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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Garra de Ferro, de Sean Durkin (The Iron Claw, 2023)

Para Sean Durkin, a maldição dos Von Erich não está ligada a uma herança sobrenatural, mas a uma criação baseada em valores insustentáveis.



O legado da família Von Erich na luta livre (Wrestling) é indiscutível, mas sempre que mencionado, tal nome acompanha a lembrança de uma maldição. Responsável por imensas desgraças, o que muitos acham ser algo sobrenatural é desmistificado por Sean Durkin em “Garra de Ferro”, ao conceder à maldição nome e sobrenome: Fritz Von Erich.

 

Nos primeiros minutos, o estabelecimento que se tem é o de um pai em busca de sustento para sua família, através da luta livre. Com um nome forte e conhecido no esporte, os filhos, agora adultos, sucedem seu legado, e abraçam consigo o sonho do pai, de conquistar o cinturão do mundial na categoria “peso pesado”.

 

Aos poucos, no entanto, essa união familiar em torno de um objetivo vai revelando o beco sem saída que é viver na casa dos Von Erich. Fritz, que nunca conquistou o cinturão mundial dos pesos pesados, tomado pela obsessão de levar o título para casa, colocou a responsabilidade de seu fracasso pessoal nas costas dos filhos, os criando, desde cedo, para sonharem como ele.

 

Mesmo que não tenhamos acompanhado a criação passo a passo, é nítida pela forma adulta de cada um (Kevin, David, Kerry e Mike) que as tragédias e decepções pessoais serviram de combustível para o pai manipulá-los a trilhar o caminho da luta livre, nos poucos momentos em que o personagem se aproxima emocionalmente dos filhos. São nessas oportunidades que Durkin mais revela a face egoística, ao situá-lo em planos que o colocam num grau de superioridade, deixando clara sua onipresença, especialmente na retirada do livre-arbítrio.

 

Em meio a todo esse culto à vitória e às conquistas, a masculinidade é exaltada de maneira tão exagerada que aos poucos se torna uma espécie de câncer, na medida em que todos são obrigados a reprimir seus sentimentos em prol de uma imagem homogênea, representativa de uma força que não é real.

 

Com essa repressão e angústia presa até a garganta, cada um definha à sua maneira, ao nunca superar seus erros, e achar-se insuficiente diante de qualquer fracasso. Com isso, a tragédia acompanha uma família amaldiçoada por um pai que criou seus filhos com base em valores corrosivos, renegando o diálogo e a proximidade.

 

A câmera de Sean Durkin sempre busca captar, para além do egoísmo, também essa distância do pai em relação aos filhos, na base da intimidação. Quando juntos os irmãos, porém, assim como durante as cenas de luta, a união é o que prevalece. É como se fossem um único organismo, que se apoiam mutuamente, ligados de tal forma que a ausência de um afeta a todos.

 

É nessa ideia, tão bem desenvolvida ao longo da narrativa, que a direção escorrega em um momento específico do terceiro ato, naturalmente mais lento por conta do pesar e das sucessivas tragédias dos minutos anteriores. Essa má decisão se dá em uma cena de pouquíssimos minutos, deslocada, que abraça um ar de espiritualidade (e até sobrenatural) incondizente com a proposta realista de todo o longa, que na tentativa de arrancar uma lágrima à base da força só consegue gerar constrangimento.

 

Apesar do estranhamento deste momento específico, “Garra de Ferro” é bastante sólido em sua proposta de mostrar a verdadeira razão da maldição dos Von Erich. Enquanto o esporte é representado de modo espetacular, a dor que existe por trás de seus personagens é sempre saltante, especialmente na forma do protagonista, o filho mais velho Kevin, em um grande trabalho dramático de Zack Efron, que o compartilha com todo um elenco que acredita e se comporta como uma família. As baixas são sentidas, e a tragédia, sempre à espreita pela pressão e falta de apoio real, se reflete em personagens fortes fisicamente, mas cuja fraqueza emocional é o estopim para o fim da maior parte deles.

 

Avaliação: 4.5/5

 

Garra de Ferro (The Iron Claw, 2023)

Direção: Sean Durkin

Roteiro: Sean Durkin

Gênero: Drama, Biografia

Origem: EUA, Reino Unido

Duração: 132 minutos (2h12)

Disponível: Cinemas (via California Filmes)

 

Sinopse: A verdadeira história dos inseparáveis irmãos Von Erich, que fizeram história no mundo intensamente competitivo do wrestling profissional no início da década de 1980. (Fonte: California Filmes)

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