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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Echo - Minissérie (Idem, 2024)

“Echo” inaugura o novo selo da Marvel, mas qualquer boa ideia da série é desperdiçada por uma execução pra lá de robótica.



Quando anunciada, há alguns meses, a criação de uma nova divisão da Marvel focada em produções de conteúdo adulto (e por aqui leia-se, com violência), e canônica, porém sem tanta influência no MCU, chamada de “Marvel Spotlight”, via-se uma chance de a produtora colocar a mão na massa para explorar, com liberdade e sem as amarras da classificação etária, heróis, anti-heróis e vilões com a brutalidade que lhes é pedida.

 

Sendo “Echo” a produção de estreia do novo selo, que faz presença tanto na Disney+ quanto no Star+, o aviso de discrição no início de cada episódio é tentador pela forma como sugerem a exploração da violência – e do “realismo”. O primeiro episódio, então, é promissor, ao abordar, de maneira resumida, a relação da protagonista, Maya, com seu tio de criação, Wilson Fisk, o Rei do Crime, enquanto é contado do assassinato de seu pai, seu acidente e tudo o que fez em nome de seu tio, em cenas de ação cuja coreografia remota ao estilo “John Wick”, atualmente na moda, com brutalidade e longos planos bem executados.

 

O segundo episódio traz interessantes elementos da ancestralidade de Maya, cuja cena de abertura nos leva para séculos no passado, durante um jogo entre aldeias indígenas, cuja razão de aspecto se abre de maneira a brilhar os olhos. O mesmo é feito no terceiro episódio, em outro momento do passado, agora no século XIX, cuja razão de aspecto se fecha e um filtro antigo, em preto e branco, é aplicado.

 

Entretanto, apesar dos ecos passados chamarem à atenção pela ancestralidade e as origens do povo indígena do qual Maya faz parte – ainda mais pela mitologia do MCU -, as melhores partes de “Echo” se encerram por aí. Pois todo o restante, ou melhor, o tempo presente, é escrito de maneira tão automática e corrida que parece ter sido obra de uma inteligência artificial (algo que pode ser explicado pela quantidade de créditos na elaboração do roteiro – 13 nomes!).

 

Para além desses elementos, que só vem a mostrar-se relevantes no episódio final, em uma das resoluções de narrativa mais preguiçosas já vistas em todo o universo da Marvel, o presente finge aprofundar-se em sua protagonista e na vingança contra o Rei do Crime, que não consegue ultrapassar diálogos limitados a sentimentos superficiais. É sempre tudo recheado de uma exposição tão forte que não há verossimilhança nem mesmo na forma com a qual as palavras são dispostas no texto.

 

Muito menos as atitudes se coadunam às personalidades. É muito difícil crer em um Wilson Fisk tão frágil e piedoso, mesmo que para com uma pessoa querida. Na realidade, sua presença é o que há de mais importante em “Echo”, já que a série parece indecisa em relação à sua protagonista, mas sempre muito precisa em abrir o coração do Rei do Crime e mostrar sua sensibilidade, mesmo que das maneiras mais superficiais possíveis (sua relação com o pai, a simbologia do martelo, e a corrida de arrego no episódio final são incompreensíveis, até mesmo para a proposta).

 

Assim, se nem mesmo a protagonista o roteiro da presente série consegue construir de maneira sólida, de forma à tornar seus atos e medidas compreensíveis – e nem adianta falar de “personalidade imprevisível” ou algo assim -, que dirá então o elenco secundário usado meramente como acessórios descartáveis; e a cultura indígena Choctaw é um simples pano de fundo, assim como toda a cidade de Tamaha.

 

E nem mesmo as pouquíssimas cenas de ação conseguem salvar esta série do tédio, quando a violência prometida se resume a míseras gotas de sangue, e a direção de Sydney Freeland e Catriona McKenzie não consegue, para depois do primeiro episódio, elaborar boas coreografia de ação, sempre artificiais e rígidas demais.

 

“Echo” merecia muito mais relevância e afinco da produtora do que recebeu, sendo tratada como mera adição de catálogo de streaming. Nisso, poderia explorar a cultura indígena Choctaw, a família da protagonista, sua relevância para a cidade de Tamaha, e os próprios ecos do passado, meros “deus ex machina” para o desfecho. No final, foi tudo muita expectativa para o banho de água gelada que a série dá no espectador após seu piloto, e é uma pena que nem mesmo a representatividade de Alaqua Cox, para as pessoas de origem indígena e pessoas com deficiência, seja algo de destaque aqui.


Avaliação: 1.5/5


Echo - Minissérie (Idem, 2023)

Direção: Sydney Freeland e Catriona McKenzie 

Gênero: Ação, Thriller

Origem: EUA

Duração: 5 episódios - 35 minutos em média cada episódio

Disponível: Disney+ e Star+


Sinopse: Maya Lopez deve enfrentar seu passado, se reconectar com suas raízes nativas americanas e abraçar um senso de família e comunidade para seguir em frente.

(Fonte: IMDB - Adaptado)

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