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CRÍTICA | Sing Sing, de Greg Kwedar (Idem, 2024)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 14 de fev.
  • 3 min de leitura

Sing Sing reinterpreta o estabelecimento prisional, e encontra no teatro a oportunidade de ressocialização.



Até mesmo pelo eixo temático, creio que a primeira referência que vem à mente enquanto assistimos à Sing Sing é o clássico Um Sonho de Liberdade (1994), dirigido por Frank Darabount. Não são exatamente filmes parecidos, mas ambos compartilham de um interessante diálogo que propõem acerca do espaço “prisão”. Enquanto muitos filmes a retratam como um lugar hostil e sem possibilidades de aprendizado, desenvolvimento pessoal e quem sabe até redenção, ambas as obras tratam de desconstruir essa ideia a sua própria forma, através de personagens “fora da caixa” o suficiente para imporem um ar diferente, e quem sabe até mesmo libertador, ao confinamento.

 

O protagonista vivido por Colman Domingo, a persona real de John ‘Divine G’ Whitfield, é um homem cuja mentalidade encontra-se a frente do sistema prisional, e de seus demais colegas detentos. Como parte do processo de ressocialização, ele encontra espaço em sua dedicação aos projetos sociais enquanto encarcerado, para, ajudando o próximo, talvez ajudar a si mesmo.

 

Seu caso é de um homem que luta para provar a própria inocência. Conhecedor do sistema, otimista e crente nas possibilidades de consertar sua vida frente à prisão, Divine G fundou o grupo de teatro (chamado de RTA) como forma de, através da exploração de outras realidades, e estando na pele de outras pessoas, encontrar um propósito. É algo que o filme demonstra ir muito além de seu personagem, mas uma chance para todo homem ali refletir acerca de si e aprender a trabalhar com os próprios sentimentos e sensações, por meio da arte, em uma oportunidade de esquecer as tragédias das próprias vidas em prol do desenvolvimento de outras habilidades, e da saída temporária do espaço presente.

 

Baseado no livro de John H. Richardson, "The Sing Sing Follies", todo o roteiro foi trabalhado à base de uma pluralidade narrativa, a começar por sua construção, cuja história foi escrita à oito mãos (Clint Bentley, Greg Kwedar, Clarence 'Divine Eye' Maclin e o próprio John ‘Divine G’ Whitfield), e retrabalhada por Kwedar e Bentley. Normalmente, tantas pessoas escrevendo juntas pode dar ensejo a um pé atrás, frente a possibilidade de um conflito criativo, mas provavelmente este foi um trunfo por aqui.

 

Pois Sing Sing não é a história de um homem só – tanto que sua vida para além da prisão nem sequer é muito abordada -, mas de como o mesmo influenciou, positivamente, a tantos outros. Mesmo que haja a assunção do protagonismo por parte de Divine G, o conflito com Divine Eye, no centro de sua jornada, é como um reflexo de tudo aquilo que o protagonista defende, incondicionalmente, todos os dias enquanto participa e de certa forma administra o RTA.

 

Nesse sentido, a direção de Greg Kwedar usa sua câmera para uma ênfase neste trabalho coletivo que se estabelece dentro do recorte que faz daquela prisão, reinterpretando o estabelecimento com elementos que possibilitam, e fomentam, a crença de que a ressocialização é possível – e a arte é um dos meios.

 

Prova de que o discurso do longa é real está estampado no elenco e equipe, composto majoritariamente por não-atores profissionais, ex-prisioneiros do sistema norte-americano (incluindo o próprio Divine G, que faz uma participação; Divine Eye e tantos outros), que através do programa de teatro, reaprenderam a lidar com as próprias vidas, levando os ensinamentos para fora, quando libertos, sem retornar ao mundo do crime.

 

Com isso, toda a narrativa e a mensagem de Sing Sing restam sedimentadas, diante de tantas provas concretas de que, de fato, é possível conseguir a ressocialização nos presídios através de bons e eficientes programas. É sobre dar a oportunidade que muitos nunca tiveram de conhecer melhor a si próprios, e usar das próprias habilidades para propagar o melhor para a sociedade afora, como um bom membro de uma comunidade.

 

Avaliação: 4/5

 

Sing Sing (Greg Kwedar, 2024)

Direção: Greg Kwedar

Roteiro: Clint Bentley, Greg Kwedar, Clarence 'Divine Eye’ Maclin e John ‘Divine G’ Whitfield, adaptado de John H. Richardson (livro)

Gênero: Drama

Origem: EUA

Duração: 107 minutos (1h47)

Disponível: Cinemas (via Diamond Films)

 

Sinopse: Divine G, preso na penitenciária de Sing Sing por um crime que não cometeu, encontra um propósito ao atuar em um grupo de teatro ao lado de outros homens encarcerados nesta história de resiliência, humanidade e o poder transformador da arte. (Fonte: IMDB - Adaptado)

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