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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | The Killer, de John Woo (Idem, 2024)

Na refilmagem de seu próprio filme, John Woo prova que ainda consegue reinventar seu cinema e se moldar às tendências dos dias atuais.

 


A notória carreira de John Woo é composta por diferentes ciclos, entre Hong Kong, a China e os Estados Unidos. Em cada época, as transformações em seu estilo nos permitiram delimitar as contribuições que fizera ao cinema de ação norte-americano, que hoje encontra-se no patamar em que está, pois muito Woo já fazia, de outras maneiras, nos anos 80 e 90. E o que mais impressiona é a capacidade do diretor em se reinventar a cada novo filme.

 

De fato, a última década foi bastante decadente ao cineasta, que após muitos anos nos Estados Unidos, voltou para a China no final dos anos 2000 e dirigiu o grande épico Red Cliff, dividido em duas partes. Os filmes que sucederam este grande triunfo, no entanto, foram marcados por um nebuloso momento na zona de conforto (com os fracos The Crossing e Menhunt), repletos de vícios estilísticos. No entanto, com Silent Night, no ano passado, Woo ressurgiu nos EUA com sua resposta à era “John Wick” e suas influências no cinema de ação do país, e agora, menos de um ano depois, nos presenteia com mais um grande projeto.

 

E The Killer não é apenas mais um filme em sua filmografia, mas uma refilmagem, trinta e cinco anos depois, de um de seus maiores clássicos, o longa homônimo, filmado em Hong Kong e lançado em 1989.

 

O mais interessante, e minha maior curiosidade, seria o como John Woo pretendia lidar com o filme, se com uma nova visão, ou optando por um remake “plano-a-plano” da versão anterior. E sua decisão foi mais do que acertada, na proposta de subverter diversos elementos do clássico dos anos 80, em busca de uma teia de personagens e relacionamentos mais complexa, e uma narrativa mais ágil, voltada essencialmente ao thriller e à ação, que aposta em reviravoltas e no estabelecimento de relações passado-presente, como num filme de Guy Ritchie.

 

Com isso, o roteiro assinado por Brian Helgeland, Josh Campbell e Matt Stuecken optou por sacrificar o romance em prol da narrativa criminal, muito mais interessada na justiça e na relação que há entre Nathalie Emmanuel e Omar Sy. De certo modo, não parece que essa remoção do romance foi combinada ou talvez bem aceita por Woo, que utilizou de sua câmera para explorar nos olhares uma tensão sexual que o texto não acompanha, e acaba apenas insinuada, mas nunca aproveitada pelo corpo da obra – o que poderia ser a grande cereja desse bolo.

 

Mais do que isso, o diretor desenvolve seus protagonistas através de rimas visuais, que além da relação que possuem no grande jogo de gato e rato entre assassina e policial, usando da semiótica para, a todo tempo, cruzar suas trajetórias indicando-lhes o mesmo destino a partir de caminhos distintos.

 

No meio disso, Woo encontra espaço para trabalhar com a ação em moldes muito parecidos com a época de seu auge, através de coreografias exageradas, violência gráfica (embora em menor quantidade quando comparado aos longas de Hong Kong), e novamente uma ênfase no olhar, agora nas relações tanto de antagonismo quanto entre os protagonistas, com destaque aos minutos finais e também a uma grande sequência no meio do filme, situada em um hospital que homenageia um de seus melhores filmes, Hard Boiled (1992), que puxa junto consigo a impiedade dos vilões para com os civis ou demais personagens em tela.

 

Dessa forma, The Killer é um grande exercício de John Woo para demonstrar sua vitalidade e a manutenção de sua inventividade como diretor, ainda mais diante de uma refilmagem de seu próprio filme. Desapegado do material base, e aberto a novidades, é um longa que se amolda muito bem à dinâmica de agilidade do cinema atual – sobretudo tendo em vista os streamings, a necessidade de reviravoltas e o interesse por tramas “elaboradas” por parte do público, que se tornou tendência no mercado. Ainda assim, trabalha livremente com seu estilo, numa espécie de retorno aos seus melhores dias, trazendo de volta elementos bregas e tradicionais de seu cinema, como a trilha melodramática dos tempos de Hong Kong (dessa vez muito bem composta por Marco Beltrami), as pombas brancas voando, motos explodindo, e claro, as duas “Berettas” nas mãos da protagonista, disparando infinitamente contra os vilões.

 

Então, sem receios, posso dizer que esta refilmagem de The Killer é John Woo na sua melhor forma, em pleno 2024, e beirando os oitenta anos de idade.

 

Avaliação: 4/5

 

The Killer (Idem, 2024)

Diretor: John Woo

Roteiro: Brian Helgeland, Josh Campbell e Matt Stuecken

Gênero: Ação, Thriller

Origem: EUA, Canadá, Coréia do Sul

Duração: 126 minutos (2h06)

Disponível: Prime Video

 

Sinopse: Zee é uma temida assassina profissional conhecida como “a Rainha dos Mortos”. Quando ela se recusa a assassinar uma jovem cantora, ela se vê caçada por colegas criminosos. Seu pequeno erro, porém, também atrai a atenção de um astuto investigador policial, que pode ser um aliado útil.

(Fonte: AdoroCinema - Adaptado)

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