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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Godzilla e Kong: O Novo Império, de Adam Wingard (Godzilla x Kong: The New Empire, 2024)

Reutilizando o que deu certo no filme anterior, Godzilla e Kong: O Novo Império foca mais nos monstros e na ação, mas ainda não consegue ser memorável.



O universo compartilhado de monstros gigantes da Warner surgiu da ideia de retomar uma antiga tradição do cinema japonês do século XX, em sua série de filmes nos quais monstros gigantes eram rivalizados (onde inclusive Godzilla e Kong já se encontram, no longínquo ano de 1962).

 

Mas apesar dos esforços em construir uma mitologia, o resultado desses dez anos e cinco filmes são nada mais do que um grande apanhado de mais do mesmo, com longas que não reinventam os personagens, mas tão somente repetem os mesmos enredos com ares mais contemporâneos e direcionados para uma ameaça global. A falta da originalidade de grande parte do universo ficou-me em evidência quando percebi que não lembro de quase nada dos filmes anteriores, assistidos há menos de três anos. Se algo me ficou a mente, foram algumas cenas de ação, especialmente de Godzilla Vs Kong (2021).

 

Com Godzilla e Kong: O Novo Império, tive mais dessa certeza ao sequer me lembrar de que Rebecca Hall e Brian Tyree Henry estavam também presentes no elenco do filme anterior. Naturalmente isto é algo que deriva dos desinteressantes arcos humanos dessas narrativas, importantes como pontes entre a humanidade e os monstros, mas não ao ponto de serem algo que efetivamente queremos ver.

 

E é muito curioso que O Novo Império é um filme autoconsciente, que reconhece as limitações do universo e seu caráter pouco memorável. Não à toa em diversos momentos abraça tanto os que não assistiram aos outros longas quanto os que não lembram de seus eventos, e recapitulam, mesmo que de forma expositiva (como tudo neste roteiro de Terry Rossio, Simon Barrett, Jeremy Slater e Adam Wingard) os eventos-chave que justificam seus acontecimentos presentes.

 

Nesse ponto, o que de melhor havia no anterior foi aprimorado aqui. Não apenas encontramos uma obra que é possível de se assistir isoladamente, mas também é autocontida – isto é, não deixa ganchos para sequência ou sequer para uma continuidade do universo. Pelo contrário, parte do status quo da anterior, bem explicado nos primeiros minutos, e desenvolve toda uma nova ameaça enquanto explora mais do ambiente da Terra Oca.

 

Essa escolha não apenas possibilita mais tempo em um ambiente pouco aproveitado na franquia até então, mas também a criação de um vilão que dá destaque e relevância ao elo mais fraco, o Kong, que assume o protagonismo nos combates e em sua missão de derrubar um tirano.

 

Quando inserida uma criança da mesma espécie (apelidada no filme de Little Kong) e outras criaturas semelhantes ao personagem, incluindo o antagonista, Adam Wingard vê uma possibilidade de introduzir uma forma de comunicação gestual que funciona bem tanto dentro da narrativa, para os personagens, quanto para o espectador, e assim evitando ainda mais exposição vinda do arco dos humanos, que dessa vez representa o menor dos problemas.

 

Quando foca em algo menor e mais contido, para dar destaque aos monstros, os reais protagonistas, Wingard fortalece o vínculo do espectador com os humanos, que possuem mais espaço para revelar um pouco de si. Isso funciona ainda mais pelo lado dramático oferecido por Rebecca Hall e Kaylee Hottle, da mesma forma que o bromance de Dan Stevens e Brian Tyree Henry serve bem como alívio cômico.

 

O maior dos problemas de O Novo Império, entretanto, é uma questão de proporção visual oscilante dentro do mundo construído por Wingard, especialmente no que tange ao Kong e sua relação com o ambiente em que está – algo que já aconteceu em Kong: A Ilha da Caveira (2017). A Terra Oca as vezes parece deu seu tamanho, assim como em outras cenas parece muito menor do que ele, dando uma estranha sensação em relação à altura do monstro.

 

Quando chega ao final, o longa nem sequer busca esconder seus segredos ou como se resolverá, senão como um episódio isolado dentro de um universo tão esquecível quanto esquecido. O resultado é, apesar do intermédio melhor, o mesmo dos outros filmes, que utilizam das criaturas para grandes cenas de ação e grandes destruições, mas sem sequer buscar qualquer ideia ou mensagem que ultrapasse o show visual (ou pelo menos algo mais emocional). Por isto que a comparação deste com o recente Godzilla: Minus One (2023) ou qualquer outro longa com a essência original dos monstros, por exemplo, se faz apelação. Mas também é exatamente por essa razão que este se transforma em um filme esquecível, onde uma ou duas cenas ficarão na memória do espectador depois de algum tempo.

 

Mas a lembrança definitivamente não parece ser o foco dos produtores, já que repetem neste exatamente toda a fórmula dos anteriores, se aproveitando, porém, mais dos monstros para o desenrolar da narrativa, o que torna o filme menos repetitivo e mais divertido, mas ainda não minimamente memorável.

 

Avaliação: 3.5/5

 

Godzilla e Kong: O Novo Império (Godzilla x Kong: The New Empire, 2024)

Direção: Adam Wingard

Roteiro: Terry Rossio, Simon Barrett, Jeremy Slater e Adam Wingard

Gênero: Ação, Aventura

Origem: EUA

Duração: 115 minutos (1h55)

Disponível: Cinemas (via Warner Bros.)

 

Sinopse: Godzilla e Kong enfrentam uma ameaça colossal escondida nas profundezas do planeta, desafiando a sua própria existência e a sobrevivência da raça humana.

(Fonte: IMDB - Adaptado)

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