Os Quebra-Nozes segue à risca uma fórmula batida, no retorno de Ben Stiller em comédia natalina divertida, mas esquecível.
Já há alguns anos afastado das câmeras do cinema, Os Quebra-Nozes, de certa forma, marca o retorno de Ben Stiller à atuação – que, ultimamente, tem se dedicado exclusivamente à produção, entre o cinema e a TV. Com sua volta, confesso que este filme me reviveu um sentimento bastante peculiar, uma espécie de gostinho da infância, quando sentava com meus pais para assistir à leves comédias familiares, e muitas delas protagonizadas justamente por Ben Stiller.
Perfeitamente ajustado ao clima natalino, o filme, que abriu o Festival de Toronto deste ano, resgata aquele tipo de comédia “good feeling”, muito popular nos anos 1990 e 2000, cujo desfecho sabemos bem qual será, mas ainda assim nos importamos o suficiente com os personagens para acompanhar sua trajetória até o final. Pelo menos, essa é a proposta.
Não que Os Quebra-Nozes seja um filme que não consegue tal feito, mas existe uma dificuldade muito grande por parte do roteirista Leland Douglas em fugir dessa obviedade. É aquela coisa, não é porque o desfecho é sabido e previsível que o caminho até ele também precise ser. É plenamente possível enxergar as boas ideias e até o próprio sarcasmo inerente ao protagonista de Stiller, em lidar com seus sobrinhos que mal conhece de maneira repentina, e sobretudo diante da possibilidade disto lhe custar seu emprego – no qual ele é bom, e muito bem remunerado.
Essa conexão, no entanto, se materializa sem necessariamente grandes momentos ou situações marcantes, mas na base de uma convivência cada vez mais harmoniosa e pautada no afeto que sente pelas crianças – tal como sentia pela falecida irmã. Acontece que isso não parece algo tão bem demonstrado, seja pelo texto ou pela direção, deixando muita coisa passar batido, sobretudo pela construção da relação do público para com os personagens.
Afora isso, quando no campo da comédia, David Gordon Green surge como um diretor burocrático, sem muito vigor – ou talvez coragem, depois de seu grande fracasso do ano passado, com Exorcista: O Devoto – de se arriscar no campo visual, seja na construção da quase ausente tensão nos momentos de grandes trapalhadas (vide a cena do presépio), como na própria ironia estabelecida entre os diálogos. Por outro lado, é inegável que haja certa competência no aspecto da comédia familiar e até romântica, e em mais alguns momentos que exigem uma carga dramática mais acentuada, sobretudo pela maneira como dirige as crianças, em seus primeiros trabalhos no cinema, muito bem escalados – e mais, são todos irmãos também na vida real.
A impressão que fica, assim, é de Os Quebra-Nozes ser um filme que não se arrisca e tampouco se preocupa em sair da fórmula básica pela qual se constrói. São muitas boas situações, e uma problemática central promissora, que acabam não muito bem aproveitadas quando não existe qualquer risco, recheado de soluções fáceis e simplórias. Ao longo do tempo, parece faltar diálogo para colocar as questões verdadeiramente complexas à mesa na relação entre o tio e os sobrinhos, compensando com um humor bastante tímido, cuja direção parece receosa de trabalhar e perder o tom.
Apesar disso, não nego que me foi um filme bom para o cansativo dia em que o assisti – foi o suficiente para conseguir relaxar e esfriar a cabeça -, da mesma forma que me trouxe um sentimento nostálgico específico que há tempos não sentia. Mas ainda assim, poderia ser mais, se tivesse coragem – ou vontade - suficiente para tentar fugir da fórmula.
Avaliação: 3/5
Os Quebra-Nozes (Nutcrackers, 2024)
Direção: David Gordon Green
Roteiro: Leland Douglas
Gênero: Comédia, Drama
Origem: EUA
Duração: 104 minutos (1h44)
Disponível: Disney+
Sinopse: Bem quando Mike está prestes a fechar o maior negócio de sua carreira, ele é forçado a trocar sua vida de solteiro na cidade grande por uma fazenda na zona rural de Ohio para ajudar seus sobrinhos que recém perderam os pais a encontrar um novo lar. (Fonte: Disney - Adaptado)
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