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Foto do escritorHenrique Debski

XX FANTASPOA | All You Need is Blood, de Cooper Roberts (Idem, 2024)

O cinema de terror recebe sua carta de amor com All You Nedd is Blood, uma paródia sobre amadurecimento com zumbis e que abraça os filmes B.



Na recente onda das “cartas de amor ao cinema”, muitos diretores revelaram suas maiores paixões pela Sétima Arte através de dramas intimistas que, por meio de personagens fictícios, falavam muito sobre eles. O que não foi visto, porém, é esta carta de amor direcionada ao cinema de terror.

 

Digo, não foi visto até agora, pois All You Need is Blood nada mais é do que a prova do valor da paródia não apenas como veículo para o debate de assuntos sérios e complexos, mas também sobre como falar sobre cinema com tamanha profundidade.

 

Para tanto, o diretor Cooper Roberts se projeta no personagem de Bucky Le Boeuf, pseudônimo pelo qual assina a direção do presente, e constrói a figura de um apaixonado aspirante a cineasta, quando jovem, concretizando seu sonho de adolescente mais de vinte anos depois, olhando para o passado com reverência e transformando possíveis duras passagens de sua vida pessoal em um grande espetáculo metalinguístico banhado a sangue e com zumbis.

 

Seu protagonista, que leva supostamente leva o nome do diretor, Bucky Le Boeuf, se desenvolve a partir de um idealismo comum aos jovens iniciantes (o que vale para qualquer carreira), tomados por uma arrogância motivada pelo desconhecimento e falta de experiências no mundo real, com o sonho e intenção de revolucionar e transformar o meio em que está se inserindo com suas novas ideias. Esse ar convencido de Bucky o leva a constantemente debater o sentido da arte pelo meio do “cinema elevado” ou “artístico”, resistindo ao cinema de gênero e renegando o terror por julgar “comercial demais” – algo que muitos, ainda hoje, pensam, ainda que de forma diferente dos anos 90.

 

Mas sempre é tempo para aprender. Quando a mão do mundo real o frustra com a sinceridade de um produtor de cinema interessado somente em dinheiro, e dando ouvidos a uma amiga com o pé no chão, é como se o protagonista percebesse o valor que existe no cinema de gênero, sobretudo na forma como é possível se utilizar da fantasia para falar da realidade. Toda a arrogância inicial do personagem se dissipa na medida em que filma um longa de zumbis, com mortos-vivos reais, contaminados por uma substância extraterrestre. Sendo seu próprio pai uma dessas criaturas, a obra de Bucky se transforma em uma grande reflexão sobre o luto, as diferentes formas de com ele lidar, e sobretudo a necessidade de união do que ainda vivem.

 

É a partir disso que o personagem enxerga o verdadeiro valor do cinema como a arte plural que é, sobretudo na imensidão de maneiras que se tem disponíveis para tratar de determinado assunto, seja pela veia dramática, humorística ou do terror, como o próprio faz.

 

Essa nova visão apresentada para Bucky, talvez seu “eu” do passado, em 1998, é exatamente a visão que o diretor Cooper Roberts sustenta no presente, em seu filme, que através de uma violenta comédia de terror com zumbis que conta, e muito bem, sobre o amadurecimento de um jovem adolescente apaixonado por cinema que precisa lidar com o falecimento dos pais e a solidão de estar no mundo sem sua família. É a concretização da ideia de “filme dentro do filme” que o próprio personagem menciona: enquanto lá sua obra é um drama familiar com zumbis, sangue e experimentação, o longa que assistimos é um “coming of age” de zumbis com direito à muito sangue, fantasia e absurdos.

 

Assim, All You Need is Blood se torna, cada vez mais, uma ode ao cinema B de terror norte-americano, como uma forma de dele se utilizar para debater a própria relevância no cenário presente, enquanto seu diretor fala sobre o passado em uma espécie de Os Fabelmans do terror, e materializa, na forma de um filme, todo seu amor pelo cinema.

 

Avaliação: 4.5/5

 

All You Need is Blood (Idem, 2024)

Direção: Cooper Roberts (assinada como Bucky Le Boeuf)

Roteiro: Cooper Roberts (assinado como Bucky Le Boeuf)

Gênero: Terror, Comédia

Origem: EUA

Duração: 100 minutos (1h40)

Assistido no XX Festival Fantaspoa.

 

Sinopse: Quando um estranho meteoro pousa em seu quintal, transformando seu inútil pai em um zumbi devorador de cérebros, um jovem aspirante a diretor de 16 anos se junta aos amigos para criar o filme estudantil definitivo. (Fonte: Fantaspoa)

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