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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Love Lies Bleeding - O Amor Sangra, de Rose Glass (Love Lies Bleeding, 2024)

Love Lies Bleeding provoca o espectador a partir de um microcosmo perverso, onde a violência é a única forma de garantir a manutenção do amor.



De seus curtas ao lançamento de seu primeiro longa, o cinema de Rose Glass sempre se dedicou a incomodar o espectador através de sua rígida atmosfera que força uma normalidade artificial. Enquanto o personagem vive uma realidade que para si parece real, para quem o vê de fora questiona a naturalidade do universo em que está inserido, sempre com o perigo à espreita e a imprevisibilidade pairando no ar.

 

Na esteira de seu estilo, Love Lies Bleeding - O Amor Sangra apenas reforça as habilidades da cineasta frente ao hábito que tem de provocar seus espectadores. Desta vez, a realidade forçada se manifesta a partir da personagem de Kristen Stewart - sempre ótima, por sinal -, Lou, e ao passado violento que procura esquecer a partir de uma distância não exatamente real de seu pai. Aos poucos, depois de conhecer e se apaixonar por Jackie - também excelente na pele de Katy O’Brien -, o conflito entre seus interesses e o poder manipulador do pai a leva em uma jornada de amor definitiva para resolver tudo o que passou nos anos anteriores.

 

A dinâmica entre Lou e Jackie é a alma do filme, na medida em que o amor entre as personagens tem como um de seus pilares a problemática que as envolve, sobretudo os passados conturbados e famílias disfuncionais. A constante luta para sobrevivência banha tal relação em sangue, necessariamente derramado como talvez a única forma de garantir a união em um jogo psicótico responsável por toda a desgraça pela qual passa a vida de Lou. Nesse meio, Jackie acaba sendo empurrada diante desse caos, e o fisiculturismo, para além de um sonho pessoal, é uma forma de explorar toda a raiva que sente por um mundo que, no geral, a rejeita e dela constantemente se aproveita. O desajuste é como um elo comum que as une de maneira tão poderosa que as força a enfrentar seus problemas e seguirem juntas rumo ao destino.

 

É curioso que, apesar das sombras do passado estarem sempre à espreita de Lou, como uma espécie de perseguidor, o filme nunca discorre efetivamente sobre o que aconteceu, justamente para não o colocar como prioridade onde não o é. Os eventos anteriores são sempre abordados a partir de um fundo vermelho, com o assustador personagem de Ed Harris a frente, sugerindo uma onipresença da figura do pai até mesmo nos pensamentos e no inconsciente da protagonista. Essa cor vermelho-sangue é claro objeto de incômodo, presente não apenas durante esses momentos, mas sim em toda a narrativa em diferentes cenários e situações, sempre sugerindo um clima de emergência constante, que se torna cada vez mais forte à medida que se aproxima do fim, quando a atmosfera dos anos 80 torna tudo ainda mais artificial quando sugere uma nostalgia que não existe de verdade.

 

Nos momentos finais, a fantasia típica do cinema de Glass, tal como em Saint Maud, se torna a cereja do bolo pelo estranhamento que propõe ao evitar um desfecho agridoce, mas que ressalta a dependência de uma para com a outra. Essa atmosfera fantástica, somada à visceralidade da violência, tornam desde já Love Lies Bleeding - O Amor Sangra uma das grandes provocações cinematográficas do ano, ao forçar a nós, espectadores, enxergar aquele universo a partir de olhares perversos que colocam a violência como talvez a única solução possível para a defesa e união das protagonistas, acostumadas a sofrer na mão de mundos que não as aceitam. E o que é o cinema, afinal, senão também uma forma e possibilidade de nos provocar para além de nossa bolha e visão de mundo?


Avaliação: 4.5/5

 

Love Lies Bleeding – O Amor Sangra (Love Lies Bleeding, 2024)

Direção: Rose Glass

Roteiro: Rose Glass e Weronika Tofilska

Gênero: Thriller, Terror, Drama

Origem: EUA, Reino Unido

Duração: 104 minutos (1h44)

Disponível: Cinemas (via Synapse Distribuition)

 

Sinopse: A solitária gerente de academia Lou se apaixona pela ambiciosa fisiculturista Jackie, que está de passagem em direção a Las Vegas, em busca do seu sonho. Mas essa história de amor fulminante as envolve na rede criminosa da família de Lou. (Fonte: IMDB)

 


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