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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Wish: O Poder dos Desejos, de Chris Buck e Fawn Veerasunthorn (Wish, 2023)

Na comemoração de seu centenário, Wish é uma reflexão do desgaste da Disney, em uma obra narcisista e preguiçosa.



Em seu centenário, a Disney esperava por um ano agitado. Com muitos projetos para serem lançados, repletos de personagens famosos e consagrados tomando as salas de cinema, o que a empresa viu foi exatamente o contrário do que previam: greve de roteiristas e atores, fiascos nas bilheterias e o constante desinteresse do público pelo mesmo de sempre (formulas, remakes, etc).

 

Nesse contexto caótico tomado por decepção, o lançamento de Wish: O Poder dos Desejos foi a cereja do bolo amargo de um ano que era para ter sido inesquecível.

 

A premissa de explorar uma aparente utopia dos desejos nos remete a um dos mais puros sentimentos para com o cinema (ao menos, falo por mim): o desejo em estar num mundo fantasioso, de viajar para outra realidade, que não aquela em que vivemos, e de quem sabe quebrar as barreiras do real.

 

Para tanto, foi pensada uma animação que reunisse os mais clássicos traços da empresa, em termos de universo, personagens, bordões e, claro, musicais. No entanto, o que era para ser uma homenagem tornou-se algo, no mínimo, preguiçoso.

 

O grande problema de Wish é o errôneo pressuposto adotado pela direção de Chris Buck e Fawn Veerasunthorn, ao pensarem que apenas a memória afetiva seria suficiente para emplacar esta espécie de “filme comemorativo”. Na prática, pouco de fato há para se comemorar para além de uma imensa quantidade de clichês, distribuídos num mundo superficial.

 

A protagonista, por exemplo, é uma personagem esquecível, que lembra Mirabel, de Encanto, e até tenta reproduzir sua doçura, mas sem o mesmo carisma ou características que nos convidem para nos afeiçoarmos a ela. Da mesma forma, o avô lembra a avó de Viva ou a própria matriarca de Encanto, mas sem tanto destaque, e até mesmo o reino de Rosas é um lugar que mescla tantas culturas que soa inexpressivo em identidade, assim como o traço incomoda pela falta de profundidade.

 

A fantasia é utilizada na base da conveniência do roteiro, sendo responsável por introduzir cada vez mais personagens que o longa não tem qualquer interesse em desenvolver – e que falam aos montes, cheios de piadas repetitivas, como os animais falantes.

 

Já o antagonista tem grande importância na premissa básica quando recai sobre o autoritarismo e o controle da mentalidade do reino, ao amarrar os cidadãos a desejos que nunca se realizarão. Mas as motivações não conseguem ir além do puro narcisismo, e acabam por justificar a maldade pelo fato de o personagem ser mal. Não existem benefícios aparentes durante mais da metade do filme, e quando se encontra o “poder dos desejos”, motivado por uma virada no início da narrativa, este é tratado com literalidade por um roteiro que não consegue explorar a ideia.

 

Assim, o longa culmina em uma batalha final que, como em todos os demais momentos, utiliza a fantasia como muleta para passar de um ponto “A” para “B”. A forma pode até soar divertida, mas é difícil ignorar tamanha falta de criatividade para um desfecho mais elaborado. A mensagem final, de que desejos são parte de nós e falam de nosso interior, pode ser bonita, mas é passada do jeito mais feio possível.

 

Como se não bastasse toda a construção de um mundo vazio e que pouco desperta algum interesse em seu público, Wish se encerra fazendo referências a todos os universos Disney, e parte para uma curta reunião de personagens famosos do estúdio, como se tudo fosse um grande mundo compartilhado.

 

E dessa forma a Disney encerra seu ano de centenário com um filme que faz jus a todos os últimos tempos da empresa, dotados de fórmulas e reciclagens. Wish sempre será lembrado como um esquecível exercício de autorreferências, cujo narcisismo extrapola até mesmo o de seu antagonista.

 

Avaliação: 2/5

 

Wish: O Poder dos Desejos (Wish, 2023)

Direção: Chris Buck e Fawn Veerasunthorn

Roteiro: Jennifer Lee, Allison Moore, Chris Buck, Fawn Veerasunthorn, Carlos López Estrada e Andrew Rothschild 

Gênero: Aventura, Comédia, Animação

Origem: EUA

Duração: 95 minutos (1h35)

Disponível: Disney+

 

Sinopse: No reino mágico de Rosas, Asha faz um desejo tão poderoso que é atendido por uma força cósmica: uma pequena esfera de energia ilimitada chamada Star. Juntas, Asha e Star enfrentam um inimigo formidável: o governante de Rosas, Rei Magnifico, que não é exatamente como ou quem parece ser.

(Fonte: IMDB - Adaptado)

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