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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Matador de Aluguel, de Doug Liman (Road House, 2024)

A reimaginação do Matador de Aluguel de Doug Liman não se leva a sério, esbanja porradaria e evita as contradições do longa original.



Dentro de uma ideia mencionada pelo próprio filme, até como um exercício de referência e metalinguagem, Road House (cujo título nacional, Matador de Aluguel, dado em 1989, é terrível pela ausência de sentido) se apresenta como uma espécie de “western contemporâneo”, que troca a aridez do deserto interiorano dos EUA no final do século XIX pelo paradisíaco litoral norte-americano, em pleno século XXI (inclusive, Marcio Sallem, em sua crítica sobre o filme, muito bem exalta a importância de Clint Eastwood para o cinema de ação, e como este influencia o novo Road House).

 

Mais do que apenas uma reimaginação do antigo filme de 1989, dirigido por Rowdy Herrington e protagonizado por Patrick Swayze, a nova versão de Road House compreende melhor a própria proposta, ao já construir seu conflito a partir de contornos pessoais para com o protagonista, não motivados por algum passado pré-existente, mas pelo mero infortúnio sofrido pelos antagonistas ao terem seus planos frustrados.

 

As brigas de bar e lutas corpo-a-corpo são o foco narrativo buscado desde os primeiros minutos por Doug Liman, que evita e inutiliza, sempre que aparecem, as armas de fogo. Mais do que um milionário com mania de grandeza, os vilões da vez, muito bem representados por Billy Magnussem e Conor McGregor, representam uma ameaça à altura do anti-herói de Jake Gyllenhaal, tanto na maneira como têm interesses no bar onde tudo se desenrola, colocando-o no centro de tudo, como também pela preferência nas lutas.

 

O que mais favorece tal ameaça é a permissão que Doug Liman se dá para brincar com a linguagem do próprio filme, e gradativamente transformar seus vilões em caricaturas. Ao invés de uma densidade dramática, a escolha de não se levar tão a sério cai bem ao longa, e abre espaço para uma ação cada vez mais absurda e frenética, que opta por longas coreografias, menos cortes e objetiva colocar a nós, espectadores, naquele ambiente, como testemunhas do caos. Tudo isso funciona muito bem pelo ritmo que nunca desacelera, sempre bem acompanhado pela trilha musical, típica da região e do ambiente de bar, ainda que a decupagem as vezes se atrapalhe com os cortes, e os complementos gráficos de alguns momentos soem bastante artificiais.

 

Esse ar mais descontraído e até mesmo cômico adotado não apenas favorece a narrativa, pela maneira e liberdade com a qual se constrói, mas também funciona no desenvolvimento do personagem de Gyllenhaal. Muito se diz pelo ar pacifista de Dalton, que se antes apresentava-se com a filosofia por Swayze, aqui se manifesta pelo silêncio por parte de Jake. Seu histórico passado, de amplo conhecimento por toda a comunidade, alerta para uma possibilidade de perigo vinda do personagem, que lida com seus fantasmas, e por motivações semelhantes ao clássico, em contextos diferentes, levam à sua transição do pacifista para o violento que acontece no ato final, porém de forma mais gradual.

 

Nessa elaboração de um personagem solitário e silencioso, os sentimentos de Dalton encontram mais espaço em seus gestos, atitudes e pensamentos do que em suas falas. Inclusive, a ausência de um contexto filosófico que justificasse o pacifismo evitou a contradição na qual recai a obra original em seu desfecho, que apesar de divertido, contraria toda a mensagem pela qual se identifica o personagem.

 

Assim, talvez este seja um dos raros casos em que a superficialidade fez bem a um filme, na medida em que esta refilmagem de Road House se preocupa menos com a discussão que propõe e mais com seu protagonista e o desenrolar da ação, até porque, pelo cerne da própria temática e de sua proposta, as possibilidades de novamente incorrer em contradições sempre se mostram altas dentro de um possível contexto filosófico que rejeite por completo a violência. E melhor ainda, o longa ainda assim não cai na armadilha de exaltar a violência, ao sempre reforçar as más consequências que gera a ação para seu protagonista.

 

Avaliação: 4/5

 

Matador de Aluguel (Road House, 2024)

Direção: Doug Liman

Roteiro: Anthony Bagarozzi, Charles Mondry e  David Lee Henry

Gênero: Ação, Thriller

Origem: EUA

Duração: 121 minutos (2h01)

Disponível: Prime Vídeo

 

Sinopse: Um ex-lutador do UFC consegue um emprego como segurança em um bar na região litorânea de Flórida Keys, apenas para descobrir que este paraíso não é tudo o que parece.

(Fonte: IMDB - Adaptado)


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