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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Young Royals – 3ª Temporada (Idem, 2024)

Entre o privilégio da realeza e o fardo da família real, o terceiro ano de Young Royals encerra a série com o final ideal.



Na primeira temporada, o autodescobrimento levou o príncipe-herdeiro da Suécia, Wilhelm, a ter um vídeo intimo vazado, que o expunha para o mundo. As consequências de tal circunstância motivaram todo um jogo político no segundo ano de Young Royals, em que qualquer passo em falso poderia gerar consequências devastadoras para si, seu companheiro e sua família. Em meio a um relacionamento às escondidas, uma decisão corajosa nos minutos finais gerou uma reviravolta, quando decidiu assumir seu namoro com Simon para o mundo.

 

Se num primeiro momento o foco foi o conhecimento e num segundo a reconciliação, neste terceiro – e último – a ênfase é de batalha, em uma luta de Wilhelm e Simon para ficarem juntos. O conservadorismo da família real e o “Palácio”, como instituição política, se apresentam mais próximos do casal, agora que o mundo sabe que estão juntos. Por consequência, a população, através da opinião pública, também tem sua porção de fala e opinião, trabalhadas através dos comentários contra e a favor nas redes sociais, que agora ganham espaço dentro do universo da série.

 

A ausência de liberdade de Wilhelm, que sempre foi motivo de infelicidade por parte do personagem, agora se estende também a Simon. A maneira como ficam engessados, até mesmo em relação ao próprio relacionamento, se evidencia ainda mais nos poucos momentos de maior liberdade. A dificuldade em externalizar os sentimentos, sobretudo perante à família, e um luto por parte do príncipe que nunca foi superado sobrecarregam a relação de tal forma que o amor se manifesta apenas através de um olhar penetrante, mas cuja mente preocupada em demasia impede demonstrações mais contundentes, as quais ficam a cargo de Simon, que ainda assim pouco consegue extrair os sentimentos de seu namorado (ao menos verbalmente).

 

É assim que toda a concepção de Monarquia é colocada em xeque pelos personagens, e aos poucos começa a ruir. Enquanto alguns podem enxergar como um privilégio, cada vez mais Wilhelm a vê como um fardo, e mais, uma prisão, que o impede de ser quem ele realmente é. Inclusive, muito disso só funciona pelo excelente trabalho de Edvin Ryding e Omar Rudberg, que extrapolam o texto e seus personagens com uma relação crível e uma química invejável, perceptível pelo conforto que tem em contracenarem juntos e através do genuínos olhares e gestos de carinho.

 

Na mesma medida em que se batalha pela felicidade, é tempo também para perdoar. Uma das melhores características da série criada por Lisa Ambjörn, Lars Beckung e Camilla Holter sempre foram os personagens complexos, que mesmo quando exercendo algum antagonismo ainda possuem a consciência de seus atos. August, na pele de Malte Gårdinger, é quem mais se destaca nesse aspecto, na medida em que tenta consertar os erros que cometeu, mas sem baixar sua destrutiva ambição e sede de poder, que muitas vezes o levam ao descontrole – mais uma vez motivado pela impossibilidade de abrir-se com alguém a respeito de seus sentimentos, o mesmo dilema vivido por Wilhelm, mas com outros contornos.

 

E naquele contexto, o desconforto é o que guia os personagens à preocupações genuínas, e cujo dinheiro nem sempre resolve. É curioso que para muitos dos coadjuvantes essa é a solução, na medida em que bem representam a superficialidade de uma elite tradicional (vide as amigas de Felice). Assim, a ausência de noção do mundo real - e de consciência de classe - é muito colocada em evidência nesta temporada em relação aos alunos de Hillerska, em diálogos e conversas com pessoas de fora que, enquanto para eles soam naturais, demonstram justamente a vivência em uma bolha – e, de praxe, mostra o refinamento de um texto que evita a exposição óbvia, e opta por mostrar ao invés de falar.

 

Por isso a possibilidade de fechamento da escola representa tamanha ameaça aos alunos. Nem mesmo o dinheiro seria capaz de reparar anos de uma hierarquia institucionalizada entre os alunos, em um ambiente tão eivado de vícios e um conservadorismo tão voraz no qual até mesmo o racismo é relativizado, e ninguém, a não ser a vítima, consegue perceber. É por isso que muitos tem medo de serem quem de fato são.

 

Mas por outro lado, este cenário de despedida confere justamente aos personagens uma oportunidade de sinceridade e de afastarem as máscaras sociais perante uns aos outros. É o que acontece quando alguns (outros) se revelam gays e casais saem das sombras, antes escondidos e tementes pela opinião dos amigos, que os aceita como são de coração aberto – o que mais uma vez revela muito sobre o ambiente em que estão inseridos.

 

Com o episódio final, Young Royals encerra a jornada de seus personagens mantendo-os no mesmo caminho que os colocou desde o início, cujo amadurecimento não se reflete apenas em seus arcos, mas também no conforto do elenco em interpretá-los. O uso da canção de Hillerska escrita por Simon, nos minutos finais, é ressignificada para além de sua função original, e serve não apenas como uma ode ao amor, mas também como um tributo à escola e uma retrospectiva, que geram certo sentimento nostálgico, ultrapassando a tela e chegando ao espectador, num desfecho genuíno e ideal para tudo aquilo que foi construído.

 

Avaliação: 5/5

 

Young Royals – 3ª Temporada (Idem, 2024)

Criação: Lisa Ambjörn, Lars Beckung e Camilla Holter

Gênero: Romance, Drama

Origem: Suécia

Duração: 6 episódios, com 50 minutos em média cada

Disponível: Netflix

 

Sinopse: O Príncipe Wilhelm entra no prestigioso colégio interno Hillerska e finalmente tem a chance de explorar sua verdadeira personalidade e descobrir o tipo de vida que quer levar. (Fonte: IMDB)

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