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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Dogman, de Luc Besson (Idem, 2023)

No retorno de Luc Besson à cadeira de diretor, os cachorros são a salvação de um homem incompreendido pela sociedade.



Desde o primeiro minuto de “Dogman”, Luc Besson já nos posiciona em relação à vida de seu protagonista a partir da citação inicial, atribuída ao escritor francês Alphonse de Lamartine: “Onde quer que haja um desafortunado, Deus envia um cachorro”.

 

Não haveria palavras melhores para descrever Doug, ou Dogman, como é chamado. Sua revelação ao público se dá na maneira como vive, na escuridão, escondido por trás de maquiagem, vestido como alguém que não é, disfarçando-se para ocultar-se de si, inventando um passado que não lhe pertence – e nem a ninguém -, para tentar esquecer a realidade e quem de fato é.

 

O que em um primeiro momento soa como algo insano, aos poucos torna-se compreensível, quando, ao ser levado preso e conversar com a psiquiatra Evelyn, Doug abre seu coração acerca de sua trajetória de vida.

 

A cada etapa da narrativa, por mais diferente que seja o cenário em que se desenvolve (e até o gênero predominante), o denominador comum é sempre o sofrimento. Seja quando aposta no thriller, no drama ou na ação, Doug sempre revela sua dor, mesmo que tente transparece-la de alguma forma. E sendo um homem solitário, sem grandes oportunidades na vida, e com deficiência, é como de D’us lhe mandasse os cachorros para salvá-lo, fazendo companhia e auxiliando nas tarefas diárias.

 

Tal construção, entretanto, só se torna possível com o comprometimento de Caleb Landry Jones na incorporação do personagem. Apesar da maquiagem pesada, utilizada na maior parte do tempo, é em seu olhar que a verdade está. Quando canta no palco da boate, seus olhos enchem de alegria, como em nenhum outro momento, sempre transparecendo tristeza e desconfiança em relação ao mundo.

 

Em todo esse meio, a obra, que apresenta uma estrutura quase episódica, possui dificuldades quando tenta articular algumas facetas de Doug, como sua visão política, relacionada àquilo que foi por ele praticado, enquanto criminoso aos olhos do Estado. Seria uma forma de mostrar seu lado humano, mesmo que não da melhor maneira.

 

Quando parte para a ação, é curioso que Besson deixa a violência gráfica de lado ao optar pela sugestão. Não por questões comerciais, de censura – até porque a classificação indicativa já é alta -, mas como cuidado para não tornar aquilo um espetáculo indesejado, quando o sofrimento já é suficientemente pesado.

 

Até porque, nisso tudo, o foco nunca é a parte, mas sim o todo, uma forma de justificar suas ações pelo sofrimento – com certo ar de reprovação -, que assim culmina em um simbólico (e catártico) desfecho.


Avaliação: 4/5


Dogman (Idem, 2023)

Direção: Luc Besson

Roteiro: Luc Besson

Gênero: Thriller, Drama, Ação

Origem: França

Duração: 113 minutos (1h53)

Disponível: Cinemas (Distribuição via Diamond Films)


Sinopse: Um menino maltratado pela família e hostilizado pelas pessoas ao longo de sua vida encontra a salvação por meio do amor de seus cães, tornando-se a excêntrica figura conhecida como “Dogman”. (Fonte: Diamond Films - Adaptado)



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