Bagagem de Risco se aproveita do clima natalino para potencializar sua ameaça, em um thriller inventivo que respeita o espectador.
Todo ano, nesta mesma época, a velha discussão vem a tona: Duro de Matar é um filme de Natal? Há alguns anos já deixei meus dois centavos sobre o assunto, mas sempre gosto de reforçar que é plenamente possível considera-lo um filme de Natal.
Nessa mesma linha de pensamento, recentemente o diretor espanhol Jaume Collet-Serra trouxe à baila mais conteúdo para esse debate, já que seu novo longa, Bagagem de Risco, caminha exatamente pelo mesmo lugar. Depois de alguns anos trabalhando com Dwayne Johnson em seus últimos projetos (Jungle Cruise e Adão Negro), o cineasta agora retorna aos seus tradicionais thrillers de ação que outrora dirigiu, muitos deles protagonizados por Liam Neeson, se aproveitando de uma mesma fórmula, mas sempre com algo diferente.
A base deste, como também a de outros filmes do diretor (como O Passageiro) é a de uma pessoa comum envolta, por acidente ou ironia do destino, em uma grande conspiração, que ameaça diretamente não apenas a sua própria vida, mas também a de seus entes queridos e demais pessoas ao redor, conhecidas ou não. No filme da vez, a vítima é um jovem funcionário do TSA (Transportation Security Administration), aspirante a policial, que trabalha na segurança do aeroporto de Los Angeles, e se torna refém de um terrorista invisível, com objetivos incertos, que lhe dá ordens a partir de um ponto eletrônico.
Como se ameaçar um aeroporto por inteiro já não fosse suficiente ao antagonista, a grande sacada de Bagagem de Risco é justamente aumentar o teor da ameaça e a sensação de emergência ao situar o filme durante o Natal. Superlotado, Serra estabelece muito bem seu ambiente a partir dos planos aéreos, que visam mostrar a dimensão do aeroporto, e mais ainda a quantidade de pessoas que podem ser afetadas, no constante entra e sai de gente.
Um dos grandes trunfos deste longa é que, além de claramente posicionar seu público em meio ao conflito, o roteiro de T.J. Fixman é cuidadoso o suficiente para também não o subestimar. Claro que um pouco de conveniência se faz necessária para encaixar cada personagem em seu devido lugar e, assim, dar início a narrativa, mas o desenrolar dos eventos segue por uma linha bastante verossímil e realista.
Existe todo um código pelo qual o filme se molda, nas formas de articular os arcos do protagonista, vivido muito bem por Taron Egerton, e do vilão, também muito bem na pele de Jason Bateman. Não só dois atores competentes, mas suas interações, permeadas pelo medo sentido pelo primeiro, e de um cinismo no caso do segundo funcionam muito bem para explorar tanto as ambições e frustrações pelas quais passam o protagonista, mas também para investigar as reais intenções do antagonista, bem como também a filosofia por detrás do ataque.
A mesma preocupação do roteiro também é válida quando em relação ao excesso de exposição, evitada a partir de meios criativos com o uso do plano da imagem, como as reportagens jornalísticas pesquisadas pela personagem de Danielle Deadwyler em determinado momento, que conduz uma investigação até certo ponto paralela, ainda que não tenha certeza da dimensão completa do que está acontecendo.
Talvez o longa apenas se exceda quando parte para a ação, especificamente em uma cena que envolve Deadwyler e Logan Marshall-Green, ao abandonar momentaneamente seus limites mais contidos para um excesso de destruição absurdo que vai um pouco além daquilo que propõe.
No mais, Bagagem de Risco é um filme honesto, em como trata e envolve seu espectador, assim como também é capaz de manter, durante quase duas horas, um clima de tensão constante, se encerrando no tempo certo. Não é nenhuma reinvenção da roda, mas se aproveita bem do clima natalino como potencializador da ameaça, e até referencia, de boas maneiras, Duro de Matar 2, que também se passa durante o Natal, e em um aeroporto – apesar das propostas próximas, mas diversas, é claro.
Avaliação: 4/5
Bagagem de Risco (Carry-On, 2024)
Direção: Jaume Collet-Serra
Roteiro: T.J. Fixman
Gênero: Thriller, Ação
Origem: EUA
Duração: 119 minutos (1h59)
Disponível: Netflix
Sinopse: Um viajante misterioso ameaça e chantageia um jovem agente da TSA para que ele deixe uma bagagem perigosa passar pela segurança e entrar em um voo no dia de Natal. (Fonte: IMDB)
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