O segundo longa de Emerald Fennell reforça seu estilo em uma provocativa comédia excêntrica.
Depois do grande sucesso de “Bela Vingança” em 2020, a carreira da atriz Emerald Fennell como diretora começou com o pé direito. Sua maneira ácida de expor o machismo de uma sociedade a partir do olhar da vítima é até hoje fonte de debates, especialmente por fazer com êxito e elegância aquilo que no cinema, como arte, há de melhor: incentivar a nos colocar no lugar do próximo e enxergar o mundo com outros olhos.
Três anos depois, a cineasta retorna com “Saltburn”, um filme que, assim como o anterior, também chegou fazendo barulho, mas não pela unanimidade, e sim por sua recepção divisiva desde sua estreia no Festival de Veneza.
E não é de surpreender que “Saltburn” gere opiniões tão diametralmente diversas. Seu teor de provocação e incômodo são os alicerces de sua narrativa.
Desde o início, a direção de Fennell nos dá indícios de alguma estranheza naquela história melancólica e repleta de excentricidades. A forma como posiciona sua câmera, sempre com planos ambíguos, nos induz a um olhar de inocência para a amizade de dois jovens universitários, envolta de uma forte energia sexual.
A medida que avança, porém, a inocência aos poucos se transforma. A atmosfera, antes quente e intensa, vai se tornando fria, sarcástica, e, ao final, macabra.
A mansão Saltburn, com seu suntuoso estilo vitoriano, se torna palco de uma tragédia muito bem aproveitada pela fotografia de Benjamin Kracun, que capta, na forma da residência, exatamente o vazio existente em toda a superficialidade de seus residentes e frequentadores, endinheirados, soberbos, autoindulgentes e, no fundo, indiferentes em relação ao próximo.
Tais características são demonstradas na relação entre a família Catton com o personagem de Barry Keoghan, quando a direção nos imerge em situações de desconforto verborrágicas potencializadas pela montagem, que acelera a discussão com seus diversos cortes e pesar na atmosfera do momento.
No entanto, enquanto os dois primeiros atos nos levam a uma viagem de excentricidades e luxúria no mundo da indiferença, o terceiro ato caminha na direção oposta ao nos revelar o que o filme escondia desde seus primeiros minutos.
E tais reviravoltas, tão aguardadas pela diretora na construção de sua narrativa, são talvez aquilo que enfraquece seu filme, pois percebe-se que tudo se encora nessas revelações. E isso torna-se claro quando, em seus últimos minutos, retoma todos os seus pontos de manipulação, impossíveis de serem desvendados ao longo da projeção. Se ao menos fossem possíveis de serem verificados, e apenas mencionados, seria uma interessante oportunidade de nos incentivar a revisitar a obra em busca desses pontos e de uma nova visão. Mas não. A diretora prefere aliar o monólogo final a imagens, retomando todos os acontecimentos sob o ângulo real.
Ao menos, em meio a toda a proposital superficialidade de “Saltburn”, a cena final encerra o longa em grande estilo, e corrobora, com eficiência, tudo o que foi desenvolvido até então, e o vazio interior reina naquela residência.
Avaliação: 4/5
Saltburn (Idem, 2023)
Direção: Emerald Fennell
Roteiro: Emerald Fennell
Gênero: Thriller, Comédia, Drama
Origem: EUA, Reino Unido
Duração: 131 minutos (2h11)
Disponível: Prime Vídeo
Sinopse: Lutando para encontrar seu lugar na Faculdade de Oxford, um aluno é atraído para o mundo de um encantador aristocrata, seu colega de classe, que o convida para Saltburn, a enorme mansão de sua família excêntrica, para passar um verão inesquecível.
(Fonte: IMDB - Adaptado)
Parabéns pelo blog, sucesso!!!!!