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  • Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Deadpool & Wolverine, de Shawn Levy (Idem, 2024)

A tão esperada reunião entre Deadpool e Wolverine chega em um filme vazio, egocêntrico, e que usa da oportunidade apenas para a autopromoção.



Quando anunciado, após a aquisição da finada Fox pela Disney, que o terceiro filme de Deadpool seria em uma união com o Wolverine de Hugh Jackman, eu não fazia ideia do que esperar. Talvez, se em algum momento criei expectativas, seria de redimir o fiasco dos personagens em Origens: Wolverine, uma tentativa de franquia que não emplacou, e que menos ainda soube aproveitar qualquer elemento de ambos, já à época na pele dos mesmos atores.

 

Mas Deadpool e Wolverine deixava dúvidas em como a Disney lidaria com seu primeiro filme com classificação indicativa alta, inserido dentro de seu universo cinematográfico, até então limitado à produções com classificação indicativa mais baixa. Que seria um sucesso não havia dúvidas, não à toa todos os três longas que a Fox lançou neste formato não só tiveram bons resultados de bilheteria, mas também se tornaram queridos pelo público. E, não surpreendentemente, esses filmes foram apostas no Deadpool e no Wolverine (com a despedida de Jackman e Patrick Stuart de seus clássicos personagens em Logan).

 

Não que filmes necessariamente tenham suas memórias manchadas por outros – até porque os anteriores jamais deixarão de existir -, mas, arriscando soar, e soando, contraditório, Deadpool e Wolverine é uma mancha à memória de Logan. Não pela maneira como brinca com o personagem e os eventos daquele filme (algo que Deadpool 2 já havia feito), mas pela forma como faz Hugh Jackman retornar ao papel, após uma bela despedida, apenas para protagonizar, junto de Ryan Reynolds, essa grande propaganda paga – e bem cara -, construída como um filme de duas horas.

 

Pois Deadpool e Wolverine é um filme completamente moldado às bases da valorização de uma empresa. A metalinguagem e quebra da quarta parede, comuns ao estilo dos longas de Deadpool, troca a piada de dialogar com o público para transcender ao próprio universo fazendo comentários com a aquisição da Fox, o MCU e, por mais de uma vez, citando o nome do Kevin Feige como o grande chefe. Se ao menos se restringisse a uma passagem em específico, até poderia soar engraçado, mas insistir nisso o tempo todo faz com que se crie uma barreira no entorno da própria obra, impedindo a imersão que clama a experiência cinematográfica.

 

Porém, o buraco é mais fundo do que apenas citar o nome de Kevin Feige (várias vezes). A Marvel faz uso desses elementos, em diversos momentos, para mostrar uma autoconsciência de suas próprias falhas, e tentar compensar seus erros recentes para com os fãs. Mas colocando a mão na massa, para a elaboração de uma obra mais profunda, e com uma narrativa interessante, autoral? Claro que não. Fazem isso da maneira mais fácil e preguiçosa que conhecem, sabendo que, lamentavelmente, vai funcionar: através do puro “fan-service” – aqui, leia-se, com inúmeras participações especiais a todo tempo.

 

O roteiro escrito à dez mãos (Ryan Reynolds, Rhett Reese, Paul Wernick, Zeb Wells, Shawn Levy), ao contrário, por exemplo, de Sem Volta pra Casa (que já é lotado de fan-service, mas dentro de um mínimo contexto e interação entre si) não tem interesse na construção de qualquer narrativa, mas apenas e tão somente em colocar personagens antigos, e seus intérpretes originais, para contracenarem juntos, e lutar em uma cena de ação tanto faz, que não tem qualquer diferença.

 

Falta uma história, um propósito narrativo para existir, que ultrapasse a mera superfície. Objetivos simples e amplos não necessariamente levam a narrativas genéricas - existem inúmeros filmes de heróis mesmo em que o “salvar o mundo” é dotado de originalidade, com uma jornada que importa ao espectador. Deadpool e Wolverine estabelece algo extremamente básico, apenas para justificar segmentos de participações especiais, que de maneira frágil constroem uma ponte entre si, como esquetes.

 

Isoladamente, até são engraçadas, e algumas participações surpreendem pela forma como o texto subverte a expectativa e por brincar com o inesperado, mas no fundo é apenas isso também: uma participação especial, focada em um segmento específico.

 

É triste que Shawn Levy é um diretor com mais criatividade e ambição do que apenas articular esquetes cômicas com participações especiais em frente à enormes telas de fundo verde e azul – a própria ação é escanteada, com exceção da boa luta no carro, e da trilha musical escolhida. Em Free Guy, outra de suas colaborações com Ryan Reynolds, por exemplo, trabalha com recursos semelhantes à Deadpool de maneiras muito mais interessantes do que o feito aqui, a partir de um universo único, também repleto de referências e ação, mas com algo interessante para contar e uma reflexão sobre liberdade.

 

E antes que falem que não tenho senso de humor, Deadpool e Wolverine conseguiu, dentre suas inúmeras piadas, me fazer rir. Quando saí do cinema, estava com boas impressões, até começar a refletir sobre o que o filme realmente havia se proposto a fazer. Havia tanto potencial para uma boa história de colaboração entre personagens queridos, desperdiçada por um estúdio ganancioso, que usou dessa união como oportunidade para autopromoção (quando não está fazendo propaganda de carros ou bebidas), recheado com violência, piadas e referências. Até devolveram à característica tagarela de Wade Wilson (um pouco apagada no segundo longa), mas somente para usarem suas palavras de forma a transformar o filme num mero produto vazio, que não tem nada a comunicar, senão brincar consigo e apenas falar de si o tempo inteiro.

 

Avaliação: 2/5

 

Deadpool & Wolverine (Idem, 2024)

Direção: Shawn Levy

Roteiro: Ryan Reynolds, Rhett Reese, Paul Wernick, Zeb Wells e Shawn Levy

Gênero: Ação, Comédia, Super-Heróis

Origem: EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia

Duração: 128 minutos (2h08)

Disponível: Cinemas (via Disney)

 

Sinopse: Deadpool recebe uma oferta da Autoridade de Variância Temporal para se juntar ao Universo Cinematográfico Marvel, mas em vez disso recruta uma variante do Wolverine para salvar seu universo da extinção.

(Fonte: IMDB)

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