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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Madame Teia, de S.J. Clarkson (Madame Web, 2024)

Superando o desastre de “Morbius”, “Madame Teia” não vale nem o meme – é apenas constrangedor e entediante.



Com o início do MCU, em 2008, e sua efetiva consolidação como universo compartilhado em 2012, com “Os Vingadores”, todos os anos passamos a estar diante de inúmeros filmes de heróis, e de estúdios diferentes – afinal, todos querem montar seu próprio universo e surfar naquilo que está em alta.

 

É claro que, dentre a enorme quantidade de filmes lançados, muitos são ótimos, outros medíocres, e alguns são terríveis. Mas nenhum, até o momento, conseguiu chegar ao patamar atingido por “Madame Teia”.

 

Se noutros anos, “Quarteto Fantástico” (2015), “Venom” (2018/2021) ou “Morbius” (2022) conseguiram se consagrar como alguns dos piores do gênero, em todos ao menos conhecíamos os heróis, seus poderes, o vilão e, mesmo que de forma genérica, havia uma dinâmica de ação que fizesse um mínimo de sentido, mesmo que de todo fosse desinteressante ou mal desenvolvido.

 

Em “Madame Teia”, nem isso. O roteiro, escrito à dez mãos (por Burk Sharpless, Matt Sazama, Kerem Sanga, Claire Parker e S.J. Clarkson) possui uma dificuldade basilar em estabelecer os poderes de sua protagonista. Baseados em visões do futuro, que revelam uma ameaça à espreita, a jornada inicial de Cassandra Webb é uma grande corrida de gato e rato contra Ezekiel Sims, um homem com poderes (e responsável pela morte de sua mãe), enquanto tenta salvar três garotas, os verdadeiros alvos do vilão.

 

Por essa descrição, e pelo próprio desenrolar dos fatos – especialmente do final -, havia a possibilidade de explorar a temática do destino, quando, mesmo sem conseguir explicar a lógica dos poderes, há uma clara tentativa em dizer que nada é imutável. No entanto, em meio a dezenas de diálogos expositivos, de uma artificialidade colossal, muito se fala e nada se diz, sobretudo quando a protagonista tem seus presságios e pode voltar no tempo de maneira aleatória e sempre à escolha do texto, de modo contraditório, ainda mais quando nunca fica claro se o vilão tem este mesmo poder ou o porquê algumas coisas acontecem de maneiras diferentes, sem que ela interfira nelas.

 

O desinteresse dos roteiristas chega a ser tamanho que nem se faz questão de buscar por motivações para Ezekiel, desde sua aparição no prólogo, cujo drama chega a ser constrangedor, até sua presença no tempo do filme. Em dado momento, o personagem chega a comentar que não pode deixar as heroínas destruírem tudo aquilo que construiu. Mas fica a pergunta: o que ele tanto construiu, já que não vemos nada?

 

Como se já não bastasse o desastroso roteiro de “Madame Teia”, a direção de S.J. Clarkson, que tem um vasto currículo na televisão (inclusive com Jessica Jones e Os Defensores), na tentativa de soar estilizada abusou do plano holandês das piores formas possíveis. O que em um momento ou outro poderia gerar desconforto ou uma sensação de caos, seu uso de maneira reiterada faz com que se perca sua razão, e as constantes inclinações e voltas no próprio eixo apenas geram cansaço ao espectador e tornam alguns planos incompreensíveis.

 

O pior é que Clarkson não insiste em inclinar a câmera apenas para ressaltar a vilania do antagonista, mas também o faz em boa parte das cenas de ação, bastante escassas para um filme do gênero. Assim, com o caos visivelmente já instaurado, os planos “diferentes” da diretora apenas geram incompreensão, e nem a montagem, igualmente desastrosa, consegue construir tais cenas de maneira inteligível.

 

E a batalha final é o ápice dos problemas de “Madame Teia”. A direção faz sua maior confusão visual ao sequer conseguir estabelecer o ambiente, e a ação repleta de cortes e enquadramentos estranhos tira qualquer possibilidade de imersão. Já a derrota de vilão contraria toda a lógica e mitologia estabelecida até então, e tira a justificativa do trio de adolescentes se tornarem heroínas.

 

Nesse mar de confusão, sinto mesmo pelo elenco talentoso envolvido na produção, desperdiçado com personagens que mal possuem alguma profundidade, e em um desinteressante longa de heróis quase sem ação, que se estende por mais tempo do que deveria, e insiste em fazer conexões com outros personagens de quadrinhos de maneira gratuita e sem qualquer necessidade – por que colocaram Ben Parker e o nascimento de Peter (nunca nomeado) nesse filme?

 

Em 2022 achei que nenhum filme de herói futuro poderia ser pior do que “Morbius”. Mas eis que muitos dos mesmos envolvidos conseguiram dar origem a “Madame Teia”, que hoje me faz ver o quanto o outro filme, apesar de também ser péssimo, era ao menos divertido, seja pelas risadas constrangedoras ou por Jared Leto realmente envolvido no projeto. O constrangimento de “Madame Teia” não é digno de risadas, mas sim de tédio, e soa como um filme amador feito com um orçamento de 80 milhões de dólares. É algo que vai além do desgaste dos filmes de heróis, mas da nítida intenção da Sony em fazer dinheiro com os personagens da Marvel que tem em mãos, em um desespero tão profundo que não há preocupação com qualidade, mas sim com quantidade e a criação de um universo só deles, que, até o momento, coleciona bombas e fracassos.

 

Avaliação: 1/5

 

Madame Teia (Madame Web, 2024)

Direção: S.J. Clarkson

Roteiro: Burk Sharpless, Matt Sazama, Kerem Sanga, Claire Parker e S.J. Clarkson

Gênero: Ação, Aventura, Super-Heróis

Origem: EUA, Canadá

Duração: 117 minutos (1h57)

Disponível: Cinemas (via Sony Pictures)

 

Sinopse: Forçada a confrontar seu passado, Cassandra Webb, uma paramédica em Manhattan que pode ter habilidades de clarividência, cria uma relação com três jovens destinadas a futuros poderosos, se elas conseguirem sobreviver ao presente ameaçador.

(Fonte: IMDB)

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