Com o primeiro capítulo de Horizon, Kevin Costner mostra que o western ainda tem vida, mesmo diante do desinteresse do público.
A carreira de Kevin Costner como cineasta evidencia bastante, antes mesmo da concepção de Horizon, sua paixão pelos westerns e épicos históricos norte-americanos. Sem contar os longas em que participou apenas em frente às câmeras, sua filmografia de produtor conta com diversas obras de época, e mais ainda os poucos filmes que dirigiu, todos fora da realidade do presente – incluindo um futurista pós-apocalíptico.
Dispondo de todos os recursos que juntou ao longo dos anos, Costner faz de Horizon seu grande sonho megalomaníaco: um épico western, em quatro partes com cerca de três horas cada, que busca homenagear e abraçar o tradicionalismo dos anos 50/60/70, enquanto trabalha a narrativa sob perspectivas atuais e históricas, sobretudo políticas, em meio a diversos arcos que, ramificados, se cruzam constantemente.
Considerando o viés conservador do cineasta, e a proposta igualmente conservadora de Horizon, há de pensar, com razão, nas possíveis problemáticas do longa. Felizmente, Costner parece bastante consciente dessa possibilidade, que afastaria, e certamente afastou, no lançamento dos cinemas norte-americanos, parte do público, e se esforça para construir sua narrativa com olhares críticos (mas não revisionistas) ao passado, e busca por uma dimensão até imparcial (apesar de não o ser) a respeito da história.
A título de exemplo, e com certeza o ponto mais discutível, os povos originários – indígenas - não são apresentados como vilões ou se sustentam como tais diante da câmera, apesar do infortúnio do antagonismo exercido durante a primeira hora de filme. A brutalidade de seus ataques, e a falta de misericórdia soam impactantes na forma como Costner aponta seu olhar para a violência, aproveitando-se de um caráter gráfico e denso para sensibilizar o público, em uma longa e complexa sequência de ação.
Acontece que, entre os diversos arcos que se entrelaçam, nas duas horas seguintes, a história escrita por Jon Baird, Kevin Costner e Mark Kasdan começa a desenvolver todo o contexto ao redor da construção da cidade de Horizon, que titula o longa. É nesse momento que nos é oferecida, ainda que um tanto camuflada e até romantizada pelas histórias dos colonos, a ameaça sentida e a invasão territorial, que pertencia aos indígenas, os quais o utilizam para caça.
A marginalização dos povos originários, inclusive, é muito bem vista sob a lente de um grupo que coleta e vende seus escalpos, observados com olhar de reprovação pelo diretor, que futuramente podem tornar-se vilões, pelo choque de uma criança em busca de vingança, e que caminha com eles.
A título da verdade, ainda pouco se sabe para onde caminharão as próximas partes de Horizon, por seu próprio caráter imprevisível, apesar dos indícios deixados pelo trailer da sequência, exibido ao final – algo bastante bizarro, admito.
A arriscada produção monumental de Costner, com custo aproximado de cem milhões de dólares, resultou em um filme que condensa em uma única obra diferentes abordagens do velho-oeste, desde as famílias criminosas, duelos, mineração de ouro fluvial, os imigrantes asiáticos, até a colonização de novos territórios, das caravanas ao estabelecimento, disputas territoriais com os povos indígenas e as movimentações da própria guerra civil sob o olhar do Norte.
A direção, desde o princípio, procura por uma homenagem moderna ao cinema do passado, como uma versão atual (e definitiva) dos westerns do século XX, repletos de ação, romance e passagens dramáticas, enquanto conta parte da história dos Estados Unidos. O resultado financeiro, ao menos em seu país de origem, foi um grande fiasco nas bilheterias, possivelmente motivado pelo desinteresse no gênero, que Horizon não conseguiu reacender, com sua proposta e nem mesmo com seu elenco. Mas este primeiro capítulo serviu muito bem, não apenas como uma introdução ao que ainda está por vir, e nem só para reforçar a boa habilidade de Kevin Costner como diretor, mas para mostrar que o western, ainda que sob uma visão mais conservadora, porém de forma alguma injusta, ainda tem bastante para contar. Aguardemos, agora, o segundo capítulo, ainda sem data de estreia no circuito comercial, apesar de sua passagem pelo Festival de Veneza.
Avaliação: 4/5
Horizon: Uma Saga Americana – Capítulo 1 (Horizon: An American Saga – Chapter 1, 2024)
Direção: Kevin Costner
Roteiro: Jon Baird, Kevin Costner e Mark Kasdan
Gênero: Drama, Western, Ação
Origem: EUA
Duração: 181 minutos (3h01)
Disponível: Max
Sinopse: Durante o período de expansão e colonização do oeste norte-americano no século XIX, muitas famílias se estabelecem em territórios que vão do Wyoming ao Kansas, mas encontram problemas com os povos nativos do local. Enquanto isso, um rústico caubói logo se vê em fuga com uma mulher e um garoto depois de matar um atirador que os perseguia.