top of page
Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | MaXXXine, de Ti West (Idem, 2024)

Em seu mar de referências, MaXXXine ainda encontra um pouco de originalidade no “whodunit” que encerra muito bem a trilogia de Ti West com Mia Goth.



Após cerca de dois anos de espera, toda a ansiedade pelo desfecho da trilogia de Ti West parece ter sido decepcionante para muitos, que não viram MaXXXine como um filme à altura de seus antecessores. De fato, o terceiro filme não consegue articular referências e elaborar um bom duelo da mesma forma que faz X, assim como também não constrói um estudo de personagem tão detalhado como faz Pearl.

 

Porém, essa inferioridade não transforma MaXXXine em um filme ruim, e menos ainda o faz indigno da trilogia que encerra, a qual termina com as pontas soltas fechadas e as arestas devidamente aparadas.

 

Enquanto o primeiro, situado no final dos anos 70, homenageia o terror slasher ao estilo de Tobe Hooper, e o segundo, com mais originalidade, nos leva para uma década de 30 em uma fazenda macabra, que pega elementos de musicais da era de ouro de Hollywood, este terceiro capítulo, no meio dos anos 80, abraça o lado obscuro da arte e de uma Los Angeles neon, iluminada, que nunca descansa, e busca suas referências em Hitchcock, no giallo italiano e nos próprios slashers da época, todos influenciados uns pelos outros.

 

O destaque da vez é uma narrativa ao estilo whodunit, com um misterioso assassino em série que circunda o entorno de Maxine, levando a ela resquícios de seu passado, enquanto a protagonista trilha o caminho rumo ao estrelato, a partir da migração do cinema pornô para a verdadeira Hollywood, abraçando sua própria ideia de ser uma estrela.

 

A predominância do estilo narrativo reside nas referências de Ti West, que acaba por culminar em uma mescla de um noire de Hitchcock com o giallo de Dario Argento – tanto é assim que se utiliza da própria Mansão Bates (de Psicose)  como cenário em uma cena importante, e o antagonista sem rosto com as luvas pretas em meio ao abuso das cores evoca diretamente o ar de Preludio Para Matar. O curioso é que fazendo isso, West acaba homenageando por tabela o cinema de Brian De Palma, que abraçou das mesmas referências em Dublê de Corpo, e muitos outros de seus filmes, o qual se torna até mais referenciado por MaXXXine.

 

Esse interesse todo em prestar homenagens diversas, no entanto, é responsável por tirar, em partes, um pouco do próprio estilo do filme, de forma que não consegue alcançar passagens autorais da mesma forma que é feito em X, o qual equilibra a referência com a autoralidade de maneira mais igualitária. Nesse meio, MaXXXine eventualmente acaba divagando demais de um lado para o outro, aguardando novas vítimas e o mistério a se construir para que a protagonista possa, efetivamente, se sentir ameaçada.

 

Por outro lado, essa divagação também faz parte da própria atmosfera que busca adotar, e na brincadeira de um whodunit com uma protagonista desinteressada na investigação, e no próprio mistério – como acontece em alguns giallos. Mia Goth, por diversas vezes, novamente muito bem e a alma do filme, deixa claro o individualismo de sua personagem, focada demais em escalar a montanha do estrelato para olhar os lados e ajudar quem está realmente em apuros. Tudo isso faz parte da própria ambientação de Los Angeles, um lugar de poucos amigos e imensa competitividade no meio artístico.

 

Há também todo um aspecto sarcástico com o qual trabalha Ti West através das passeatas religiosas contra a violência no cinema e o próprio gênero do terror, o qual é respondido em um terceiro ato que fecha o arco de Maxine, em uma resolução absurda que, novamente, abraça a bizarrice do cinema B, e que é usada para tentar esconder a pouca habilidade do diretor para cenas de ação, evidenciada pela confusão da montagem.

 

O desfecho estende ainda mais esse sarcasmo para toda a construção da mitologia e do passado da personagem, que novamente estabelece uma ligação com o encerramento do primeiro filme. Assim, MaXXXine talvez tenha demorado demais no forno e criado expectativas demais para um final que não foi como o esperado, de progressão mais lenta e mais referências do que a busca por um estilo novo e original, algo que de fato fica atrás de seus antecessores. Mas mesmo assim, é um filme à altura dos demais, sobretudo dentro das noções criadas pela trilogia, ainda que pudesse ser melhor.

 

Avaliação: 4/5

 

MaXXXine (Idem, 2024)

Direção: Ti West

Roteiro: Ti West

Gênero: Thriller, Terror

Origem: EUA, Reino Unido, Nova Zelândia

Duração: 103 minutos (1h43)

Disponível: Cinemas (via Universal Pictures)

 

Sinopse: Na década de 1980, em Hollywood, a estrela de cinema adulto e aspirante a atriz Maxine Minx tem sua grande chance. Mas conforme um assassino persegue as estrelas de Hollywood, um rasto de sangue ameaça revelar seu passado sinistro.

(Fonte: IMDB - Adaptado)

6 visualizações0 comentário

コメント


bottom of page