top of page
Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Longlegs: Vínculo Mortal, de Osgood Perkins (Longlegs, 2024)

O Longlegs de Osgood Perkins é assustador enquanto onipresente em cada quadro do filme, no meio de uma incômoda perfeição estética.



Filho do lendário ator Anthony Perkins, responsável por dar vida ao assustador Norman Bates em Psicose, clássico de Alfred Hitchcock (e também suas sequências), Osgood Perkins parece ter concebido, em Longlegs, o melhor terror deste ano, ao menos em termos financeiros, dado o enorme sucesso de bilheteria nos EUA, onde passou mais de um mês exclusivamente em cartaz nos cinemas.

 

Entretanto, confesso que, tendo em vista o único filme anterior do cineasta que assisti até o momento, não estava tão confiante sobre o que poderia encontrar neste novo trabalho. Falo do desastroso Maria e João: O Conto das Bruxas, que me levou a sair do cinema, ao final da sessão, bastante desgostoso e frustrado com a experiência – sentimentos esses que ainda se mantém quando penso no dito filme, que acredito ter uma crítica pelo Instagram do Cineolhar, datada lá do início da página, antes da pandemia, no início de 2020.

 

Mas deixei o mau sentimento de lado e encarei Longlegs como deveria, animado para ver o que o diretor havia preparado, agora com uma nova assinatura - seu nome completo, e não mais com o abreviado Oz Perkins.

 

Já na primeira cena, a direção de Perkins nos dá o indício de sua maneira de trabalhar com o terror, através de uma estética claustrofóbica que vai desde os ambientes fechados e interiores até as próprias estradas e espaços abertos. A opção pela razão de aspecto mais fechada para falar do passado é um indício de certa nebulosidade que permeia o espectador e a própria protagonista, muito bem vivida pela expressiva Maika Monroe, em uma relação de intimidade que se constrói através do trauma.

 

Posteriormente, a perfeição da construção de cada plano, exageradamente simétrico e limpo, é mais uma forma de produzir o desconforto enquanto não sabemos exatamente com o que o longa está lidando, se um antagonista humano ou uma força sobrenatural, representado pelo vilão que titula o filme, vivido brilhantemente por Nicolas Cage, cuja aparência amedrontadora é objeto de jumpscares inteligentes e bem articulados, e revelada cuidadosamente no desenrolar da obra.

 

Apesar de sua pouca presença em tela, bastante diluída no decorrer do filme, o personagem de Cage é, a verdade, uma figura onipresente e indicadora de perigo constante. Não necessariamente por ser aquilo que motiva toda a investigação conduzida pela protagonista, a qual acompanhamos de perto, mas pela própria maneira como Perkins trabalha com a imagem como terror. É no estabelecimento de cores para representa-lo (algo já feito logo no prólogo) que podemos enxergar o vilão em todo e qualquer ambiente, a partir das tonalidades brancas e claras, que vão desde uma cortina até o chão tomado por neve. Mas também é verdade que as sombras escondem algo, em escuras formas humanoides capazes de brincar com o discernimento do espectador, que se questiona se não está vendo algo inexistente.

 

A própria violência, então, vem acompanhada por essa atmosfera de tensão, enquanto toma formas cada vez mais grotescas na medida em que a protagonista chega perto do assassino, enquanto se afunda cada vez na mente de um homem desconhecido, notavelmente perturbado, e cujos métodos de matar se parecem irreais e improváveis, especialmente aos olhos do FBI.

 

E mesmo com toda a criatividade de Perkins para tratar a imagem como mais um dos elementos de seu terror, e de uma investigação que avança bem e se distribui eficientemente ao longo da narrativa (mesmo que com algumas muletas e atalhos para facilitar), receio que sua inspiração não funcionou tão bem, por outro lado, na forma como revela suas surpresas no ato final. A imagem de Cage, e seu trabalho que fica no exato limiar entre o exagero e o contido, são bem escondidos pelo cineasta, mas a partir de certo ponto do segundo ato as ligações se tornam fáceis de estabelecer, e prever o desfecho da narrativa. É um tabuleiro bastante fácil de ser lido antecipadamente, no qual apenas aguardamos para ver como terminará posicionado.

 

Por outro lado, se a surpresa não é tão bem guardada neste último ato, ao menos a maneira como filme termina, ainda que com muita exposição, esconde alguns segredos nas entrelinhas, e, o mais interessante é que, apesar de intenso, subverte as expectativas ao rejeitar a ação, mas ainda assim abraçar a violência.

 

Confesso que não apenas terminei o filme satisfeito, como Osgood Perkins já me interessou em buscar por seus dois trabalhos pretéritos que ainda não assisti, como também atiçou minha curiosidade para seu próximo longa, The Monkey, previsto para o início de 2025.

 

Avaliação: 4/5

 

Longlegs: Vínculo Mortal (Longlegs, 2024)

Direção: Osgood Perkins

Roteiro: Osgood Perkins

Gênero: Terror, Thriller

Origem: EUA, Canadá

Duração: 101 minutos (1h41)

Disponível: Cinemas (via Diamond Films)

 

Sinopse: A agente do FBI Lee Harker é designada para um caso envolvendo um serial killer impiedoso que se auto-intitula Longlegs. O assassino costuma deixar pistas com símbolos nas cenas do crime que apenas a agente é capaz de decifrar, e a medida em que a investigação avança, são tomados rumos inesperados que revelam uma possível proximidade entre os dois.

(Fonte: Diamond Films e Sinny Comunicação - Adaptado)

7 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page