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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Os Estranhos: Capítulo 1, de Renny Harlin (The Strangers: Chapter 1, 2024)

A ambiciosa trilogia de Os Estranhos começa mal, com uma refilmagem sem inspiração do longa de 2008.



O fato de o primeiro Os Estranhos, de 2008, ter supostamente sido baseado em uma memória de infância de seu roteirista e diretor Bryan Bertino tornam seu projeto um tanto mais interessante na medida em que o cineasta fantasia com exagero uma situação que parcialmente (ou possivelmente?) viveu. Diz-se assim pois conta que certa vez uma pessoa estranha bateu em sua porta e perguntou se determinado nome morava ali, tendo ele respondido negativamente – no dia seguinte, foram noticiados vários arrombamentos em casas da região.

 

No entanto, nunca tive boa relação afetiva com o longa, desde que o assisti quando adolescente. Reconheço a ótima atmosfera de terror, mas é um filme que nunca mostra que veio, para além da tensão e angústia da invasão domiciliar imotivada.

 

O retorno da franquia, em uma saga de três partes, seria uma boa maneira de se construir algo novo e original que fugisse da mera premissa que não busca por grandes aprofundamentos nos personagens ou na situação em si, que não pela violência e desespero. No entanto, este primeiro capítulo do projeto conduzido por Renny Harlin mostra apenas a intenção da Lionsgate em transformar este reboot em caça-níqueis baratos.

 

Basicamente o que recebemos neste começo é uma refilmagem do primeiro filme sob uma roupagem que posa de atualizada, com celulares, um carro moderno e redes sociais. Mas nada disso realmente faz parte da narrativa, tendo em vista que os conflitos enfrentados não se relacionam com a época em que se passa – se passa nos dias atuais da mesma forma que poderia se passar nos anos 1950. Todos os elementos tecnológicos são facilmente inutilizados, e os próprios personagens pouco fazem uso deles para comunicação e meios de defesa.

 

Na realidade, toda a construção de Harlin se dá no limite da superficialidade e na falta de algo verdadeiramente original. O casal protagonista pouco interage de verdade para além de frases clichês e conversas tolas, tanto quanto os antagonistas mais se preocupam em assustar e perseguir do que efetivamente atacar.

 

Até certo ponto, é possível aceitar a pretensão dos “estranhos” de assustar o casal antes de partir para a ação, mas da forma como é feito chega a subestimar o próprio espectador, com caminhadas aleatórias e aproximações que os personagens simplesmente não sentem ou sequer percebem (que tênis silencioso é esse que eles usam?). Como se a trilha já não entregasse muito do mistério, antecipando os sustos, ainda é utilizada como claro indicativo de perigo, onde na maior parte do tempo apenas nos indica a perseguição silenciosa, sendo uma regra tão constante que evita possíveis surpresas.

 

Quando os vilões partem para o ataque, o roteiro força os protagonistas a serem tão passivos que chega a irritar o fato de poderem, por diversas vezes, reagir e cessar o perigo, e nunca fazerem. E não há constância nesse quesito, sendo que uma hora atiram em um inocente sem demonstrar qualquer remorso, e noutra, posterior, hesitam em abater um perseguidor por medo de disparar uma arma. Não existe qualquer justificativa para atitudes fracas senão um texto que precisa se estender por mais dois filmes.

 

Nessa intenção de uma trilogia – já finalizada, inclusive, apenas a espera de lançamento -, Harlin deixa inúmeras pontas soltas pelo caminho, como um prólogo insignificante e uma cidade estranha, com pessoas estranhas agindo de formas estranhas que também não possui qualquer aprofundamento neste filme, algo que talvez seja aproveitado nos demais.

 

Assim, Os Estranhos – Capítulo 1 limita-se a fazer o óbvio dentro da franquia, em uma espécie de refilmagem do primeiro longa, que se julga ambiciosa por fazer parte de uma trilogia, mas não faz sequer o mínimo de um longa original – que nem mesmo aproveita a própria violência, bastante discreta para um filme de terror com sua classificação indicativa. Como um péssimo pontapé inicial para uma série de filmes, resta-nos agora esperar pelo que virá nos próximos dois.

 

Avaliação: 1/5

 

Os Estranhos: Capítulo 1 (The Strangers: Chapter 1, 2024)

Direção: Renny Harlin

Roteiro: Bryan Bertino, Alan R. Cohen e Alan Freedland

Gênero: Terror, Thriller

Origem: EUA

Duração: 91 minutos (1h31)

Disponível: Cinemas (via Paris Filmes)

 

Sinopse: Um jovem casal viaja para o campo para começar uma nova vida em outra cidade. Mas quando o carro quebra, eles são forçados a passar a noite em uma isolada casa Airbnb na floresta, onde são aterrorizados até o amanhecer por três estranhos mascarados.

(Fonte: IMDB - Adaptado)

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