top of page
Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Rebel Ridge, de Jeremy Saulnier (Idem, 2024)

Rebel Ridge parte de uma situação óbvia em direção à originalidade, com o desenrolar de uma ação que evita ao máximo a violência.



Curiosamente, Rebel Ridge é o segundo filme original Netflix neste ano de 2024 a abordar a temática da corrupção e da violência policial em pequenas cidades a partir da pele de um ex-militar norte-americano, inicialmente subestimado e, posteriormente, temido quando se torna uma ameaça ao ilegal – e para alguns, muito benéfico - sistema vigente no local.

 

No entanto, ao contrário do fraquíssimo Alerta de Risco (que já tem crítica por aqui), o qual adota todos os caminhos mais genéricos para chegar no resultado mais óbvio e previsível, como um notável descarte do estúdio, e adição de catálogo do streaming, Rebel Ridge vai justamente na contramão, enquanto um filme de ação que, a princípio, rejeita o conflito a qualquer custo.

 

Essa é a mentalidade para a qual somos introduzidos quando conhecemos o protagonista Terry, vivido por Aaron Pierre, que demonstra imensa versatilidade na construção de uma persona introspectiva e modesta, cuja inexpressividade facial, proposital à composição, é compensada pelo olhar profundo e pesaroso, explorador de seus sentimentos, que veem na força física um uso desnecessário e desarrazoado para a resolução de problemas.

 

No entanto, à medida em que a violência da parte contrária se mostra uma constante no jogo de forças, e cada passo dado em frente ativa um gatilho diferente, aos poucos a proposta inicialmente pacifista vai mudando de forma, ao ponto de justificar a ação através de uma resposta não letal, mas contundente o suficiente para lidar com a situação na medida do possível, e, mais ainda, atuando como uma via de mão dupla, enquanto assegura a segurança dos protagonistas ao mesmo tempo que faz justiça a todos que foram vitimados e não tiveram a mesma oportunidade de responder ao sistema.

 

O que permite a todas as engrenagens de Rebel Ridge funcionarem, então, de forma tão harmoniosa é, em grande parte, devida à Jeremy Saulnier, através do texto que se atém ao caso concreto, e extrapola muito pouco às beiradas, apenas na medida do necessário para conhecermos e podermos nos aproximar de Terry e Summer (AnnaSophia Robb), outra vítima do esquema, porém de outra maneira, em até maior posição de vulnerabilidade; da mesma forma que não busca por motivações profundas ou explicações em demasia ao olhar antagonista, senão por razões fúteis envolvendo dinheiro, em um complexo esquema jurídico trabalhado e desenvolvido com cuidado e atenção aos detalhes, inclusive da lei e administração municipal.

 

Da mesma forma, a direção de Saulnier reforça essa ideia da vulnerabilidade do cidadão frente ao sistema corrupto elaborado às margens e lacunas da lei, ao nunca deixar os policiais a sós em cena, enquadrados em duplas ou ao menos um mesmo homem em mais de um ponto do plano, como no reflexo dos espelhos, em uma forma onipresente, tal como a corrupção arraigada. E quando parte para a ação, dá ênfase na dor dos impactos físicos, do herói humano tentando fazer o certo, e também dos antagonistas, ancorado justamente na não letalidade dos combates como a força matriz de um personagem efetivamente heroico, ainda que agindo e defendendo seus direitos e interesses.

 

Pode até ser que a partir de certo ponto, Rebel Ridge se arraste um pouco, mas suas quase exatas duas horas de duração valem justamente pela imersão oferecida por um thriller policial que rompe com a tradicional lógica de Rambo e tantos outros, traçando um caminho mais original e transformando uma situação de fácil resolução em uma grande bola de neve, que amarra e puxa seus envolvidos de forma a se tornar praticamente impossível de sair ileso. É uma ótima reinvenção de bases óbvias e batidas, discutindo temas recorrentes sob outra abordagem, na proposta da não violência, e ainda assim com tensão de sobra.

 

Avaliação: 4.5/5

 

Rebel Ridge (Idem, 2024)

Direção: Jeremy Saulnier

Roteiro: Jeremy Saulnier

Gênero: Thriller, Ação

Origem: EUA

Duração: 131 minutos (2h11)

Disponível: Netflix

 

Sinopse: Um ex-fuzileiro naval se vê em meio a uma rede de corrupção em uma cidade pequena quando uma tentativa de pagar a fiança de seu primo se transforma em um violento confronto com o chefe de polícia local.

(Fonte: IMDB)

1 visualização0 comentário

Comments


bottom of page