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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Furiosa: Uma Saga Mad Max, de George Miller (Furiosa: A Mad Max Saga, 2024)

Furiosa tem uma boa origem, mas em filme genérico que perde o brilho ao se entregar demais a um fundo verde.


 

O que George Miller criou em Mad Max: Estrada da Fúria é incomparável. A partir de uma noção singular de cinema, o diretor valoriza a imagem para aprofundar a mitologia do deserto em meio a uma ação visceral e frenética, utilizando o diálogo apenas como acessório em um mundo puramente visual e perverso, repleto de desigualdades e destruído pelo desequilibrado senso de justiça do homem. A violência, tão comum, não descansa frente à infinita perseguição contra Furiosa, que representa um ideal de liberdade no qual Miller deposita a confiança de que o mundo ainda pode ser um lugar melhor.

 

Agora olhando para trás, em Furiosa: Uma Saga Mad Max, George Miller surge com a proposta de explorar o passado da personagem, originalmente interpretada por Charlize Theron e agora nas peles de Alyla Browne (criança) e Anya Taylor-Joy (adulta).

 

Antes de mais nada, é de se valorizar que Furiosa não busca ser um novo Estrada da Fúria – longe disso. É importante a decisão de trilhar novos caminhos, de forma que ambos os filmes possam individualizar-se, e não ser encarados como uma mesma coisa. Mas é inegável que a expectativa, por outro lado, estava nas alturas, afinal, mesmo com propostas distintas, são frutos de uma mesma árvore – não apenas em relação à franquia, mas também à mente por trás de tudo. Porém, enquanto o primeiro foi aos cinemas no ponto certo, este parece ter sido colhido cedo demais.

 

O roteiro assinado por Miller e Nick Lathouris estrutura-se em cinco capítulos que fazem um panorama da evolução de Furiosa, do sequestro, ainda quando criança, até se tornar um dos braços direitos do tirânico Immortan Joe. É uma grande jornada trágica, que não deixa de ser, também, um duelo com pretensões épicas, de uma garota levada muito cedo de sua família contra Dementus, o homem que tirou sua felicidade, sua infância e a obrigou a crescer cedo demais.

 

O vilão, vivido por Chris Hemsworth, funciona bem dentro de uma grande metáfora construída no entorno do amadurecimento de Furiosa, em uma representação do ódio como o denominador comum daquele universo, onde a violência é normalizada e a morte faz parte da vida de todos. Mas, por outro lado, sua presença na narrativa reduz-se consideravelmente a partir do momento que sua ameaça tem valor mais simbólico do que prático, afinal sua persona sequer é mencionada no outro filme.

 

Como uma prequel, Furiosa não consegue estabelecer qualquer surpresa ou elemento que gere real preocupação no espectador. Os novos personagens surgem desde cedo como descartáveis, e existe toda uma dificuldade em se construir qualquer vínculo emocional com eles, mesmo através dos relacionamentos românticos.

 

Tragédias é algo não falta em toda a vida de Furiosa, sobretudo em como estão em seu entorno através de todo tipo possível de violência, física e psicológica. Apesar de algumas passagens inspiradas visualmente – e Miller ainda valoriza muito mais a imagem em detrimento dos diálogos -, nem mesmo o olhar expressivo de Taylor-Joy é realmente aproveitado, na medida em que, apesar de suas lágrimas, a tragédia não parece gerar consequências marcantes ou ser parte determinante dos caminhos que irá trilhar, senão apenas usadas artificialmente como um aumento no ódio que sente por quem está ao seu redor e à quem responde, o que justificará suas ações futuras.

 

E a fragilidade de Furiosa não está somente no texto, que acaba soando previsível demais até para uma prequel, mas ainda assim possui elementos interessantes – vide a presença de um historiador na caravana de Dementus e uma satisfatória, mas não surpreendente, origem à personagem. A ação, infelizmente, também não funciona. Sendo impossível evitar a comparação, a visceralidade das sequências de Estrada da Fúria o tornou o filme cultuado que é hoje, através do privilégio dado aos efeitos práticos e sua boa mescla com o digital. A partir do momento que o presente longa abraça de vez os efeitos digitais, que passam de complementares para principais, o impacto se perde com o trabalho que parece finalizado às pressas e que muitas vezes não soa realista, como havia de se esperar.

 

O maior exemplo disso fica por conta do ataque ao caminhão-tanque principal, cena que referencia diretamente o filme anterior. Apesar da direção de Miller ainda manter-se consciente da complexidade da sequência e tornar a ação compreensível, o excesso de efeitos prejudica a imersão quando nada do que está na tela parece real, desde os atores em frente a um fundo verde, a perseguição composta por veículos que claramente não estão perto um do outro, e sobretudo das explosões sem vida e capotagens que desrespeitam as leis da física, que muito parecem um jogo de videogame e tiram a sensação de impacto.

 

E isso é o que incomoda. O excesso do digital, até mesmo em uma obra de George Miller, que, ao contrário dos outros Mad Max, se apegou demais ao fundo verde e se tornou artificial da pior forma, um dos maiores problemas, ao menos em minha visão, do recente cinema de ação, e especialmente em grandes produções como Marvel, DC e, em outro nível (bem mais baixo), Mercenários 4.

 

Furiosa até reúne alguns bons elementos da franquia em que se encaixa, mas perde a própria identidade com sua narrativa um tanto arrastada e sem muita personalidade, e se afunda especialmente pela falta de cenas de ação com algum impacto, artificiais na imagem, e pouco interessantes até pela falta de uma boa trilha, como nos demais. É um longa que ficará, ao menos para mim, esquecido e enterrado com seu aspecto genérico, e não épico ou memorável como Estrada da Fúria ou os demais.

 

Avaliação: 3/5

 

Furiosa: Uma Saga Mad Max (Furiosa: A Mad Max Saga, 2024)

Direção: George Miller

Roteiro: George Miller e Nick Lathouris

Gênero: Ação, Thriller, Drama, Aventura

Origem: EUA, Austrália

Duração: 148 minutos (2h28)

Disponível: Cinemas (via Warner Bros.)

 

Sinopse: Quando o mundo entra em colapso, a jovem Furiosa é sequestrada do Green Place das Muitas Mães e cai nas mãos de uma grande horda de motoqueiros liderada pelo Senhor da Guerra Dementus. Vagando pelo deserto condenado, eles encontram a cidadela controlada por Immortan Joe. Enquanto os dois tiranos lutam pelo poder e controle, Furiosa terá que sobreviver a muitos desafios para encontrar o caminho de volta para casa.

(Fonte: Ingresso.com)

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