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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Kill – O Massacre no Trem, de Nikhil Nagesh Bhat (Kill, 2024)

Kill leva o espectador em uma violenta jornada que transita entre a legítima defesa e a vingança privada.



Levando em consideração o que se tem visto recentemente no cinema de ação norte-americano, o qual tem recebido, mais do que nunca, uma influência asiática desde John Wick, e a constante exportação do cinema indiano para outros mercados, muito inclusive por conta da popularização do excelente RRR, Kill – O Massacre no Trem, um dos poucos exemplares da Índia a conseguir distribuição nos cinemas brasileiros, joga em uma mescla das tradicionais narrativas de vingança dos EUA com o estilo dramático e intenso típico de seu país de origem.

 

A partir de um ambiente reduzido, limitado a alguns vagões de trem, o roteirista e diretor Nikhil Nagesh Bhat constrói tensão a partir de uma tentativa de assalto malsucedida orquestrada por uma organização criminosa, que escala constantemente em uma crescente de violência, na medida em que os ânimos aflorados interrompem uma relação amorosa, que os leva a um embate típico do esquema de “pessoa errada no lugar errado”, tal como uma versão mais moderna e violenta do clássico natalino de John McTiernan, Duro de Matar.

 

No entanto, existe todo um contexto de transformação do protagonista para o uso da violência desmedida, esse cujo título em tela justifica, precisamente, o ponto de virada, após uma reviravolta narrativa. Durante todos os primeiros quarenta e cinco minutos, existe por parte dos heróis um uso de violência não letal, com um rótulo implícito de estarem ao lado da justiça, mesmo enquanto soldados de elite à paisana em um trem, despretensiosamente e fora de serviço, viajando à capital de seu país por motivos completamente não relacionados à função que exercem.

 

A bondade no caráter dos heróis é muito calmamente estabelecida, até mesmo pela maneira como inicialmente lidam com a situação em que se encontram, acobertados até pela tese da legítima defesa e sem o mesmo ânimo assassino daqueles que os atacam com facões e outros objetos pontiagudos contundentes, apenas neutralizando as ameaças para protegerem os indefesos.

 

Mas a partir da virada, dramática e impactante ao estilo típico do cinema indiano, e do letreiro com o título em tela, que acaba puxando até mesmo uma estética de videogame, Nikhil Nagesh Bhat passa a enxergar seu protagonista com outros olhos, a partir de uma câmera que o engrandece perante aos antagonistas, em parte desesperados com a ira que despertaram, enquanto outros juram vingança por consequências obtidas por seus próprios atos.

 

É nesse momento em que a narrativa coloca de lado a legitima defesa, para mergulhar de vez na vingança privada, enquanto explora os instintos mais primitivos dos seres humanos. Por um lado, até poderia soar problemático se o filme abraçasse essa ideia como a solução, mas apesar de espetacularizar a violência, sobretudo através da corajosa ação visceral e das excelentes coreografias, não só o massacre referenciado pelo título não alivia a dor do personagem como apenas aumenta o vazio criado dentro de si naquela fatídica noite, muito bem trabalhada pela semiótica na cena final.

 

Acontece que tudo vai muito além do personagem principal. Essa ideia de vingança privada se manifesta nas demais vítimas do trem, enquanto também participam, eventualmente, da ação, na medida em que se encontram igualmente tomadas pelo medo, adrenalina e uma completamente compreensível raiva, pois igualmente imersos naquele contexto caótico e violento, tendo perdido entes queridos.

 

Dessa maneira, Kill não é apenas um filme visualmente violento, mas também psicologicamente. Apesar do pequeno currículo no cinema, Bhat sabe exatamente como manipular e induzir emoções ao espetador, na medida certa, pela forma com a qual nos estabelece uma conexão com o protagonista, de maneira a compreendermos suas ações, por mais reprováveis que sejam, enquanto os eventos escalam de maneiras cada vez maiores, exigindo mais força para que fossem controlados, frente à implacabilidade e brutalidade dos antagonistas detestáveis, para lidarem com a situação que eles mesmos criaram.

 

Avaliação: 4/5

 

Kill – O Massacre no Trem (Kill, 2024)

Direção: Nikhil Nagesh Bhat

Roteiro: Nikhil Nagesh Bhat e Ayesha Syed

Gênero: Ação, Thriller

Origem: Índia

Duração: 105 minutos (1h45)

Disponível: Cinemas

 

Sinopse: Durante uma viagem de trem do interior até Nova Delhi, capital da Índia, uma dupla de soldados enfrenta um exército de bandidos assaltantes.

(Fonte: IMDB - Adaptado)

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