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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Tudo em Família, de Richard LaGravenese (A Family Affair, 2024)

Em Tudo em Família, a comédia romântica é usada como meio para debater a emancipação familiar.



Em sua superfície, Tudo em Família vende uma proposta semelhante a de Uma Ideia de Você, também deste ano, ao construir-se na base de um romance no qual o o par protagonista possui uma considerável diferença de idade – aqui, cerca de vinte anos separam o nascimento dos personagens de Zac Efron e Nicole Kidman.

 

No entanto, enquanto o outro filme mencionado direciona seus esforços para um drama supostamente realista, que recai sob artifícios absurdos e acaba contradizendo o próprio discurso trabalhando na base da infelicidade do casal e dos problemas envolvendo a relação, o presente filme vai muito além dessa tentativa superficial, quando, a partir da leveza de uma comédia, acrescenta problemáticas que engrossam a discussão para o cerne familiar, e pouco se importa com o que está ao redor – leia-se, paparazzis, a mídia, redes sociais e etc.

 

Não que o filme rejeite os incômodos de uma relação midiática – ele até dá pequenas ênfases no assunto -, mas esse não é o problema central, até porque o casal não é o verdadeiro protagonista da história, apesar de sua parcela. Em sua melhor atuação nos últimos anos, Joey King dá vida à filha da personagem de Nicole Kidman (uma escritora de sucesso), que tenta uma carreira como produtora cinematográfica trabalhando como assistente do grande astro de cinema Chris Cole, vivido por Efron. Não é preciso dizer que quando o relacionamento se inicia, ele vem acompanhado de uma crise familiar.

 

A diferença de idade é um assunto justamente escanteado quando o filme se interessa muito mais pela personalidade dos envolvidos e especialmente pelo embate entre mãe e filha, que apesar de muito próximas, possuem alguns pequenos “elefantes na sala” ainda não resolvidos, como a saudades que a filha sente pelo falecido pai – sentimento compartilhado pela mãe, incentivada a seguir em frente por sua sogra, adoravelmente na pele de Kathy Bates -, e seu orgulho em querer seguir adiante com as próprias pernas, e construir uma rede de contatos sem necessariamente depender do auxílio da mãe.

 

Pode até parecer irrelevante, ou a problemática soar fútil no mar de dificuldades enfrentadas pela humanidade, mas dentro do contexto da obra o sentimento, no fundo, é bastante verossímil – e ao contrário do que se pode pensar, especialmente relevante. Apesar das passagens cômicas, e da excelente comédia física e expressões de Joey King, todo seu arco contém uma maturidade e um comportamento da personagem que é bastante justificável dentro de suas condições. É como uma tentativa de emancipação da jovem adulta para qual passa em relação à família, especialmente sua mãe, através de um orgulho em seguir a carreira escolhida por suas próprias pernas, construir seu próprio entorno, e provar seu valor sem necessariamente precisar, a todo tempo, pedir ajuda, como uma criança que ainda aprende a viver.

 

A direção de Richard LaGravenese estabelece, muito bem, ao longo de sua narrativa, que o problema do casal não são suas idades, que não importam contanto que sejam felizes juntos e consigam se entender, mas uma questão mal resolvida por parte de mãe e filha, cujo relacionamento funciona como catalisador para acelerar a resolução, que acaba usando a questão da personalidade como uma espécie de arma.

 

É engraçado, porém, que ao final de contas a discussão proposta acaba, sem grandes desgastes, terminando bem para todos, e abraçando uma dependência que se pretendia afastar pela emancipação. Por outro lado, porém, é como enxergar uma oportunidade boa demais para ser perdida – sobretudo quando parte do mérito dessa construção se deve à protagonista.

 

Dessa maneira, apesar do desfecho relativamente controverso ao próprio discurso, Tudo em Família chega exatamente onde gostaria, ainda que de forma simplificada em relação à jornada que desenvolve, terminando bem para todos (como em uma boa comédia romântica).

 

Avaliação: 4/5

 

Tudo em Família (A Family Affair, 2024)

Direção: Richard LaGravenese

Roteiro: Carrie Solomon

Gênero: Comédia, Drama, Romance

Origem: EUA

Duração: 111 minutos (1h51)

Disponível: Netflix

 

Sinopse: Zara trabalha para Chris Cole, um ator narcisista e prepotente, que destrata todos ao seu redor. E quando decide abandonar seu emprego, fica furiosa ao descobrir que ele está saindo com sua mãe.

(Fonte: Google - Adaptado)

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