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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Morando com o Crush, de Hsu Chien (Idem, 2024)

Morando com o Crush tem uma boa premissa, mas o estilo de humor indeciso afasta seu próprio público-alvo.



Em razão da premissa fácil de Morando com o Crush, identificável desde o título, seus acelerados momentos iniciais se resumem a uma rápida apresentação dos protagonistas para, em menos de cinco minutos de filme, já dar início a seu conflito central. Essa rapidez com a qual o longa começa, por um lado, vai bem ao evitar postergar o que todos já sabem, mas cria, em contrapartida, uma barreira, que se soma à lista de desafios: a criação de uma conexão para com o público.

 

Por sorte, a direção de Hsu Chien contou com um casal de atores carismáticos – a talentosa Giulia Benite, e o experiente na televisão Vitor Figueiredo, fazendo sua estreia no cinema -, que, com sua boa preparação e confortáveis no ambiente do set de filmagens, conseguem compensar essa aceleração em pouco tempo, e recuperar uma falha de conexão dos minutos iniciais através da verossimilhança na qual imprimem em seus personagens. Afinal, a adolescência não é um momento fácil na vida, os primeiros relacionamentos são (ainda mais) dotados de incertezas, e especialmente quando, ocasionalmente, o casal ainda mora na mesma casa, e não pode contar com a ajuda dos pais, que também estão apaixonados.

 

As ideias do roteiro de Sylvio Gonçalves se inspiram em elementos de comédias românticas clássicas, e chega numa premissa que, apesar de não muito original, tem variáveis interessantes de se abordar, sobretudo pela problemática que estabelece. Acontece que existem sérias indecisões, desde os caminhos para o qual deseja seguir, os conflitos que pretende inserir para servir de provação aos protagonistas, e até mesmo as consequências para os atos. Tudo acaba soando artificial demais, e quanto mais o filme sente a necessidade de verbalizar, e não necessariamente de mostrar, mais ele se distancia do espectador, em cuja imagem deposita menos importância.

 

Para que tudo pudesse ao menos funcionar com mais efetividade, seria necessário um estabelecimento maior dos coadjuvantes, por exemplo, o que já não acontece. A montagem de Marcio Papel apresenta os vizinhos sem qualquer sugestão anterior ou ao menos uma ligação com os protagonistas, mas a partir de um corte seco que os mostra como se já os tivéssemos visto antes. E isso é o prelúdio para que fossem usados à conveniência do texto, como uma ameaça mais do que inofensiva ao par, a qual mal surte efeito – pois nada permite que surta -, ou como mera fonte de obtenção de fofoca, através de meios tão absurdos que destoam à proposta do longa através de um humor indeciso.

 

Esse humor se manifesta de maneiras diferentes em relação ao casal e aos demais personagens. Enquanto aos protagonistas serve de maneira natural e sutil, ao estilo clichê, mas efetivo, de uma comédia romântica verossímil, seu aspecto pastelão nos demais momentos faz o público questionar as intenções do filme, pois em um primeiro momento parece que há uma busca pelo público adolescente, enquanto nos demais desvia a atenção do romance para um humor físico que nunca se encaixa, e piadas que miram um público puramente infantil.

 

E quanto mais avança, mais o romance parece perder lugar para situações escrachadas que enfraquecem a narrativa. As problemáticas acabam seguindo por caminhos fáceis, que não aprofundam seus conflitos centrais, e toda uma teia de mentiras e descobertas acabam reveladas de tal forma que não parecem combinar com a personagem que assume um antagonismo, e mais uma vez, todos ao redor apenas endossam a situação sem qualquer consequência ou ao menos se questionar.

 

Dessa forma, Morando com o Crush tem boas intenções enquanto tenta desenrolar uma comédia romântica fofa e carismática, muito por conta de um elenco talentoso, mas se perde quando deixa o romance de lado para mirar em diferentes formas de humor, que mostram não saber para qual público se direcionar, oferecendo estilos conflitantes em uma obra que, ao final, perde parte dos adolescentes com as piadas infantis, e acaba sendo uma premissa melhor no papel do que quando executada.

 

Avaliação: 2/5

 

Morando com o Crush (Idem, 2024)

Direção: Hsu Chien

Roteiro: Sylvio Gonçalves

Gênero: Comédia, Romance

Origem: Brasil

Duração: 88 minutos (1h28)

Disponível: Cinemas (via Paris Filmes)

 

Sinopse: Luana compartilha com seu pai uma curiosa semelhança familiar: eles não têm sorte no amor. Desde que sua esposa faleceu, Fábio nunca mais conseguiu namorar sério, e Luana só tem coragem de observar o seu crush, Hugo , de longe. A sorte dos dois muda quando Fábio se apaixona perdidamente por uma colega de trabalho e planeja morar com ela. Ao mesmo tempo, Luana é convidada para um date com Hugo. Mas a nova namorada de Fábio é a mãe de Hugo! Agora, Luana e Hugo terão que dividir o mesmo teto enquanto lidam com o crush que têm um no outro. (Fonte: Palavra Assessoria - Adaptado)

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