Em “Os Rejeitados”, Alexander Payne mostra que, no fundo, todos somos complexos. E para sabermos disso, basta ouvir o que o outro tem a dizer.
O ser humano é um animal institivamente julgador. Adoramos olhar para as pessoas ao nosso redor e delas tecer conclusões precipitadas, baseadas meramente em nossos sentidos, seja visual, auditivo ou até no olfato. Mas o que pouco procuramos fazer é nos aprofundar nos outros, para estabelecermos conclusões mais apuradas de nossos julgamentos. Na realidade, isso nem sequer importa, na maioria das vezes – e muito deveria.
Em “Os Rejeitados”, ao direcionar nosso olhar para a escola de elite Barton, Alexander Payne inicia sua narrativa externalizando os sentimentos de seus personagens uns pelos outros, passeando com sua câmera pelos corredores do colégio despretensiosamente, colocando-nos como testemunhas daquele final de semestre, dos ânimos para as férias e das tradicionais rixas entre os alunos. Concluímos, inicialmente, pelo quão infelizes são, aparentemente de barriga cheia – afinal, são jovens vindos de famílias endinheiradas, estudantes de uma das melhores escolas do país.
No entanto, ao longo de sua obra, o diretor, dando vida ao roteiro de David Hemingson, busca nos mostrar a origem das questões que circundam seus protagonistas. A partir desse ponto, é interessante o longa não negar o fato de serem todas pessoas difíceis de lidar (e quem não é?), e nos estimula a observá-los com compaixão.
Mesmo com origens diferentes, o rígido professor, vivido magistralmente por Paul Giamatti, e o adolescente revoltado, vivido por Dominic Sessa, em sua estreia no audiovisual, tem em comum o abandono e a solidão. Ambos compartilham da mesma amargura de estarem sozinhos no Natal, em uma escola vazia, junto com Mary, a cozinheira interpretada por Da'Vine Joy Randolph, uma mãe enlutada, também solitária.
Quando por fora parecem todas pessoas fúteis e que desperdiçam as vidas olhando para o passado ou brigando, nos aprofundamos em seus corações, quando se abrem umas para as outras. Toda a tristeza e angústia ganham significado na sinceridade com a qual relatam os fantasmas que pairam em seu entorno e desabafam aquilo que dentro as corrói.
É quando Payne nos mostra que julgar pela superfície é fácil, mas olhar para as pessoas e ouvir o que elas têm a dizer, do fundo dos corações, é difícil – e sobretudo, raro. Por isso precisamos nos esforçar para compreender as pessoas, ouvir mais e julgar menos. Nem sempre as coisas são o que parecem ser, e muitas vezes não sabemos pelo que o outro está passando. É por isso ser tão importante para a vida compreendermos a profundidade e as diferenças de cada um. Entendido isso, tudo se torna mais leve e justo, para conosco, e para os outros.
Avaliação: 4.5/5
Os Rejeitados (The Holdovers, 2023)
Direção: Alexander Payne
Roteiro: David Hemingson
Gênero: Comédia, Drama
Origem: EUA
Duração: 133 minutos (2h13)
Disponível: Cinemas (via Universal Pictures)
Sinopse: Um professor rabugento de uma escola interna da Nova Inglaterra é forçado a permanecer no campus durante as férias de Natal para cuidar de alunos que não têm para onde ir. Eventualmente, ele forma um vínculo improvável com um deles – um jovem inteligente e encrenqueiro, com problemas familiares - e com a cozinheira-chefe da escola, que acabou de perder o filho na Guerra do Vietnã. (Fonte: IMDB - Adaptado)
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