Em meio a um formalismo exagerado, As Formas Complexas impressiona pelo visual, mas pouco consegue dizer com sua narrativa.
A beleza estética de As Formas Complexas é certamente sua maior virtude. Ao contrário dos genéricos longas de possessão que meramente reproduzem a atmosfera estabelecida por Friedkin em O Exorcista, a obra italiana dirigida por Fabio D’Orta propõe uma visão diferenciada dentro da temática, ao uni-la com diferentes subgêneros do terror, através de insetos gigantes e um forte toque de surrealismo, tudo trabalhado a partir de um orçamento extremamente limitado.
No entanto, enquanto busca por uma inovação dentro do gênero terror, o título do filme, ironicamente, lhe cai muito bem, pois há uma preocupação tão grande com sua complexidade formal que a direção esquece, por completo, de algo tão importante quanto: o conteúdo.
Na realidade, As Formas Complexas acerta em sua tentativa de como abordar a temática da possessão, mas recai nos erros de tantos outros filmes que tentaram construir algo novo renegando partes do processo criativo.
Sua estética em preto e branco, que constrói uma sensação incômoda ao unir elementos do cinema da década de 50 com traços da contemporaneidade, se alia muito bem com a fotografia que imprime a sensação de desconforto dos protagonistas diante de um prédio tão imponente que os oprime, sobretudo diante da organização misteriosa para a qual se venderam, e não sabem o que pode acontecer em seguida.
Os insetos gigantes, por sua vez, assustam não só os homens ali presentes como também o espectador, pelo aspecto grotesco e suas aparições surpreendentes e nem sempre avisadas com antecedência.
Acontece, porém, que a decupagem de D’Orta pensa muito em como conduzir a narrativa a partir de uma estética que enfatiza a imensidão e o vazio daquele ambiente misterioso, privilegiando uma angular ampla e a imersão do espectador. Mas enquanto usa cada plano para demonstrar a estranheza daquele ambiente limpo e perfeito demais, o vazio acaba atingindo também a narrativa, que muitas vezes não tem qualquer ideia de para onde caminhar ou de como deixar pistas ao espectador do que está de fato acontecendo.
Pelo contrário, os personagens andam de um lado para o outro e esperam para que algo aconteça e possam discutir sobre. Não existem pistas para se resolver o mistério, ou sequer algum elemento visual que indique a realidade, usados apenas como forma de estender ao máximo a escuridão em que deixa o espectador.
Em seus minutos finais, revela algo que era para ser surpreendente através de um pobre e nada esclarecedor diálogo expositivo, que culmina em uma decisão para cena final que deixa a todos com cara de ponto de interrogação. É como se faltasse muito para que nós, os que assistimos, pudéssemos compreender a ideia do diretor, já que o cineasta se entrega a um formalismo tão exagerado que esquece de inserir elementos que nos possibilite compreender o que a narrativa que dizer afinal.
E não será um carro voando de modo surrealista, insetos gigantes ou um belo visual que resolverá os problemas da confusão que As Formas Complexas cria em seu próprio desenrolar. Apesar de brilhar aos olhos com alguns de seus momentos, ainda mais diante do baixo orçamento, não dá para ignorar suas dificuldades quando diante de uma narrativa tão pouco recompensadora.
Avaliação: 2/5
As Formas Complexas (The Complex Forms, 2024)
Direção: Fabio D’Orta
Roteiro: Fabio D’Orta
Gênero: Terror, Thriller
Origem: Itália
Duração: 74 minutos (1h14)
Assistido no XX Festival Fantaspoa.
Sinopse: Existe uma antiga vila onde pessoas desesperadas têm a oportunidade de reviver suas fortunas vendendo seus corpos para entidades misteriosas em troca de dinheiro. Quando enormes e ancestrais criaturas emergem das profundezas das matas que cercam a vila, uma série de eventos estranhos e sinistros leva três hóspedes improváveis a se unirem em uma fuga desesperada.
(Fonte: Fantaspoa)
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