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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Meninas Malvadas, de Samantha Jayne e Arturo Perez Jr (Mean Girls, 2024)

A atualização de “Meninas Malvadas” para as novas gerações – em uma divertida versão musical sem grandes novidades.



Antes de mais nada, acredito ser notório que este remake de “Meninas Malvadas” é um filme que ninguém pediu. O longa de Mark Waters, apesar de lançado em 2004, ainda tem muitos elementos em seu cerne que se mantém intactos até hoje, apesar de piadas e caracterizações que atualmente já não funcionam tão bem (afinal, são reflexos de seu tempo).

 

No entanto, esta refilmagem, lançada vinte anos depois, tem suas justificativas para existir, a começar pelo material base, que além do livro de Rosalind Wiseman, também inclui o musical da Broadway. Com isso, Tina Fey, novamente às rédeas do texto, adapta seu roteiro, em sua mudança mais significante, ao substituir as narrações pelas passagens musicais, que exerce, a priori, a mesma função, de explorar o interior dos personagens, e verbalizar através da música seus sentimentos.

 

Mas, apesar de essencialmente cumprir esta função, aqui não se faz apenas isso. Alguns números musicais, estritamente ligados à antagonista, Regina George, também se dedicam a impor suas habilidades manipulativas. São onde Regina é melhor representada como vilã, e quando Reneé Rapp (estrela do musical da Broadway), tem mais oportunidades de vender a personalidade maldosa de sua personagem, muito refletida no olhar e trejeitos de sua composição.

 

Do outro lado, Angourie Rice convence como a garota ingênua adotada pelas “populares”, que aos poucos busca tomar o lugar de sua abelha rainha. Mas apesar do ótimo trabalho da atriz, seu arco é um tanto superficial. Embora sejam tomados os mesmos passos do filme anterior, e do plano se concretizar de forma parecida – incluindo a conquista de sua paixão, bem vivida por Christopher Briney -, existe uma certa facilidade em atingir os objetivos, que acaba ressonando em seu drama de amadurecimento após a cegueira gerada pela sede de poder.

 

Muito disso também está atrelado ao apagamento das “Plastics”. Apesar de Rapp conseguir seu destaque como Regina, o mesmo espaço não é dado para Bebe Wood e Avantika nas peles de Gretchen e Karen, resumidas às suas características básicas de “fofoqueira” e “burra”. Com isso, a implosão do grupo se dá de maneira espontânea demais e sem um processo gradual, justamente pela falta no desenvolvimento do trio.

 

É curiosa essa superficialidade do texto, pois acaba soando irônico o filme beber da fonte de sua própria crítica, que, por incrível que pareça, é bem trabalhada nessa versão. Para além do musical, seu grande diferencial é a atualização da obra para os tempos modernos, a era da internet e do TikTok. Para tanto, “Meninas Malvadas” abraça a lógica do filme de algoritmo, fruto de seu tempo, para criticar com voracidade a superficialidade das relações atuais, trocando aquele tom jornalístico das entrevistas e depoimentos do outro filme pela repercussão nas mídias sociais.

 

A direção da dupla Samantha Jayne e Arturo Perez Jr. é responsável também pelo ar jovial do longa, que aposta numa veia dramática mais intensa do que a comédia, a qual fica muito restrita às mesmas piadas de seu antecessor, que até funcionam bem, mas a ausência de novas tiradas cômicas é sentida. Inclusive, existem amplas sequências de dança bem encaixadas, com clara função de viralizar nas redes, que se aproveitam do musical. Entretanto, apesar da boa condução, especialmente nas passagens musicais, existe uma certa dificuldade da dupla em acertar o tom dramático da obra, que por vezes se leva muito a sério, e noutros momentos parece mais descontraída, algo que talvez seja fruto da inexperiência na direção com longa-metragem.

 

Assim, este remake de “Meninas Malvadas” é um filme com poucas novidades e sem nenhuma surpresa. Apesar do enfraquecimento da narrativa, e da dificuldade em aprofundar os personagens, muitas vezes apagados - o que consequentemente diminui o impacto da mensagem final -, também não há como negar as qualidades desta boa refilmagem, que não conseguirá substituir o original (e acredito que nem tente), mas será responsável por levar sua história de forma atualizada para as novas gerações, e quem sabe gerar interesse dos mais jovens pela versão anterior, de 2004.


Avaliação: 3.5/5


Meninas Malvadas (Mean Girls, 2024)

Direção: Samantha Jayne e Arturo Perez Jr

Roteiro: Tina Fey

Gênero: Comédia, Drama, Musical

Origem: EUA

Duração: 112 minutos (1h52)

Disponível: Cinemas (via Paramount Pictures)


Sinopse: A adolescente Cady Heron foi educada na África pelos seus pais cientistas. Quando sua família se muda para o subúrbio nos EUA, Cady começa a frequentar a escola pública e recebe uma rápida introdução às leis de popularidade que dividem seus colegas. Sem querer, ela acaba no meio de um grupo de elite de estudantes apelidadas “as plastics”. (Fonte: Ingresso.com - Adaptado)

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