top of page
Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Meu Casulo de Drywall, de Caroline Fioratti (Idem, 2024)

Em Meu Casulo de Drywall, uma morte repentina revela muitos segredos, em um filme com muito a dizer, mas sem espaço para tudo.



Toda a construção narrativa de Caroline Fioratti em seu thriller Meu Casulo de Drywall em muito lembra, e até referencia, a obra-prima de Robert Altman Assassinato em Gosford Park. Claro que as circunstâncias de tempo e espaço se diferenciam, naturalmente, mas a proposta central não deixa de ser parecida: explorar os contornos de uma realidade social a partir de uma morte, cujo elemento do ‘whodunit’ funciona em segundo plano, existindo, de fato, um mistério, mas que não é necessariamente o mais importante, senão uma ferramenta propulsora para movimentar o entorno.

 

A comparação para além da base, no entanto, é injusta enquanto ambos os filmes buscam por caminhos diferentes para a articulação de suas críticas sociais, sendo que Fioratti rejeita o aspecto satírico para aprofundar sua discussão no aspecto dramático de uma juventude infeliz com suas vidas, que mesmo abastadas financeiramente, faltam com uma liberdade desejada – e necessária – pela idade, frente o protecionismo exacerbado de famílias conservadoras que não os compreendem; ou, para outros, a necessidade de acelerar o próprio amadurecimento frente aos cuidados necessários com a própria família, em uma espécie de inversão dos valores.

 

Aos poucos, aquele belo condomínio luxuoso cuja direção faz questão de explorar com seus planos aéreos, registros de câmeras e utilizando de seus espaços como esconderijos se torna uma prisão física aos personagens, enlutados, e que através desse sentimento encontram força para lutar por si, enquanto tem seus segredos revelados pela constante vigilância ao próprio redor – por parte dos adultos, e dos próprios amigos e colegas.

 

A medida em que avança, então, no caminhar entre o passado e o presente – noite do crime e dia seguinte - o estranho quebra-cabeças vai se construindo a partir dos pontos de vista de cada pessoa envolvida, adultos e adolescentes, como duas linhas retas que avançam para frente e a todo tempo se entrelaçam.

 

Entretanto, apesar da duração razoavelmente longa (cerca de 115 minutos), parece que falta tempo para que possamos compreender, como espectadores, os sentimentos e a realidade fática de cada um dos personagens, bastante complexos, sobretudo os jovens, que inclusive possuem mais espaço e tempo de tela.

 

Em alguns momentos, apesar de reveladas as motivações, muitos parecem agir de maneiras inverossímeis ao caso concreto, ainda mais frente à tragédia. É compreensível que a morte de Virgínia (excelentemente vivida por Bella Piero) tenha causado impacto aos seus amigos mais próximos, sobretudo diante das revelações que haviam de serem feitas, mas existe um grau de passividade na noite dos fatos que parece estranha até mesmo para quem com ela tinha desavenças ou demais sentimentos.

 

Não só isso, mas a necessidade de inserção dos temas de abuso, violência doméstica, depressão, e outros soa relevante na composição da realidade que a direção busca se aprofundar, mas enfraquecidos pela abordagem adotada quando não há oportunidade para se debruçar sobre os impactos produzidos, como a violência sofrida pela personagem de Maria Luisa Mendonça (outro grande destaque entre o elenco do filme, por sinal) de seu marido (vivido por Caco Ciocler), em um dos momentos mais chocantes.

 

Com isso, a temática do suicídio, justamente o centro do filme, acaba se dissipando entre as tantas outras, e a morte de Virgínia se apagando, perdendo o foco e o impacto, com suas questões diluídas entre o mar de tristeza e a infelicidade dos demais, assim perdendo a importância, quando justamente deveria ser o mais importante.

 

Por isso Meu Casulo de Drywall, a medida em que avança, perde o próprio impacto, enquanto deseja se debruçar sobre muitos temas e personagens, mas é incapaz de conceder a tudo e a todos o espaço devido para concluir suas discussões, deixando para o lado, junto das demais, justamente o centro de sua proposta narrativa, e a mensagem de prevenção ao suicídio que buscava desde o princípio.

 

Avaliação: 2.5/5

 

Meu Casulo de Drywall (Idem, 2024)

Direção: Caroline Fioratti

Roteiro: Caroline Fioratti

Gênero: Drama, Thriller

Origem: Brasil

Duração: 115 minutos (1h55)

Disponível: Cinemas (via Gullane+)

 

Sinopse: Virgínia comemora os seus 17 anos com uma festa em sua cobertura. Apesar de tudo aparentemente perfeito, Virginia não consegue ignorar a ferida que cresce com o correr das horas. O dia seguinte nasce como uma tragédia que abala o condomínio. Virgínia está morta. Patrícia, sua mãe, vive o luto quase a ponto de enlouquecer. Luana se questiona se é culpada pelo destino da melhor amiga. Nicollas tenta ignorar a morte da namorada refugiando-se em sexo casual com funcionários. E Gabriel carrega o peso de um segredo e de uma arma.

(Fonte: Gullane / Sinny Comunicação)

4 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page