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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo, de Mauricio Eça (Idem, 2024)

Adaptação de Maurício Eça apela para a literalidade e perde a oportunidade de explorar o amadurecimento da “Turma da Mônica Jovem”.



O trabalho de Maurício de Sousa na criação de “Turma da Mônica” é considerado patrimônio nacional. Durante mais de sessenta anos, o cartunista e sua obra fazem parte de gerações, e a muitos auxiliou na alfabetização, ao gerar interesse pela leitura de suas histórias, tipicamente brasileiras e que conversam com o dia a dia de todos nós.

 

A partir de 2017, o diretor Daniel Rezende concretizou a migração dos quadrinhos e animações para as telas de cinema, ao dirigir as adaptações live-action “Laços”, “Lições” e depois a série.

 

Agora, em 2023, foi a vez de levar aos cinemas a “Turma da Mônica Jovem”, linha narrativa que conta com os personagens já adolescentes, no Ensino Médio, e lidando não só com o amadurecimento, mas também com elementos de fantasia e o sobrenatural.

 

Quando anunciado o projeto e seu título oficial, “Reflexos do Medo”, imaginava um possível coming of age com a turma adolescente, e o medo de crescer e amadurecer. Mas o projeto final parece ter levado o título quase na literalidade, quando toda a narrativa se dedica exclusivamente ao mistério envolvendo o fechamento do museu do bairro do Limoeiro.

 

O roteiro, escrito a seis mãos, e com outras oito na colaboração, apresenta muitas ideias, no início, para desenvolver os tão clássicos personagens, agora em outra fase da vida. É o relacionamento entre Mônica e Cebola, a Ordem dos Cozinheiros de Magali, o interesse de Milena pela ciência, a saudade que Cascão sente do tio, assim como a integração entre o museu e a escola.

 

Mas nada disso parece realmente importar, quando o longa não consegue aprofundar quaisquer desses elementos, os reduzindo a passagens que fingem profundidade onde, na realidade, só servem como isca para o antagonista atingir a turma. Ao mesmo tempo, outras dessas ideias, como o interesse de Milena pela ciência ou a integração do museu com a escola parecem totalmente descartadas (ou esquecidas) ao longo da projeção.

 

Já com relação ao mistério, a tentativa de construir uma mitologia em torno do bairro do Limoeiro e da concretização de uma lenda urbana, que circula no ambiente escolar, soa como algo comum ao dia a dia brasileiro - afinal, que escola não tem suas lendas urbanas? Da mesma forma, o poder do antagonista “cabeça de balde” relacionado à perda da identidade cai como uma luva à adolescência, período do autoconhecimento, do descobrimento do mundo pelo jovem, e da formação da identidade.

 

Mas novamente, tal articulação não se dá de boa forma quando apela em demasia pela literalidade, ao deixar os personagens numa espécie de transe que, no íntimo, pouco revela sobre eles, apenas reforçando as características básicas de cada um, cujas personalidades genéricas apenas servem para diferenciá-los.

 

Muito disto vem fruto da direção de Maurício Eça, que constantemente recorre para a exposição como forma de desvendar os mistérios, e nem mesmo concede espaço para o público juntar as peças. Todas as respostas chegam de maneiras forçadas aos personagens, por sorte e ao acaso, e não prezam pela surpresa ou por uma conspiração, mas sim por algo puramente sobrenatural e simplista (nesse ponto, o próprio personagem de Mateus Solano, apesar de divertido pelo carisma do ator, revela-se descartável à narrativa).

 

E nem mesmo a montagem de Tony Tiger consegue reunir tudo de forma a dar ritmo ao filme. Os focos de tensão estão sempre distribuídos entre os inúmeros arcos, e são constantemente interrompidos por alternâncias entre situações de perigo e de inércia entre personagens em locais diferentes.

 

Apesar da narrativa problemática, é notável, por outro lado, a entrega do elenco à vivência de seus personagens. Há uma boa química entre a turma principal, que compra para si as personalidades que representam em cena, e conseguem transparecer a amizade de anos entre seus personagens, especialmente na parceria de Cebola e Cascão, vividos por Xande Valois e Theo Salomão.

 

“Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo” era uma grande oportunidade de explorar a tão amada turma no amadurecimento da adolescência, mas a sensação que fica é do filme de Maurício Eça se voltar, em demasia, para um público infantil e pra resolução de um mistério superficial, na intenção de construir uma franquia, sem explorar tanto o próprio universo neste filme de estabelecimento. O resultado é morno, de público alvo indeciso, e pouco memorável, se não pelo ótimo trabalho do elenco.


Avaliação: 2/5


Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo (Idem, 2024)

Direção: Mauricio Eça

Roteiro: Regina Negrinim, Sabrina Garcia e Rodrigo Goulart

Gênero: Aventura, Comédia

Origem: Brasil

Duração: 88 minutos (1h28)

Disponível: Cinemas (via Imagem Filmes)


Sinopse: Quando Mônica, Cebola, Magali, Cascão e Milena descobrem que o Museu do Limoeiro será leiloado, decidem se unir para salvá-lo. Enquanto investigam o que está acontecendo, eles se deparam com segredos assustadores do bairro do Limoeiro. 

(Fonte: Primeiro Plano/Imagem Filmes - Adaptado)

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