a uma horrenda criatura da floresta onde se passa o filme. O desespero, as amarras, o vento soprando e balançando os sinos improvisados junto ao som de uivos assustadores dos antagonistas oferece suficiente situação de desespero e um bom indutor de ansiedade, cuja fuga da vítima dá início ao desenrolar dos eventos.

 

Acontece que após a fuga de Azrael, o filme se dedica, no restante do tempo, a uma jornada de vingança. Até podemos supor que os vilões representam uma vida que a protagonista busca esquecer, junto a seu interesse romântico, em um lugar onde talvez o amor não exista ou não seja permitido, naquela comunidade de fanáticos religiosos. Acontece que tudo neste filme não passa de meras suposições do espectador, na medida em que não há palavras durante toda a narrativa a não ser em pequenos excertos de cunho religioso nos interlúdios de cada “capítulo”.

 

A ideia da interpretação até poderia funcionar se o longa, através da imagem, nos fornecesse elementos para buscar pelas respostas dos mistérios que oferece. O problema é que isso também não acontece. Na maior parte do tempo, o interesse e dedicação real da direção de Katz está sempre voltada à ação e ao terror, onde nem mesmo consegue algum resultado verdadeiramente interessante.

 

Apesar das boas coreografias de luta, e da razoável noção geográfica que temos dos ambientes, o diretor tem dificuldade em estabelecer planos limpos e amplos para que possamos compreender o desenrolar das lutas. A montagem corta demais de um lado para outro, e os planos escuros ou muito próximos dos personagens atrapalham a visualização da cena de maneira ampla.

 

A dinâmica da ação e vingança da protagonista, de certa forma, progride como em um jogo de videogame, com acertos e erros, que lhe custam novas tentativas e cada vez apelando para novas estratégias e mais brutalidade - onde, talvez, o filme melhor se saia, através da violência gráfica intensa e de um excelente trabalho de imersão sonora. Tal inspiração nos games tanto está presente que a vila improvisada de fanáticos religiosos em alguns momentos até lembra Resident Evil 4, não só pelo ambiente e temática em si, mas também pelos monstros, que parecem referenciar o oitavo jogo desta mesma franquia através de seu comportamento.

 

Azrael é um filme que parte de uma ideia ousada, ao optar pelo não uso de quaisquer palavras que não em pequenos excertos aparentemente bíblicos e de caráter religioso em momentos específicos. O problema é que para funcionar, seria necessário retrabalhar muitos de seus elementos de forma a tornar o longa visualmente inteligível, na tentativa de suprir, através da imagem, a ausência das palavras, pois inúmeros pontos presentes na sinopse, por exemplo, são simplesmente incompreensíveis pela forma como o filme se apresenta. Dessa maneira, a ausência das palavras acaba tornando-se muito custosa aos realizadores, que perdem uma boa oportunidade de cinema com uma premissa de diversas formas mal executada.

 

Avaliação: 2/5

 

Azrael (Idem, 2024)

Direção: E.L. Katz

Roteiro: Simon Barrett

Gênero: Terror, Ação, Thriller

Origem: EUA, Estônia

Duração: 84 minutos (1h24)

Assistido no XX Festival Fantaspoa.

 

Sinopse: Em um mundo onde ninguém fala, um culto fanático caça uma jovem que escapou de seu aprisionamento. Recapturada por seus líderes implacáveis, Azrael está destinada a ser sacrificada para aplacar um antigo mal.  (Fonte: Fantaspoa)

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