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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | A Sociedade da Neve, de J. A. Bayona (La Sociedad de La Nieve, 2023)

A perseverança e o esforço coletivo como as chaves para a sobrevivência em uma situação extrema.





Histórias reais envolvendo tragédias exigem um certo cuidado quando dramatizadas em uma obra audiovisual. Pois não está se falando de algo fictício, que pode acontecer na realidade, mas sim de algo que de fato aconteceu, deixou vítimas e traumas em pessoas envolvidas direta e indiretamente com o caso.

 

A adaptação cinematográfica co-escrita e dirigida por J. A. Bayona sobre o caso em questão mostra exatamente a empatia do cineasta para com as pessoas envolvidas com o acidente de avião, que caiu nos Andes em 1972. Levando um time universitário de rúgbi do Uruguai para disputar um campeonato no Chile, a obra foca nas formas de sobrevivência dos jovens e em sua busca por ajuda.

 

Existe todo um desenvolvimento anterior ao acidente, para estabelecer algumas de suas principais figuras narrativas e a dinâmica entre elas, quando jogadores de rúgbi e quando amigos. É uma forma de nos familiarizarmos com parte daquele grupo, que ficará preso em uma das mais remotas regiões do planeta, e encontrará neles mesmos a forma de não cederem à natureza.

 

De maneira muito respeitosa, Bayona constrói seu filme através da imersão. Logo, a direção busca pelo desespero no momento do acidente, explicando o erro do trajeto e a motivação da queda poucos minutos antes. Na queda-livre do avião, destaca-se todo o caos e a separação de suas partes entre as montanhas da cordilheira, cruciais na busca por contato com o mundo afora.

 

Isolados, conforme o tempo passa, o longa deixa cada vez mais clara a improbabilidade de que sejam encontrados – o rádio funciona convenientemente para este fim, levar um pouco da situação do mundo exterior para a o isolamento na neve, aquele microcosmo social surgido pelo acaso. Junto aos personagens, tememos pela falta de comida, água, descanso, calor, quando presos em um local alto, frio e com ar rarefeito. E a solidão é sempre bem enfatizada pela fotografia, que contrapõe a vastidão das montanhas gélidas com a claustrofobia da carcaça do avião, usada como abrigo.

 

No entanto, para além do respeito e empatia, o diferencial de “A Sociedade da Neve” é o como o filme desenvolve a necessidade das vítimas de perseverança e organização, ao impô-los desafios cada vez maiores, e deixar claro que a sobrevivência de cada um dependia, majoritariamente, de um esforço coletivo (o que explica a distância tomada pelo longa quanto a seus personagens em alguns momentos), justificando, muito bem, seu título.

 

(Parágrafo com spoilers) Porém, a escolha de um narrador é algo que foge um pouco da proposta adotada. Não apenas por conferir-lhe um toque de individualidade, que conflita com a ideia do coletivo, mas especialmente pela escolha de ser um personagem que não sobrevive até o fim. As passagens poéticas até contribuem para a atmosfera adotada, mesmo que não sejam essenciais para qualquer estabelecimento, e o falecimento do narrador e a continuação da narração póstuma tornam sua presença ainda mais dispensável. Talvez, nesse caso, pudesse ser mais interessante a pluralidade de narradores, revelando pensamentos e sensações de mais personagens, e não de alguém que fale por todos.

 

Assim, “A Sociedade da Neve” é impactante ao nos isolar junto aos jovens na cordilheira dos Andes. A reflexão que fica é sobre a perseverança e esforço coletivo na situação de emergência, tendo em vista que muitos filmes enfatizam a falta destes elementos, especialmente num mundo cada vez mais individualista.


Avaliação: 4/5


A Sociedade da Neve (La Sociedad de La Nieve, 2023)

Direção: J.A. Bayona

Gênero: Drama, Thriller

Origem: Espanha, Chile, Uruguai, EUA

Duração: 144 minutos (2h24)

Disponível: Netflix


Sinopse: Em 1972, um avião fretado para levar um time de rúgbi do Uruguai ao Chile sofre um acidente nos Andes. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis do planeta, os sobreviventes recorrem a medidas extremas para continuar vivos.

(Fonte: IMDB)


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