The Acolyte ainda se encontra muito preso às fórmulas da Disney, ainda que se entregue com certa liberdade às suas influências.
Há tempos que eu havia abandonado o universo de Star Wars, após a criação do streaming da Disney. Apesar de quando criança nunca ter me interessado pela franquia de George Lucas, quando adolescente, por influência – e incentivo – de meu pai, devorei os seis primeiros filmes em questão de uma semana, e com os episódios VII e VIII, no cinema, meu gosto cresceu ainda mais.
Mas assim como sinto com as produções da Marvel, a enorme quantidade de séries no Disney+ lançadas anualmente saturam aquilo que outrora era aguardado, como as novas histórias de Star Wars. Além disso, o posicionamento protecionista e engessado da empresa impede também que as próprias obras prosperem por caminhos próprios, quando seus sets hiper controlados por executivos barram qualquer traço de autenticidade que lhes possa parecer arriscado.
Tendo apenas assistido a primeira temporada de The Mandalorian (e abandonado a série na segunda), algo me chamou atenção em The Acolyte. Não sei se pela sinopse, que sugeria uma veia investigativa mais acentuada, o clima inicialmente propõe crimes envolvendo a Ordem Jedi, com o assassinato espontâneo de alguns membros, e cuja suspeita recai em uma ex-padawan, que nunca integrou a instituição e agora trabalha consertando naves, a qual ao mesmo tempo que parece desnorteada com a acusação também possui motivos para uma vingança pessoal, assim deixando dúvidas a respeito de sua confiabilidade.
No entanto, é algo que se restringe apenas aos dois primeiros episódios, nos quais, resolvido o primeiro mistério, e estabelecida a situação com a qual de fato a série irá trabalhar, já descamba novamente na fórmula Disney padrão de escrita, freando a narrativa com episódios inteiros dedicados a flashbacks, e uma grande ameaça vilanesca por trás de tudo.
Por um momento, é frustrante o abandono da proposta investigativa com tanta facilidade, quando as respostas sempre chegam rapidamente até os personagens sem grande esforço, e toda a continuidade parece dotada não de naturalidade, mas de uma grande mão acima de tudo, controlando as peças como um jogo facilmente manipulável, estendendo e encurtando caminhos quando conveniente. Não à toa existem passagens e personagens que, apesar do destaque, mereciam maior aprofundamento, e claro exemplo disso é o Mestre Sol, interpretado pelo ótimo ator sul-coreano Lee Jung-jae, especialmente nos episódios dedicados ao passado, a chave para toda a temporada e o arco inicial das irmãs protagonistas, bem vividas por Amandla Stenberg.
Tais episódios, apesar de centrais, são também um dos elos mais fracos de The Acolyte (especialmente o terceiro, focado nas crianças) enquanto genéricos e curtos demais para explorar eventos, em tese, tão complexos e relevantes para os envolvidos, e mais ainda, para toda a continuidade dos eventos futuros de Star Wars. Não que falte sensibilidade à direção de Kogonada (responsável pelos episódios 3 e 7) na forma como filma as reações e impactos aos personagens, mas falta criatividade na maneira como escritos, que não se diferenciam de tantas outras situações semelhantes em tantos outros filmes de heróis do estúdio.
E esse é um problema que se estende para toda a estruturação da temporada, que tem dificuldade em trabalhar saltos temporais e mais ainda manter a continuidade dos eventos sem o tempo todo precisar recorrer a explicações artificiais ou maneiras de atrasar o próprio desenvolvimento para se estender durante mais temporadas no futuro. O pior é, ao que tudo indica, esses problemas se manterão para a temporada seguinte, cujo caminho indicado sugere mais flashbacks e os mesmos tipos de conflitos, agora voltados entre dois outros personagens.
Mas no fundo, as intenções de The Acolyte são boas enquanto se desprende, mas nem tanto, de referências canônicas vazias, ao se passar cerca de cem anos antes do Episódio I, e buscar por uma origem aos Sith. Enquanto isso, coloca a respeitabilidade dos Jedi em cheque a partir da impossibilidade humana de controlar as emoções, e até da início, superficialmente, a uma interessante discussão político-administrativa acerca da possibilidade de controle externo da Ordem pelo Senado (algo que, vindo de Disney, dificilmente procurarão se aprofundar em, infelizmente).
Ainda, a inspiração nos wuxia chineses e cinema asiático para coreografar a ação serve muito bem para algumas lutas de sabre, ainda que haja uma certa resistência em abraçar de fato essa influência, ao ponto de permear toda a temporada. E esse é um reflexo concreto do que é The Acolyte, uma série com boas ideias e uma proposta com potencial, mas que por vezes tem receio demais de buscar pelo diferente, e acaba esquecida como apenas mais uma no mar de séries de Star Wars.
Avaliação: 3/5
Star Wars: The Acolyte – 1ª Temporada (Idem, 2024)
Criação: Leslye Headland
Gênero: Ação, Drama, Ficção-científica
Origem: EUA
Duração: 8 episódios - 40 minutos em média cada episódio
Disponível: Disney+
Sinopse: a investigação de uma impressionante onda de crimes coloca um respeitado Mestre Jedi contra uma perigosa guerreira de seu passado. À medida que mais pistas surgem, eles são levados a um caminho sombrio, no qual as forças sinistras revelam quem nem tudo é o que parece, colocando em xeque a estabilidade do universo. (Fonte: Disney - Adaptado)
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