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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | O Exorcismo, de Joshua John Miller (The Exorcism, 2024)

Nem Russell Crowe possuído faz a confusa homenagem de O Exorcismo valer a pena.



Guardado e esquecido em uma geladeira, sem conseguir distribuição, desde o ano de 2019, quando foi finalizado, toda a divulgação de O Exorcismo parece tentar surfar na onda de O Exorcista do Papa, de 2023, no qual o ator Russell Crowe, protagonista de ambos os filmes, interpreta o lendário padre Gabriel Amorth. O que aproxima ambos os filmes, no entanto, é a temática e o exorcismo, pois as propostas estão diametralmente afastadas uma da outra.

 

Na verdade, O Exorcismo é um filme com uma história complexa por trás, enquanto levou anos para finalmente ver a luz de uma sala de cinema, com constantes alterações no título, e cujo resultado final certamente passou longe do pretendido pelo roteirista e diretor Joshua John Miller.

 

Apoiando-se na metalinguagem, toda a narrativa se desenrola ao redor dos esforços de um ator decadente, tentando seu retorno à Hollywood após enfrentar o luto e o alcoolismo, enquanto busca se reaproximar da filha adolescente, no set de filmagens de um novo longa de terror, chamado de “The Georgetown Project”, remake de um clássico. Não surpreende que a referência para tanto é O Exorcista, de 1973, dirigido por William Friedkin, não só pelo ambiente de filmagens em si, mas também como uma homenagem pessoal de Joshua John Miller ao pai, o ator Jason Miller, que deu vida ao Padre Karras no original.

 

Tendo como referência as histórias sobre a maldição do set de O Exorcista, a proposta metalinguística, em meio a toda inconsistência do roteiro, acaba por revelar muito mais do que o filme desejava ser, do que ele realmente é, como se O Exorcismo e “The Gergetown Project” fossem duas faces de uma mesma obra. Nessa lógica, é curioso que o próprio longa busca uma definição para si, quando o diretor Peter, vivido por Adam Goldberg, afirma: “trata-se de um drama psicológico envolto na pele do terror”.

 

Acontece que, pelo menos o corte final de O Exorcismo, revela exatamente o contrário. Até existe uma tentativa de construção de drama psicológico, mas cujas questões são tão mal abordadas, através de uma superficialidade gritante, que se torna impossível levar a sério a tentativa dramática de se discutir relações traumáticas, quando na maior parte do tempo a direção de Miller investe seu terror em sustos baratos, que funcionam mais pela trilha aguda (que parece querer estourar tímpanos) do que realmente pela imagem em tela.

 

Todo o processo de possessão do protagonista se manifesta em sequências bastante genéricas, que nem mesmo conseguem aproveitar a relação conflituosa e distante entre pai e filha para aprofundar os traumas entre os personagens, servindo, ao final de contas, apenas como forma de enfraquece-los psicologicamente para justificar a influência do demônio naquela oportunidade. Nada se valoriza para além das características básicas, e até a suspensão da descrença precisa estar ativa, para relevar inverossimilhanças como a resistência de um celular que cai de cinco andares e continua funcionando normalmente.

 

E os problemas do roteiro vão muito além, quando em muitas oportunidades nem mesmo a montagem dá conta de tentar consertar transições que não fazem sentido, como um personagem que se joga da janela de um apartamento e em seguida está no set de filmagens – mais uma vez, é o sobrenatural como justificativa para as próprias falhas.

 

Nesse meio, todo o delicado debate a respeito dos abusos cometidos na Igreja Católica, mesmo com os repetitivos flashbacks, acaba pouco valendo de algo, na medida em que o próprio filme não se interessa em se aprofundar no tema para uma discussão real e contundente – por incompetência ou covardia em tocar na ferida -, da mesma forma que também não se interessa por nenhum dos personagens ao redor, ainda que finja dar-lhes características para não parecem unidimensionais.

 

No fim das contas, nem mesmo a versatilidade de Russell Crowe como vítima de possessão faz O Exorcismo valer a pena, enquanto um projeto desnorteado, que soa inacabado, com grandes pretensões em referenciar – e homenagear – o clássico de Friedkin, é incapaz de propor um debate que possa conduzir com profundidade (ou ao menos coerência), e não aproveita os grandes nomes do seu elenco, a metalinguagem que introduz desde o primeiro minuto, ou ao menos seu cenário, um belo set de filmagens, que poderia render, em sua vazia imensidão, intensos momentos de terror, escanteado até um terceiro ato sem graça, e genérico, como toda a tensão que não consegue construir.

 

Avaliação: 1/5

 

O Exorcismo (The Exorcism, 2024)

Direção: Joshua John Miller

Roteiro: Joshua John Miller e M.A. Fortin

Gênero: Terror, Thriller

Origem: EUA

Duração: 95 minutos (1h35)

Disponível: Cinemas (via Imagem Filmes)

 

Sinopse: Um ator problemático começa a exibir um comportamento perturbado enquanto filma um filme de terror. Sua filha, que está morando com ele depois de ser expulsa de seu colégio interno, se pergunta se ele está voltando aos vícios do passado ou se há algo mais em jogo.

(Fonte: IMDB - Adaptado)

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