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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Horizonte, de Rafael Calomeni (Idem, 2024)

“Horizonte” caminha errante entre o drama familiar, a solidão e o romance, para terminar de forma abrupta e sem dizer a que veio.



Em seus primeiros minutos, “Horizonte” nos coloca como testemunhas de um ambiente familiar após o enterro de um membro. O pesar com o qual a cena é conduzida nos indica, a partir de um desconforto latente em todas as partes, que os personagens no entorno da mesa não se falam há algum tempo. Em meio a brigas e discussões do passado, mais de uma década depois todos estão reunidos novamente, e não à vontade.

 

É uma cena longa, cuja câmera se desloca lentamente naquele jardim, quase como num aspecto teatral, que visa reforçar as imposições de Juarez em face do destino do imóvel familiar. Durante toda essa primeira metade do filme, é bastante difícil colocar um único personagem como protagonista, quando a obra busca se aproximar de todos na mesma medida.

 

Mas aos poucos vamos encontrando o real centro desta narrativa. Rui, irmão do falecido, é um senhor solteiro de 72 anos que aparentemente nunca viveu longe de sua família. Quando talvez pudesse viver, pela primeira vez, sozinho, com mais espaço, foi obrigado a se atolar nos fundos com seu sobrinho-neto quando seu sobrinho decide ir morar no imóvel com sua família. É a partir desse ponto que passa a ponderar a possibilidade de se mudar, sem pretensões de voltar.

 

No entanto, após a sessão, o maior questionamento que fica é: qual a real intenção de “Horizonte”? Pois para chegar em seu protagonista, e na abordagem da solidão da pessoa idosa, se passa quase metade do filme, dedicada a explorar uma dinâmica familiar que, na realidade, pouco importa para a proposta da narrativa.

 

A transição do drama familiar para o drama da solidão, por outro lado, é abrupta. Após muito tempo desenvolvendo personagens pouco relevantes, somos colocados para acompanhar apenas Rui, em sua jornada de liberdade. É quando, também de maneira abrupta, o longa passa do drama para o romance, permeado por situações de insistência e uma trilha musical que se repetem em demasia. Tudo para, pouco depois, o filme se encerrar novamente no campo do drama familiar, e, sem querer soar repetitivo no uso da palavra, mas novamente de forma abrupta.

 

É curioso pois “Horizonte” teve inúmeras oportunidades anteriores para se encerrar de maneira satisfatória, seja na conquista da liberdade ou no encontro de uma parceira para Rui. Mas quando acaba, o que fica é a indigestão de um ato final incompreensível, que demonstra a confusão do roteiro de Dostoiewski Champangnatte, que deseja tratar tantos temas, sem saber em quais focar.

 

Muito disso também fica evidente na direção de Rafael Calomeni, cuja decupagem de cada cena parece revelar propostas diversas para um projeto que, ao final, soa como uma colcha de retalhos, mal costurada por fios finos demais, incapazes de sustentar uns aos outros. Pois assim é “Horizonte”, um longa que muda muito, rápido demais. Abre, a todo tempo, diversas linhas narrativas que jamais se fecham, e que nunca consegue debater quaisquer assuntos que coloca na mesa, pois apenas fala deles de maneira superficial e logo mais passa para o próximo. Ao final, nem mesmo consegue esclarecer aonde quis chegar, com seu desfecho abrupto e, na ausência de outra palavra, estranho.

 

E é triste que “Horizonte” não consiga acrescentar algo ao espectador, pois toda a atmosfera do interior brasileiro é bem captada pela direção de arte, e o elenco, encabeçado pelo carisma de Raymundo de Souza, é o que mais nos cativa a continuar assistindo, para descobrir como se dará a vida de Rui. Pena que o texto não colabora para um desfecho a este personagem tão humano e mundano.

 

Avaliação: 2/5

 

Horizonte (Idem, 2024)

Direção: Rafael Calomeni

Roteiro: Dostoiewski Champangnatte

Gênero: Drama

Origem: Brasil

Duração: 108 minutos (1h48)

Disponível: Cinemas (via A2 Filmes)

 

Sinopse: Rui é solteiro e mora sozinho nos fundos da casa do irmão, que acabara de falecer. Seu sobrinho se muda para ali, com a família, e sua vida se torna insuportável. É quando decide ir morar em uma “vila para idosos”, construída por uma ONG, e onde conhece Jandira.

(Fonte: A2 Filmes - Adaptado)

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