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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Wolfs, de Jon Watts (Idem, 2024)

Wolfs se sustenta no carisma de um elenco talentoso, mas os desperdiça com uma narrativa óbvia e um desfecho decepcionante.



Na falta de grandes ideias para um thriller de comédia, uma solução fácil e rentável é reunir dois grandes astros de Hollywood e amigos para um projeto onde podem brilhar. Foi o que Jon Watts fez em Wolfs, ao reunir, pela sexta vez em frente às câmeras, George Clooney e Brad Pitt.

 

A ideia de seu thriller passa longe de ser ruim, ao trabalhar na base do estranhamento entre os personagens, dois homens que fornecem os mesmos serviços, concorrentes no ramo, que precisam trabalhar juntos em um caso comum. O serviço? Limpar a “bagunça” deixada pelos outros; e dessa vez, um ensanguentado quarto de hotel, com um corpo ao centro e uma promotora de Nova York desesperada.

 

No entanto, é também uma ideia que passa longe de ser original. Quantos outros filmes assistimos anualmente que abordam uma relação semelhante? Somente o diretor Patrick Hughes, por exemplo, possui três bons filmes nesse esquema desde 2017; e neste ano mesmo já é o segundo ou terceiro. Então Wolfs precisava de diferenciais para não ser apenas mais um nesse mar de mesmices.

 

A priori, parece que Watts se contentou em contar, majoritariamente, com seus protagonistas, cujo nome e personalidades não importam diante da realidade em que se inserem, ainda mais quando pouco a pouco percebem serem quase iguais. Essa dinâmica de oposição que os aproxima cada vez mais, dentro de um duelo de poses duronas e olhares provocativos de admiração e inveja, apesar de muito eficiente para o humor, não é suficiente para uma narrativa interessante.

 

É aí que o personagem de Austin Abrahms – em uma baita atuação divertida - entra em cena, como forma de transformar o serviço em algo ainda mais enroscado do já é, onde as semelhanças entre os protagonistas se revelam ainda mais, especialmente frente ao perigo que existe em serem avistados juntos.

 

Assim, Watts investe em uma construção de tensão atmosférica bastante competente enquanto afunila as opções de saída dos personagens para a situação em que se encontram, tornando necessária a realização de escolhas difíceis nos momentos decisivos. Entretanto, como era de se esperar, sendo Wolfs um filme norte-americano de altíssimo investimento, as chances para um desfecho ousado eram, logicamente, mínimas. Mas as escolhas criativas para o encerramento foram, por incrível que pareça, ainda piores.

 

Se não bastasse a previsibilidade para uma das soluções, os minutos finais, na tentativa de finalizar a obra com uma reviravolta, dá um tiro no próprio pé ao colocar em xeque toda a narrativa. Isso porque, em meio a diálogos expositivos pronunciados rapidamente pelos dois protagonistas ao mesmo tempo, há uma tentativa de conceder uma outra – e diferente – perspectiva aos fatos passados, complicando ainda mais uma teia de relações naturalmente complexa e sem muito contexto, e inserindo tudo sob o manto de uma grande conspiração. Talvez fosse a intenção ser de fato ininteligível, mas o sentimento que fica, de verdade, é o de frustração, e talvez até tempo perdido.

 

Assim, pela primeira vez depois de alguns anos trabalhando fora da Marvel, Jon Watts aposta no carisma de um elenco estrelado, mas não consegue sair de uma dinâmica hollywoodiana genérica, sem muito estilo próprio. Mesmo que faça bom uso da amizade de Pitt e Clooney, não há muito para ser lembrado aqui, senão pelo desfecho decepcionante, e uma ou outra passagem divertida (como a cena do atropelamento), que ainda assim não são suficientes para alimentar o vigor que o filme precisava.

 

Avaliação: 2.5/5

 

Wolfs (Idem, 2024)

Direção: Jon Watts

Roteiro: Jon Watts

Gênero: Thriller, Comédia, Ação

Origem: EUA, Reino Unido

Duração: 108 minutos (1h48)

Disponível: AppleTV+

 

Sinopse: Dois solucionadores rivais se cruzam quando ambos são chamados para encobrir o erro de uma importante figura pública de Nova York. Durante uma noite conturbada, eles terão que deixar de lado suas diferenças e egos para concluir o serviço. (Fonte: IMDB)

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