top of page
Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Kraven, o Caçador, de J.C. Chandor (Kraven the Hunter, 2024)

Genérico do começo ao fim, Kraven é um filme sem personalidade, e o último prego no caixão de um universo fracassado – e agora cancelado pela Sony.



Às vésperas do lançamento de Kraven, o Caçador, a Sony anunciou o cancelamento de seu universo Marvel baseado nos personagens ligados ao mundo do Homem-Aranha (o único herói que, contratualmente, possuem os direitos). Não é nenhuma surpresa, ainda mais depois dos fracassos recentes, dentre os quais apenas Venom: A Última Rodada foi capaz de render algum dinheiro, e ainda assim abaixo do que esperava o estúdio – e também o único filme razoavelmente bom dentre os seis produzidos.

 

Talvez esse anúncio justamente no dia anterior ao lançamento do mais novo (e agora último) filme do universo seja como um tiro no pé, pois se as pessoas já não tinham interesse nesses personagens – até mesmo desconhecidos, muitos vilões do Aranha que nunca tinham aparecido nas obras live-action –, é agora que não terão mesmo o interesse de conhecer Kraven, já que todos sabemos ser apenas mais um filme de origem genérico com diversas conexões e pontas soltas para o desenvolvimento do universo através de sequências e crossovers que nunca acontecerão.

 

Como se não bastasse toda essa estratégia, já bem batida e que até o momento não deu certo com nenhum estúdio ou franquia, para além do MCU, quase todos os filmes desse universo são inegavelmente ruins. Não existem ambições que não fazer o básico do “arroz e feijão” de filmes de heróis sem buscar por diferenciais, seguindo à risca fórmulas há muito tempo desgastadas e usadas à exaustão nos últimos anos – talvez a Sony tenha chego tarde demais para se aproveitar de uma onda já enfraquecida. E eis que no meio desse caminho torto vemos pérolas que vão para além do genérico, perdendo qualquer noção de cinema ou do ridículo.

 

Por sorte, Kraven está mais perto do básico que faz os filmes de Venom do que a vergonha alheia de Morbius; ou a tortura das duas longas horas de Madame Teia, o ápice negativo desse universo Sony, como um filme que sequer entende sua protagonista. Mas apesar disso, não há nada que salve Kraven do fiasco que é, repetindo os mesmos erros de literalmente todos os outros longas citados.

 

Apesar do prólogo razoável, que até sugere outra direção para o filme, não demora muito para Kraven recair naquela fórmula cansativa, com um longo flashback, em seguida, contando como o personagem ganhou seus poderes. E a falta de organicidade do texto já começa por aí, quando mal estabelece suas relações, e coloca na base de sua narrativa um laço extremamente frágil entre dois personagens (Kraven e Calypso), quando jovens. Pior ainda é quando eles se reencontram anos depois, e somos bombardeados com uma série de diálogos expositivos bem pouco críveis, e uma confiança mútua fisgada muito rapidamente e na base de duas ou três frases prontas trocadas – que deixam Aaron Taylor-Johnson e especialmente Ariana DeBose perceptivelmente um pouco sem graça.

 

Nem parece que lidamos com personagens humanos, no sentido mais puro da palavra. Todos os comportamentos dessas pessoas parecem ignorar sentimentos ou o aspecto imprevisível da humanidade, e os colocam em trilhos que os levam por caminhos demasiadamente controlados, quase que como robôs. O mesmo se aplica, também, aos personagens de Russell Crowe, fazendo papel do pai violento e abusivo; Alessandro Nivola, talentoso e desperdiçado com um vilão descartável, e até um pouco constrangedor; e Fred Hechinger, cujo destino e importância ao filme é óbvio desde o primeiro minuto, sendo que idealmente seria introduzido agora para depois ser melhor aproveitado em uma futura sequência.

 

A impressão que fica, então, é a de um filme apressado, e finalizado sem muito interesse (ou crença) do estúdio, e menos ainda dos envolvidos, quando nem mesmo a ação se torna um atrativo válido. J.C. Chandor até pode ter bons projetos anteriores (como Operação Fronteira), mas nem seu trabalho consegue salvar Kraven da mediocridade ou do esquecimento, a partir de uma montagem picotada; uma violência gráfica sutil, despropositada; e sobretudo efeitos visuais artificiais, como de costume nas produções da Sony.

 

Assim, nem pelo meme Kraven chama a atenção. Parte final de um universo fracassado, e o último prego de seu caixão, ninguém parece realmente interessado em tornar o presente filme em um sucesso - que não nego, poderia render algo bom se melhor escrito e, sobretudo, tentasse algo novo fora dessa fórmula cansativa, e não a replicasse novamente, como sempre fazem. O fiasco é tamanho, e o desinteresse é tanto, que nem mesmo o elenco tem divulgado o filme em suas redes sociais, preferindo falar de outros filmes em que participaram, mais relevantes, sobretudo para a temporada de prêmios, do que este, lançado já sabendo que não teria continuação. Ainda assim, mesmo ruim, é um dos melhores que esse universo cancelado de seis filmes tem a oferecer – sendo dessa forma possível mensurar esse fundo de poço -, e confesso que sentirei uma amarga saudade desses longas estranhos e mal pensados, orquestrados com produção assinada por Avi Arad.

 

Avaliação: 1.5/5

 

Kraven, o Caçador (Kraven the Hunter, 2024)

Direção: J.C. Chandor

Roteiro: Richard Wenk, Art Marcum e Matt Holloway

Gênero: Ação, Aventura, Super-Heróis

Origem: EUA, Reino Unido, Canadá, Islândia

Duração: 127 minutos (2h07)

Disponível: Cinemas

 

Sinopse: A complexa relação de Kraven com o pai, o mafioso Nikolai Kravinoff, o leva a uma jornada de vingança com consequências brutais, o motivando a se tornar um dos maiores e mais temidos caçadores do mundo.

(Fonte: IMDB - Adaptado)

1 visualização0 comentário

Comments


bottom of page