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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Donzela, de Juan Carlos Fresnadillo (Damsel, 2024)

Com a proposta de revisionismo, Donzela pouco subverte sua fantasia e se sustenta apenas em um protagonismo feminino superficial.



Dada a filmografia recente e estilo de projetos no qual Millie Bobby Brown costuma se envolver, Donzela carrega seu estilo da cabeça aos pés. Desde as primeiras palavras proferidas antes do prólogo, é notável tratar-se de uma obra que busca por uma espécie de revisionismo, ao subverter a ideia da “donzela indefesa à espera de um corajoso cavaleiro”, para trabalhar na independência e empoderamento desta mesma donzela, sob um aspecto feminista, tal como faz em Enola Holmes, também da Netflix.

 

A base da ideia que busca por um olhar diferenciado a um universo medieval encaixa referências aos contos do Rei Arthur e às obras de Tolkien da mesma forma que busca por seus próprios elementos de fantasia, pautados em no mundo real.

 

Acontece que é notável o aspecto ainda cru do argumento, na medida em que, quando aprofundado na escrita do roteiro, depositou foco demais em sua base e se esqueceu de desenvolver tudo o que há no entorno.

 

A primeira meia hora de Donzela até consegue chamar a atenção pelo design de produção e figurinos caprichados em seus mínimos detalhes, que nos imergem naquele castelo digno da perfeição de um conto de fadas, com uma família real e um príncipe encantado. Mas a armadilha grita. Todo o tempo dedicado a uma falsa aparência não consegue esconder que algo errado espreita aquele ambiente, que não poderia ser mais previsível, ainda mais depois do prólogo.

 

Quando a narrativa mostra sua verdadeira face, escondida atrás de uma folha de papel vegetal, fica visível a dificuldade do roteirista Dan Mazeau em articular o desenrolar dos eventos, muito restritos a inúmeras cenas de perseguição que nunca chegam à algum lugar, senão existentes para criar perigos resolvidos no instante decisivo e gerar alucinações e fantasmas que não se encaixam direito na proposta fantasiosa do universo, servindo apenas de soluções fáceis para guiar a personagem ao caminho desejado.

 

Mais uma vez, como em outras fantasias recentes da Netflix, uma reviravolta relacionada ao prólogo subestima a inteligência do espectador e antecipa, consideravelmente, as surpresas dos momentos seguintes, o que torna tudo ainda mais previsível.

 

E quanto mais se aproxima do fim, mais Donzela se mostra um filme despreocupado com a originalidade. O que se faz é seguir exatamente os mesmos caminhos de sempre, agora sob uma roupagem dita moderna, mas que se restringe ao protagonismo feminino, sem nem pensar em subverter qualquer outro elemento daquela fantasia, tão viva quando um fundo verde, muito visível nos momentos de ação. Quando em tomadas internas, sobretudo no castelo, mais uma vez a direção de arte salta aos olhos, mas os complementos gráficos em exagero tiram justamente o encanto dos elementos fantasiosos, mesmo que a ação seja bem coreografada e criativamente filmada pela direção do espanhol Juan Carlos Fresnadillo.

 

Assim, tudo o que não se refere diretamente à protagonista - num ótimo trabalho de Millie Bobby Brown, que carrega o filme nas costas -, fica perdido ou desperdiçado em meio a superficialidade da produção.

 

É o caso da madrasta, vivida por Angela Basset, uma grande atriz escanteada numa personagem de pouco destaque. Mais ainda é o caso dos antagonistas, especialmente a rainha de Robin Wright e o príncipe de Nick Robinson, cujos atores até buscam por alguma profundidade nos personagens, rejeitada pelo texto e pela direção de Fresnadillo, a qual não se preocupa com seus posicionamentos, tradições ou histórico, senão apenas com suas ações, suficientes para que sejam os vilões. Acontece que existe uma mitologia por trás que não tem lugar ou sequer é discutida, e poderia trazer um interessante debate na justificativa dos personagens para seus atos.

 

Dessa forma, Donzela encontra dificuldades no próprio desenvolvimento do universo em que se insere, cujos elementos no entorno do argumento central carecem de personalidade. Com toda essa fragilidade, então, a proposta de subversão cai por terra ao chegar na contradição de se inserir num mundo genérico, que repete os mesmos elementos de tantas outras fantasias medievais, mas aqui com personagens pouco expressivos e sempre unidimensionais. O que sobra é o trabalho de Millie Bobby Brown, uma das poucas coisas com personalidade no projeto, e algumas boas cenas de ação, mesmo que pouco relevantes à narrativa.

 

Avaliação: 2.5/5

 

Donzela (Damsel, 2024)

Direção: Juan Carlos Fresnadillo

Roteiro: Dan Mazeau

Gênero: Ação, Aventura, Fantasia

Origem: EUA

Duração: 110 minutos (1h50)

Disponível: Netflix


Sinopse: Uma jovem concorda em se casar com um belo príncipe, apenas para descobrir que tudo não passou de uma armadilha. Ela é jogada em uma caverna com um dragão cuspidor de fogo e deve confiar apenas em sua inteligência e vontade para sobreviver.

(Fonte: Google)

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