A imaturidade de Polite Society impede o aprofundamento de boas discussões, enquanto não consegue dosar o humor com a seriedade.
Foi através de um certo barulho e comentários elogiosos que encontrei Polite Society, uma comédia de ação com um pôster chamativo, ar de originalidade, e que chegou ao Brasil com bastante discrição, sem passagem pelos cinemas e menos ainda alarde enquanto no streaming. Talvez o título nacional escolhido também não colabore – afinal, de “Sociedade Educada”, em tradução livre, o filme passou a ser chamado de Belas e Recatadas, o que mal se adequa, objetivamente, à proposta, senão por um fraco jogo de palavras restrito ao Brasil e que mais afasta do que aproxima interessados.
Em toda a jornada pela qual passa a protagonista de Polite Society, o maior atributo do longa está na mescla de seu estilo. Com claras homenagens à animações de artes marciais (como as que passavam na finada TV Globinho nos anos 2000), a roteirista e diretora Nida Manzoor constrói todo seu universo em torno de lutas corpo a corpo como forma de se resolver questões do dia a dia, com impactos mínimos, evidentemente, mas efetivos, que representam as mais puras vontades humanas, na maior parte das vezes repreendidas pelo decoro social imposta a nós desde que nascemos, como forma de promover a convivência harmoniosa. Nesses momentos, a atmosfera de jogos de videogame paira no ar, e todos se unem para lutar ou assistir a ousados golpes em câmera lenta e astutos movimentos de luta para um lado e para outro.
A ação estilizada é o coração de Polite Society, enquanto aproveita do contexto que cria para, além de esboçar as humanas vontades primitivas, também é utilizada para debater a desaprovação familiar, obsessão e até mesmo a solidão, muito disso na forma de sua vilã caricata, vivida por Nimra Bucha, que não só rouba a cena, mas também encarna todo o estranhamento do universo em que está e abraça o estilo cafona dos antagonistas de desenhos animados com seus sorrisos maléficos e a conspiração que lidera.
No entanto, em muitos momentos o longa se deixa levar por seu universo, como se o sentimento de nostalgia que gera fosse suficiente para tirar o peso das fragilidades do roteiro, na medida em que demonstra ter muitas ideias para propor, mas sem tanto a oferecer, promovendo seus debates com certa imaturidade, sem querer se aprofundar, algo que fica nítido com o desfecho dado à narrativa.
Existe uma grande relevância em tratar do amadurecimento; a vida em famílias conservadoras, e o medo de decepcioná-los; a busca pelo sonho e as consequências geradas por uma grande mudança. Ao mesmo tempo tenta que se levar a sério nas discussões, ainda que com irreverência, a direção de Manzoor também quer brincar de espionagem e se esgueirar entre temáticas de ficção científica, que apesar da criatividade, não encontram espaço para tanto, e desviam a atenção daquilo que seria realmente importante para debater.
Até aí, Polite Society tem sua relevância, e é notável em como se inspira em outros fenômenos recentes, como Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, para tratar de temas sérios com ação estilizada e irreverência. Mas nisso, acaba se perdendo na proposta ao não saber dosar seus objetivos, resultando em um projeto com boas intenções, mas que acaba incorrendo em soluções imaturas e até ingênuas para suas próprias pretensões.
Avaliação: 3/5
Belas e Recatadas (Polite Society, 2023)
Direção: Nida Manzoor
Roteiro: Nida Manzoor
Gênero: Ação, Comédia
Origem: Reino Unido
Duração: 104 minutos (1h44)
Disponível: Telecine (e para alugar/comprar)
Sinopse: Ria acredita que deve salvar sua irmã de um casamento arranjado. Com a ajuda das amigas, ela tenta realizar um ambicioso plano em nome da independência e da irmandade. (Fonte: Telecine)
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