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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Twisters, de Lee Isaac Chung (Idem, 2024)

Ainda que na zona de conforto, nas mãos de Lee Isaac Chung Twisters é um blockbuster com vigor.


 

Não é de hoje que temos falado constantemente na ausência de criatividade por parte dos estúdios hollywoodianos. Na contramão de outros tempos, especialmente no final do século passado, onde a originalidade era prestigiada através de narrativas inéditas, atualmente a prioridade que se dá é o “jogar no seguro”, com sequências, refilmagens, reimaginações e por aí vai.

 

Entre a ideia de sequência e o tributo de uma refilmagem moderna, Twisters é um filme que nunca sai da zona de conforto de um blockbuster contemporâneo, estabelecendo as bases de sua narrativa a partir da reunião de fórmulas já consagradas no passado, e as replicando à sua maneira, através de temáticas como trauma, rivalidades e uma grande ameaça à espreita dos protagonistas.

 

No entanto, é na maneira como o filme reúne tais fórmulas que encontra seu próprio estilo. Toda a sequência introdutória, por exemplo, é um grande prólogo bastante previsível, seja pelo constante reforço na inexperiência dos personagens ou pela velocidade com a qual escala a situação em que se encontram, na medida em que subestimam o verdadeiro tamanho do furacão que estão caçando. No entanto, apesar da previsibilidade natural desse tipo de início, o qual não buscou, nesse caso, por uma subversão, o toque de terror concedido por Lee Isaac Chung é o que lhe dá impacto, enquanto coloca, desde cedo, a própria natureza como a antagonista de sua narrativa.

 

Mas não para por aí. Mesmo depois de apresentar o trauma com o qual convive a protagonista de Daisy Edgar-Jones, a hesitação em retornar para o trabalho de campo e sua própria relação com o personagem de Anthony Ramos, o roteiro assinado por Joseph Kosinski (história) e Mark L. Smith (escrita) faz questão de acrescentar, nessa equação, mais emoção, com a criação de um triângulo amoroso a partir da inclusão de Glen Powell, novamente replicando, com seu estilo característico, a persona do galã metido.

 

De um simples filme de ação, focado em caçar tornados, logo Twisters se vê como algo além. Essa mescla da temática central com a comédia romântica não só se torna uma oportunidade de explorar seus personagens, e oferecer uma volta por cima ao trauma da protagonista, como também acaba novamente aproveitando de mais uma fórmula, reciclada de forma diferente, qual seja a da formação de uma equipe. É assim que o longa também abraça seu lado científico e político, o primeiro através da tentativa de evitar os desastres – que até se inspira bastante no cinema de Christopher Nolan, com suas explicações minuciosas -, e o segundo em uma crítica óbvia e até piegas aos grandes empresários, que lucram em cima daqueles que perderam tudo, em seu momento de maior vulnerabilidade (algo que não faria diferença ao filme se fosse descartado).  

 

É nesse cenário que a direção de Chung aproveita do carisma de seu elenco, muito bem escolhido, para, no meio de uma ação de proporções catastróficas, densa e caprichada nos efeitos, buscar pelo sentimentalismo de tentar se evitar tragédias, se colocando em meio ao risco para obter dados e salvar terceiros – onde novamente elementos de terror se mostram muito bem vindos.

 

A grande questão, no entanto, é um receio estranho do próprio longa em não abraçar com mais calor a sua veia romântica. O triângulo amoroso deixa o amor fluir no ar (apesar de fácil conhecer antecipadamente a escolha da protagonista), mas nunca recebe, para além de olhares, qualquer demonstração de afeto ou interesse real – e a ausência de um beijo reforça esse ponto.

 

Assim, Twisters é divertido enquanto blockbuster, que sabe aproveitar das fórmulas no qual se baseia com certa originalidade, ainda que toda sua narrativa seja dotada de uma incrível previsibilidade. Talvez se deixasse o amor entre os personagens fluir de verdade, e caso se permitisse sair de sua zona de conforto, se tornaria mais memorável.

 

Avaliação: 4/5

 

Twisters (Idem, 2024)

Direção: Lee Isaac Chung

Roteiro: Joseph Kosinski (história) e Mark L. Smith (escrita)

Gênero: Ação, Thriller, Romance

Origem: EUA

Duração: 133 minutos (2h13)

Disponível: Cinemas

 

Sinopse: Kate Cooper é uma ex-caçadora de tempestades assombrada por um encontro devastador com um tornado durante seus anos de faculdade, que agora estuda padrões de tempestades nas telas em segurança na cidade de Nova York. Ela é atraída de volta às planícies por seu amigo, Javi, para testar um novo sistema revolucionário de rastreamento. Lá, ela cruza seu caminho com Tyler Owens, o carismático e imprudente ícone das redes sociais que se diverte postando suas aventuras de caça a tempestades com sua equipe barulhenta.

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