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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Fúria Primitiva, de Dev Patel (Monkey Man, 2024)

Fúria Primitiva faz boa mescla do cinema indiano com as tradicionais vinganças norte-americanas, mas não aproveita de seu próprio universo.



A estreia de Dev Patel na cadeira de diretor em Monkey Man (ou Fúria Primitiva, no Brasil), é um exercício de semiótica interessante quando se analisa o estilo e qualidade de seu trabalho. Ao mesmo tempo que são notáveis seus vícios e erros comuns ao principiante no ofício, há uma conexão do cineasta quase que inconsciente atrelada ao seu protagonista, interpretado por ele mesmo, num sentido de evolução.

 

Da mesma forma que seu “macaco”, com e sem a máscara, constantemente busca domar sua dor e acaba entrando em uma jornada de vingança na qual precisa treinar para enfrentar o que há a seguir, sua direção segue uma linha parecida, na medida em que aos poucos compreende seu próprio personagem e o tom necessário para avançar a narrativa. Dessa forma, a ação que era antes desajeitada até na maneira como filmada aos poucos não melhora apenas na coreografia – naturalmente algo obtido através do treino do protagonista, o que faz parte e sentido dentro da trama -, mas também em como é filmada, a partir de planos limpos e um melhor domínio da geografia de cena, onde torna-se possível compreender o que se passa sem tanto esforço.

 

Esse exercício de Patel em melhorar a ação não parece algo proposital, mas fruto da experiência do ator dentro de seu próprio filme, o projeto piloto de uma possível boa carreira como diretor. É notável também o conhecimento acerca de suas influências, e a boa tentativa de misturar elementos típicos do cinema indiano com o estilo norte-americano de vingança.

 

No entanto, apesar de a mescla encontrar espaço dentro do gênero ação, há dificuldade por parte de Patel e os demais roteiristas, Paul Angunawela e John Collee, em articular essa união de forma que o universo e a narrativa não se tornassem superficiais.

 

A relação passado-presente, como de costume dentro do cinema de ação da Índia, sua maior inspiração, é quase sempre o elemento mais recorrente, que aqui se apresenta de pouco em pouco aos olhos do público. O mistério que se tenta construir não vai tão longe enquanto a montagem insere fragmentos do passado (em forma de “flashes”) com tanta constância que se torna facilmente antecipável a revelação da verdade. Tais momentos, porém, não escondem uma grande surpresa, mas são justamente a motivação de o protagonista levar a cabo sua vingança pessoal, em um uso dramático por parte da direção como forma de despertar alguma emoção no espectador.

 

Mas é difícil de atingir essa conexão ao ponto de se emocionar quando o próprio texto pouco se esforça para cria-la com o público, sobretudo no universo genérico em se insere. Certo de que todo esse arco se constrói a partir de uma discussão politizada, envolvendo luta de classes, genocídio, desigualdade social, corrupção e o culto às personalidades e partidos políticos, também sempre presentes no cinema indiano, mas pouco disso é realmente aproveitado para além de um mero pano de fundo.

 

Até mesmo a comunidade de transexuais acaba escanteada dentro desse mundo, usados apenas como uma muleta genérica, mas necessária, à jornada de vingança do protagonista. Até existe alguma menção às incompreensões com a qual são vistos pela sociedade como um todo, mas nunca algo de fato eloquente senão apenas mais um grupo marginalizado.

 

Assim, Fúria Primitiva acaba apenas por mesclar as temáticas e parte do estilo indiano com um thriller de ação norte-americano comum, inspirado por John Wick. A ação visceral e sem medo de ser violenta funciona bem, mas seu universo vazio e a narrativa pouco original transforma a experiência em algo não tão memorável, que não apenas um passatempo divertido, que bem lança Dev Patel ao mundo da direção cinematográfica.

 

Avaliação: 3.5/5

 

Fúria Primitiva (Monkey Man, 2024)

Direção: Dev Patel

Roteiro: Dev Patel, Paul Angunawela e John Collee

Gênero: Ação, Thriller

Origem: EUA, Canadá, Singapura, Índia

Duração: 121 minutos (2h01)

Disponível: Cinemas (via Diamond Films)

 

Sinopse: Kid é um jovem que ganha a vida em um clube de luta clandestino, onde, usando uma máscara de gorila, é brutalmente espancado todas as noites por lutadores mais populares. Após anos de raiva contida e uma vida dura, Kid encontra uma maneira de se infiltrar na elite da cidade e se vingar daqueles que tiraram o pouco que possuia.

(Fonte: Diamond Films / Sinny Comunicação - Adaptado)

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