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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | Argylle, de Matthew Vaughn (Idem, 2024)

Sustentado apenas por elenco e reviravoltas, “Argylle” se estende para além do necessário e subestima o espectador.



Ao longo dos anos, o cineasta Matthew Vaughn foi-se provando um grande nome dentro do cinema de ação, estando no comando de longas como “Kick-Ass”, “X-Men: Primeira Classe” e, sobretudo, com a franquia “Kingsman”, na qual atinge o máximo de seu potencial naquele divertido universo que satiriza, sem perder a seriedade, o mundo da espionagem.

 

Com o banho de água fria dado em “The King’s Man”, um bom filme lançado como descarte em uma data tenebrosa, perdido no meio do catálogo da falecida Fox na época de sua aquisição pelo conglomerado Disney, ficamos alguns anos sem Vaughn aparecer. Até que, agora em fevereiro de 2024, “Argylle” vê a luz do dia.

 

Este novo thriller de ação, comédia e espionagem funciona como uma tentativa da Apple de lançar a primeira franquia original de seu streaming, com breve lançamento nos cinemas antes de chegar à plataforma (o mesmo que fizeram com “Assassinos da Lua das Flores” e “Napoleão”). Com um orçamento de centenas de milhões de dólares, a experiência anterior de Vaughn o fazia a pessoa perfeita para ficar à frente deste novo projeto. No entanto, a pergunta que fica é: será que existe chance de uma sequência acontecer?

 

A premissa de uma escritora de livros de espionagem, vivida por Bryce Dallas Howard, imersa em uma trama de espionagem real funciona em “Argylle” quase como numa espécie de “Um Faz de Conta que Acontece”, quando suas histórias fictícias tornam-se reais.

 

Em um primeiro momento, existe toda uma desilusão por parte da escritora em relação ao mundo real, e a direção de Vaughn aproveita bem tal sentimento da protagonista ao intercalar o estereótipo do espião - Henry Cavill – com o espião do mundo real, na pele de Sam Rockwell, algo que funciona bem na primeira sequência de ação, mas que, em virtude da repetição, vai-se tornando cansativo.

 

O roteiro manipulativo de Jason Fuchs tem como seu alicerce as reviravoltas. Num primeiro momento, o ar de desconfiança que paira no ar funciona enquanto, junto à protagonista, precisamos refletir sobre quem é ou não é confiável. Aos poucos, as viradas narrativas tornam-se cada vez mais frequentes, vindas a cada dezena de minutos, e perdem o sentido a partir do momento em que a narrativa nos desconecta da protagonista, quando a mesma se inteira da trama de espionagem, e nos deixa de fora para continuar recebendo as reviravoltas.

 

A partir desse momento, as surpresas passam a ser apenas elementos da montagem para continuar pegando o espectador desprevenido, enquanto todos em tela já estão por dentro dos acontecimentos. Onde antes havia uma abertura para que participássemos mentalmente da narrativa agora não há mais nada, e é como se fossemos colocados atrás de um vidro, sem mais a possibilidade de antecipar algum passo ou pensar junto da protagonista o que de fato está acontecendo.

 

À medida em que se aproxima do fim, “Argylle” se arrasta e vai se utilizando de recursos narrativos cada vez pobres, abusando da exposição, especialmente por meio dos diálogos, chegando até a subestimar a inteligência do espectador, quando urge a necessidade de explicar verbalmente o que já havia sido amplamente mostrado.

 

A própria ação vai perdendo o impacto e a fluidez na medida em que abraça um estilo absurdo que ultrapassa as boas coreografias dirigidas por Vaughan, e os efeitos artificiais ressaltam uma tela verde que aos poucos tira a imersão (a cena da explosão do apartamento é o maior exemplo disso). Até a classificação indicativa PG-13 atrapalha um pouco nisso quando o filme fica limitado a uma baixa dose de violência. Mas, por outro lado, deixo menção positiva à cena da ação no corredor com fumaça colorida, que até lembra vagamente a cena da igreja, de “Kingsman”, pela forma como é montada, a qual trata a ação como forma de dança.

 

Enfim, apesar do elenco estrelar reunido em “Argylle”, que bem trabalha junto, a quantidade de reviravoltas, e a forma como são dispostas, deixam a impressão de uma obra pensada para se sustentar apenas em “plot twists”, atendendo uma demanda de mercado (e também um algoritmo) que clama por isso. De todo, muitas viradas narrativas não são ruins, desde que não subestimem o espectador, como é o caso aqui.

 

E se haverá sequências, que sejam mais honestas do que este filme, e não cedam à ganância e sede de dinheiro, visto que é deixado um gancho no último minuto, e mais uma cena pós-credito que abre a possibilidade de um spin-off.

 

Avaliação: 2/5

 

Argylle (Idem, 2024)

Direção: Matthew Vaughn

Roteiro: Jason Fuchs

Gênero: Ação, Thriller, Comédia

Origem: EUA, Reino Unido

Duração: 139 minutos (2h19)

Disponível: Cinemas (via Universal Pictures / em breve na AppleTV)

 

Sinopse: Elly é uma renomada autora que ficou conhecida por uma série de romances de espionagem que acompanham o agente Argylle. Porém, inesperadamente, a trama de Elly deixa de ser apenas uma ficção e acaba se tornando realidade, colocando a escritora no centro de uma complexa e perigosa teia de trapaças e assassinatos. Com a ajuda de Aiden e o gato Alfie - seu fiel companheiro - Elly deve lidar com as consequências do encontro entre o mundo real e fictício.

(Fonte: Google - Adaptado)

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