top of page
Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Baghead: A Bruxa dos Mortos, de Alberto Corredor (Baghead, 2024)

Apesar de muito estabelecimento, “Baghead: A Bruxa dos Mortos” não segue as regras do próprio jogo.



A premissa de “Baghead” abre uma enorme gama de possibilidades em se trabalhar a temática do luto a partir da exploração dos poderes de uma bruxa que vive no subsolo de um bar, aprisionada, e com a capacidade de trazer os mortos de volta a vida, mesmo que por alguns poucos minutos.

 

Inicialmente, essa premissa até funciona com a apresentação da complexa situação financeira e emocional da protagonista, os problemas com seu pai, e o bar que acabara de herdar. Existe toda uma angústia inerente à personagem de Freya Allan que vai no caminho de desafiar as últimas mensagens de seu recém-falecido pai, que a alertou sobre os perigos e cuidados com a “inquilina” do bar.

 

O primeiro contato com a bruxa, descoberta com a entrada do personagem de Jeremy Irvine à narrativa, é dotado de certa apreensão pelo não conhecimento de seus poderes, e menos ainda da regra dos dois minutos (após esse tempo, a bruxa assume a mente da pessoa falecida e tenta atingir aquele que a trouxe de volta).

 

No entanto, “Baghead: A Bruxa dos Mortos” quebra constantemente as regras do jogo que ele mesmo estabelece. A direção de Alberto Corredor tem enorme dificuldade em articular uma simples dinâmica de apenas dois minutos, ao nunca trabalhar o tempo como elemento das cenas com a bruxa. Às vezes mais rápido, as vezes mais devagar, a vilã assume a conversa quando o roteiro, assinado por Christina Pamies e Bryce McGuire, este último do também fraco “Mergulho Noturno”, julga ser conveniente – e por isso, leia-se: quando acha que não há mais informações para nos passar.

 

Cada momento de possessão revela uma informação crucial acerca de uma pequena teia de personagens que interagem entre si. Confesso que até certo ponto pode ser surpreendente pela primeira virada narrativa dada na figura de Irvine, mas cuja insistência do texto (e da protagonista) em sua proximidade sem qualquer desconfiança beira o inverossímil.

 

Já a bruxa tem toda sua construção feita pelo máximo da superficialidade e por meio de ideias recicladas de outros longas. Sua história é contada através de um “flashback” expositivo bastante clichê, e a possessão, inclusive pela maneira como é filmada em alguns momentos por Corredor, lembra muito de “Fale Comigo”, especialmente pelos movimentos de 90º com a câmera. No entanto, falta muito impacto. A violência psicológica se baseia em diálogos artificiais, notavelmente comandados pela força demoníaca, cuja virada de personalidade não tem nada de sutileza; a violência física, apesar do potencial, é severamente limitada pela classificação PG-13; e os jumpscares, quando tentados, não assustam pela falta de criatividade em sua construção previsível.

 

Todo o ambiente do porão, bastante simples e apresentado com clareza, se confunde rapidamente nos momentos de possessão, bem utilizados para assustar os personagens com traumas passados – a cena do carro é um ótimo exemplo disso. Mas essa confusão se faz presente até mesmo nas cenas mais simples, e se estende ao próprio bar, em razão dos inúmeros cortes da montagem de Jeff Betancourt, que dificultam nossa compreensão espacial.

 

Com tudo isso, “Baghead” até poderia se tornar um filme memorável caso tivesse interesse e criatividade para sair de uma narrativa básica e explorar mais a fundo seus personagens. Mas da maneira como se constrói, o filme é uma enorme compilação de clichês mal aproveitados por Alberto Corredor, que expõe demais seus mistérios (com direito a uma cena final de recapitulação que não acrescenta nenhuma informação) e assusta de menos, se encerrando sem nem mesmo conseguir satisfazer o espectador com alguma atmosfera de terror ou sequer um jumpscare bem executado.


Avaliação: 1/5


Baghead: A Bruxa dos Mortos (Baghead, 2024)

Direção: Alberto Corredor

Roteiro: Christina Pamies e Bryce McGuire

Gênero: Terror, Thriller

Origem: Reino Unido

Duração: 94 minutos (1h34)

Disponível: Cinemas (via Imagem Filmes)

 

Sinopse: Após o falecimento de seu pai, Iris herda um antigo bar e se depara com um segredo obscuro: o local abriga uma entidade capaz de incorporar os mortos. Tentada a explorar os poderes da criatura e ajudar pessoas desesperadas em troca de dinheiro, Iris mergulha em um terreno perigoso. (Fonte: Imagem Filmes - Adaptado)

10 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page