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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Rivais, de Luca Guadagnino (Challengers, 2024)

Os Rivais de Luca Guadagnino falam sobre tênis, mas referem-se às próprias relações, em um excelente thriller romântico que exala tensão – e tesão.



As habilidades do cineasta italiano Luca Guadagnino vão muito além do mero saber de contar histórias, mas em como aproveita seu potencial imagético enquanto transporta as sensações da narrativa para o espectador. Nesse sentido, Me Chame Pelo Seu Nome poderia ser apenas um filme de romance esquecível se não fosse pela construção pacienciosa do romance entre Elio e Oliver, com o diferencial de compreendermos o olhar de um sobre o outro; ou Suspiria seria só mais uma refilmagem de um clássico do terror, se não fosse pela proposta diferenciada do diretor, que sobretudo reverencia elementos do original ao seu próprio estilo.

 

E só o roteiro de Rivais, escrito por Justin Kuritzkes, não bastaria se a direção responsável não aproveitasse o potencial da narrativa enquanto um romance. Afinal, estamos diante de um filme, essencial e superficialmente, sobre tênis, onde cada diálogo a respeito do esporte é dotado de um duplo sentido, no qual se fala também sobre o triângulo amoroso formado entre os personagens de Zendaya, Josh O’Connor e Mike Faist.

 

A relação entre eles é poucas vezes discutida através de palavras soltas e diretas a respeito do assunto. Na maior parte do tempo os relacionamentos são debatidos através de metáforas envolvendo o esporte, propostas negociais, treinamentos, e se fortalecem a partir de sua linha narrativa não linear.

 

Essa não linearidade não funciona apenas como forma de surpreender o espectador, seu uso mais comum por muitos roteiros, filmes e cineastas, que a subjugam como apenas como sendo um recurso fácil para criar reviravoltas. Sua função e importância em Rivais se encontra para além disso, ao distribuir os eventos de treze anos a partir de diferentes pontos de vista. São nessas idas e vindas que elementos são estabelecidos de forma a construir a linguagem do filme, a partir de sinais dos personagens, peças de roupa, gestos, cores e até mesmo a própria trilha sonora. Essa linguagem não se limita a ideia da linguagem cinematográfica em si, mas vem em um duplo sentido, ao referir-se também ao “idioma” que o próprio filme utiliza para estabelecer a tensão que existe em seu ambiente.

 

Esse clima denso, repleto de situações mal resolvidas e sentimentos à flor da pele, é reforçado pelo brilhantismo da trilha sonora composta pela dupla Trent Reznor e Atticus Ross. É a partir da trilha que a relação criada por Guadagnino entre o jogo de tênis e o amor torna-se ainda mais intensa, a partir de seu uso durante as partidas e nos momentos românticos que envolvem os personagens, cuja montagem assinada por Marco Costa faz questão de comparar.

 

E é com o mesmo olhar que o diretor filma tanto a sedução e os momentos de intimidade quanto o próprio esporte. É a ênfase no toque, nas delicadezas da gesticulação e na simbologia das ações estabelecidas pelo filme que Guadagnino constrói pensamentos sem precisar recorrer às palavras. Sua câmera não filma nada em vão, e menos ainda o faz pelo mero valor estético. Tudo o que é mostrado na tela tem sua razão para ser, especialmente quando utilizado para rimar situações ao longo da narrativa, e tornar a rivalidade do grande jogo, de, em tese, baixo valor classificatório, ainda mais pessoal, tenso e relevante.

 

É por isso que Rivais conhece e aproveita de seu próprio valor. Ao contrário de alguns filmes com temática esportiva que renegam o esporte, o filme de Luca Guadagnino o utiliza para desenvolver seu objeto central. Não apenas através dos diálogos, mas os jogos são dotados de uma liberdade estética que faz sentir a criatividade do diretor, sobretudo através da excelente fotografia de Sayombhu Mukdeeprom, a qual permite o espectador compreender o jogo que acontece na quadra, seu desenrolar e sobretudo a tensão que existe em seu valor para os envolvidos, tanto na relação vencedor-perdedor quanto sexual que exala deste triangulo amoroso.

 

Avaliação: 5/5

 

Rivais (Challangers, 2024)

Direção: Luca Guadagnino

Roteiro: Justin Kuritzkes

Gênero: Thriller, Romance

Origem: EUA, Itália

Duração: 131 minutos (2h11)

Disponível: Cinemas (via Warner Bros. Pictures)

 

 

Sinopse: Tashi, uma jogadora prodígio do tênis que virou treinadora, transformou seu marido em um campeão. Mas para superar uma sequência de derrotas, ele precisa enfrentar seu ex-melhor amigo e ex-namorado de Tashi. (Fonte: IMDB – Adaptado)

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