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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Dias Perfeitos, de Wim Wenders (Perfect Days, 2023)

Os Dias Perfeitos de Wim Wenders nos convidam a repensar em nossas rotinas, e viver mais cada momento.



Na correria do dia-a-dia, queremos abraçar o mundo, e nesse ritmo acelerado precisamos transformar as 24 horas de um dia em 48, para fazê-las render o máximo possível. Corremos, nos desgastamos, e, como consequência, esquecemos de viver.

 

Em Dias Perfeitos, o diretor alemão Wim Wenders, no auge de seus 78 anos de idade, reflete exatamente sobre essa correria do mundo atual. O que é um dia perfeito? O dia que mais fizemos coisas, que mais adiantamos nossas vidas, para acordar no seguinte e recomeçar tudo outra vez? Toda rotina pressupõe um ciclo, é claro, mas não significa que esse precise ser desgastante.

 

No meio desse ciclo vicioso, que Wenders sempre deixa em segundo plano, seu protagonista é um ponto fora da curva. Trabalhando como faxineiro de banheiros públicos em Tóquio, Hirayama vive um dia de cada vez. Sem a distração dos celulares (que fisga seu colega de trabalho) ou a pressa para terminar mais rápido, acompanhamos uma pessoa que troca a fala pelo ouvido, e que sente mais do que provoca.

 

O dia perfeito não é aquele dia corrido, mas aquele que é vivido e sentido. De que adianta estar vivo se não se pode aproveitar as pequenas coisas? Saborear um sanduíche no almoço, olhar para cima e visualizar as árvores, aproveitar um banho relaxante e até mesmo sentir o tempo em que se trabalha, dando e fazendo o seu melhor.

 

Sentir é o que tem sido constantemente esquecido. O tempo passa, e não damos atenção às pequenas coisas. O que deveria ser o normal torna-se o incompreendido pelo mundo atual.

 

Nessa lógica, Wenders constrói toda sua narrativa em torno do aproveitar as pequenas coisas. Não existe exatamente um enredo que tome o filme, senão a rotina de Hirayama e os diferenciais de cada dia. Pessoas entram, saem, contam, conversam. Tudo está nos detalhes. Existem, claro, as questões pessoais, normais a cada um de nós, que nos preocupam, anseiam e entristecem. É normal pensar sobre elas, e é impossível evitar certos sentimentos e angústias, mas é também preciso saber lidar com tais sensações, e aproveitar o máximo de nosso tempo.

 

Toda a obra de Wenders é uma grande porta à reflexão, ao que fazemos com nosso tempo, em nosso dia-a-dia, e como o aproveitamos. No final, é um grande ensaio, que através do formalismo cinematográfico, filma a vida da maneira mais realista possível, com sua máxima simplicidade. Muitas vezes assistimos às mesmas ações – rotina -, mas sob ângulos e perspectivas diferentes, em contato com pessoas diversas ou até outro clima. É sobre acordar todos os dias, olhar para cima, e sorrir quando se vê o azul do céu, ou o nublado das nuvens. É sobre sentar no parque para comer um sanduíche entre um turno e outro de trabalho, olhar para cima, e visualizar a komorebi (o brilhante gerado entre a luz e sombra criado pelas folhas, com o vento, conforme o próprio filme, em seu ultimo minuto, após os créditos).

 

Dias Perfeitos, em toda sua simplicidade, que revela a delicadeza do cinema de Wenders, me fez lembrar de algo que minha mãe sempre fala, para tudo: seja o que for fazer, quanto tempo levar e o trabalho que der, faça com amor, e aproveite cada minuto – eles são únicos.

 

É um convite de Wenders para o sentir, e para repensar em nosso dia-a-dia. E vem em ótima hora, onde muito se tem visto pessoas resumindo o cinema a roteiro, enredo e história, e esquecido que a experiência audiovisual vem justamente da imagem e do som, e não necessariamente, ou apenas, do que se conta em tela.

 

Avaliação: 5/5

 

Dias Perfeitos (Perfect Days, 2023)

Direção: Wim Wenders

Roteiro: Wim Wenders e Takuma Takasaki

Gênero: Drama

Origem: Japão, Alemanha

Duração: 123 minutos (2h03)

Disponível: Cinemas (via O2 Play/Mubi)

 

Sinopse: Hirayama concilia seu trabalho como zelador dos banheiros públicos de Tóquio com sua paixão por música, literatura e fotografia. Sua rotina é lentamente interrompida por encontros inesperados que o forçam a se reconectar com seu passado.

(Fonte: IMDB)

 

 

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