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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Imaculada, de Michael Mohan (Immaculate, 2024)

Imaculada provoca o espectador a partir da exploração do profano, mas não consegue desenvolver a discussão para além do choque.



Este primeiro semestre de 2024 ficou marcado por um fenômeno curioso, com dois filmes muito semelhantes sendo lançados simultaneamente (nos EUA), ou em datas muito próximas, em boa parte do mundo. Trata-se de Imaculada e A Primeira Profecia, longas quase gêmeos, na medida em que compartilham da sinopse e de toda uma premissa semelhante, ainda que tenham diferenças nos caminhos de seu desenrolar.

 

Apesar da atmosfera de terror mais refinada na construção formal de Arkasha Stevenson em A Primeira Profecia, a premente necessidade de servir como prequel e estabelecer conexões com o universo do clássico de Richard Donner fez com que a obra perdesse parte da liberdade de ousar em seus caminhos, se atendo em diversas oportunidades a referenciar e estabelecer conexões com o universo pré-existente, sobretudo enquanto trabalha a violência.

 

Essa era a chance de Imaculada, enquanto tem a oportunidade de construir e moldar seu próprio universo ao bel prazer, sem necessariamente se preocupar com materiais prévios. Em uma comparação direta, e a última a ser feita na presente crítica, é notável a simplicidade – e o mérito - do trabalho de Andrew Lobel na escrita deste filme, consideravelmente mais enxuto, porém direto onde pretende chegar.

 

Para tanto, o roteirista abre mão de surpresas óbvias e não aposta em mistérios aparentemente complexos com soluções fáceis, mas caminha em direção a uma conspiração desde cedo evidente, que se torna mais clara na medida da desconfiança da protagonista. O resultado dessas escolhas fica claramente refletida na segunda metade, quando a condução de Michael Mohan direciona toda a previsibilidade da narrativa em um impacto sonoro e visual contundente, que não só incomoda pelo sarcasmo das canções e a violência das ações, mas também profana o próprio catolicismo como poucos realizadores tem coragem de fazer.

 

É evidente que existe uma forte crítica à Igreja Católica, que se estrutura para além da desconstrução da fé, mas a partir da controvérsia e provocação de uma classe religiosa. Não apenas um convento conspiratório é utilizado como base para a narrativa, com altos membros da instituição envolvidos, a própria premissa de uma freira grávida e tratada como santa já é de causar certa confusão. Mas Mohan vai além ao usar da violência gráfica como meio para chocar, em especial por utilizar dos próprios símbolos religiosos para cometer o pecado da morte.

 

Essa obsessão pelo choque e impacto das provocações e controvérsias acaba, no entanto, se tornando também o calcanhar de Aquiles de Imaculada, quando o longa mais opta por surpreender visualmente do que efetivamente discutir as questões que coloca sob a mesa. A curta duração, por um lado, favorece o impacto pela forma como Michael Mohan constantemente acelera a narrativa de forma a tornar-se uma bomba-relógio caótica, mas esquece de ser mais incisivo em como promove o debate para além da violência, soando frágil pela aparente falta de argumentos e superficial por não saber criticar sem apelar para o profano, algo que não custaria nada, ainda mais depois de tocar no vespeiro que é debater religião.

 

Ainda assim, Imaculada, sem valorizar o debate como poderia, demonstra muita vontade e criatividade em provocar o espectador, sobretudo enquanto tenta gerar polêmicas religiosas. Sydney Sweeney, mais do que ninguém, é quem mais abraça e se destaca no projeto, na medida em que o viabilizou como produtora, e entregou seu rosto ao sofrimento da Irmã Cecilia, sua personagem.

 

Avaliação: 3/5

 

Imaculada (Immaculate, 2024)

Direção: Michael Mohan

Roteiro: Andrew Lobel

Gênero: Terror, Thriller

Origem: EUA, Itália

Duração: 89 minutos (1h29)

Disponível: Cinemas (via Diamond Films)

 

Sinopse: Cecilia, uma mulher profundamente religiosa, recebe uma oferta para se tornar freira em um ilustre convento no campo italiano. Mas após uma gravidez misteriosa, ela passa a ser atormentada por forças perversas, enquanto confronta segredos sombrios e os horrores daquele local.

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