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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Os Fantasmas Ainda se Divertem, de Tim Burton (Beetlejuice Beetlejuice, 2024)

Mais de trinta anos depois, Beetlejuice, agora remodelado, retorna às salas de cinema com novas loucuras, em uma sequência que supera o original.



É muito engraçado que Beetlejuice nunca fez parte da minha infância. Talvez seja pela época em que nasci, é claro, uma questão geracional, mas vindo de uma família que sempre me incentivou a assistir filmes e conhecer cinema, especialmente dos anos 70, 80 e 90, esse foi um dos que ficaram de fora do cardápio – até porque é impossível assistir tudo.

 

E o mais estranho foi uma sensação nostálgica que tive com o rolar dos créditos iniciais desta sequência, bastante prazerosa, mas incomum, visto que assisti ao anterior pela primeira vez na última semana, justamente com a intenção de me preparar para este novo, lançado mais de trinta anos depois.

 

E apesar da beleza estética de Burton, no início da carreira, fazer um filme como Os Fantasmas se Divertem em plena década de 80, vejo uma obra que tem muito a dizer, e quer, mas sem saber como, jogando muitas informações na cara do espectador a todo tempo e num tom verborrágico que se torna até cansativo.

 

Agora com mais recursos financeiros, tecnológicos e muito mais experiência, a sequência Os Fantasmas Ainda se Divertem parece ter plena consciência dos problemas narrativos do filme anterior, tanto que tenta amarrar todos os seus inúmeros arcos sob os fios da reconciliação, mas sem deixar de lado toda a construção que se faz em cima de referências já conhecidas, e na repetição, em boa parte, daquilo que já deu certo anteriormente, mas sob novas perspectivas, e na máxima do “mais e maior”.

 

As regras das quais tanto se falava no longa anterior aqui já não mais importam, o que é ótimo enquanto o texto pode descumpri-las e fazer o que bem entender sem precisar ficar procurando por justificativas enfadonhas ou simplesmente ignorar o que foi dito cinco minutos antes, dando asas a loucura sem tanto se prender aos detalhes.

 

Da mesma forma, parece que o universo pós-vida agora até faz um pouco mais de sentido (palavra muito forte vindo de um ambiente com claras influências góticas e sobretudo surrealistas), ou pelo menos o roteiro assinado por Alfred Gough, Miles Millar       e Seth Grahame-Smith sabe aproveitá-lo para além de mais um ambiente maluco típico de Burton, ainda que não faça muita questão de explicar seu funcionamento (e será que precisa?).

 

No entanto, os erros do filme anterior se mantêm, ainda que suavizados neste, enquanto a imensa quantidade de personagens, situações e arcos simultâneos prejudica um desenvolvimento e atenção para que todos tenham espaço – mas que, dessa vez, por outro lado, com mais agilidade e dando asas à loucura de maneira mais constante, acabam sendo também mais dinâmicos e interessantes. Quem paga o pato nisso tudo, para variar, é o próprio Beetlejuice, que apesar do maior tempo de tela na sequência, e da diversão de Michael Keaton em retornar ao personagem, soa apagado em mais um filme que leva seu nome, e, na maior parte do tempo, serve como uma grande muleta para que tudo em paralelo se resolva, sem que ele seja, de fato, o destaque.

 

Inclusive, é curioso – e até dá certa margem à problematização - o como o personagem foi remodelado para esta sequência, já que antes era assumidamente um vilão assediador e pedófilo (afinal, ele tentou se casar com uma criança), e surge dessa vez mais controlado em sua libido, e agora perseguido pela personagem vivida pela excelente Mônica Bellucci, a vilã da vez, que mesmo com uma caracterização impecável e uma primeira aparição amedrontadora, acaba desperdiçada num grande escanteio, e sua existência só se justifica como uma maneira de transformar Beetlejuice num anti-herói.

 

Assim, Os Fantasmas Ainda se Divertem é como uma face mais recente de todos os últimos trabalhos de Tim Burton, um diretor que cada vez mais abraça a loucura – o que é ótimo, ainda mais diante de seu estilo único -, mas tem repetido dificuldades na forma de resolver suas narrativas com mais profundidade, e sem recorrer à artifícios milagrosos; assim como uma preferência à reviravoltas atreladas à relacionamentos românticos e uma predileção pela Jenna Ortega após a excelente colaboração em Wandinha, que inclusive é uma grande reflexão de tudo o que foi apontado. Ao mesmo tempo, é uma ótima sequência ao filme de 1988, retornando com o elenco original com um outro ponto de vista, da maturidade; em como ironiza a arte e sua relação ao capitalismo com ainda mais afinco; e com asas a um mundo ainda mais insano, com direito a outra excelente passagem musical. Enfim, não foram apenas os fantasmas que se divertiram na sala do cinema!

 

Avaliação: 3.5/5

 

Os Fantasmas Ainda se Divertem (Beetlejuice Beetlejuice, 2024)

Direção: Tim Burton

Roteiro: Alfred Gough, Miles Millar e Seth Grahame-Smith

Gênero: Comédia, Terror

Origem: EUA

Duração: 104 minutos (1h44)

Disponível: Cinemas (via Warner Bros)

 

Sinopse: Após uma tragédia familiar, três gerações da família Deetz voltam para casa em Winter River. Ainda assombrada por Beetlejuice, a vida de Lydia vira de cabeça para baixo quando sua filha adolescente acidentalmente abre o portal pós-morte. (Fonte: IMDB)

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