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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | A Musa de Bonnard, de Martin Provost (Bonnard, Pierre et Marthe, 2024)

A Musa de Bonnard tenta explorar a relação entre Pierre e Marthe Bonnard, mas acaba preso a uma biografia episódica sem vida.



O talento e importância do pintor francês Pierre Bonnard para a história da arte falam por si só. Sua trajetória artística e influências para se enquadrar no movimento pós-impressionista é algo amplamente conhecido. Mas, por outro lado, sua vida pessoal possui menos destaque, bem como sua musa, Marthe.

 

Com a proposta de explorar a vida privada de Bonnard, lado a lado com sua arte, e acender algumas discussões acerca da relação entre os dois, o projeto de Martin Provost sugere que dará ênfase à vida e participação de Marthe com o pintor. Acontece que o resultado acaba ficando longe daquilo que se imagina querer fazer, quando ao invés de desenvolver o lado romântico e trabalhar o relacionamento, A Musa de Bonnard tem dificuldade até em encontrar seu protagonismo, quando se limita a uma biografia bastante superficial e inflada que perpassa recortes episódicos dos quarenta anos em que Pierre e Marthe viveram juntos.

 

A estrutura episódica por si só não seria um problema se houvesse algum senso de progressão dentro das situações construídas pelo roteiro de Provost e Marc Abdelnour. Mas o que acontece mesmo é apenas o estabelecimento de ameaças matrimoniais, que, como se fosse uma comédia romântica, sem o lado do humor, ameaçam a estabilidade do casal protagonista.

 

Quando tenta desenvolvê-los, prefere voltar-se para as brigas e discussões, resultando em diversos momentos explosivos, permeados por gritarias e objetos sendo arremessados, nos quais a direção se perde pensando em onde deve apontar a câmera. Ao menos, apesar do texto frágil e artificial, alguns desses momentos levam a um interessante exercício de semiótica, quando a direção, em seu momento mais inspirado, coloca os personagens para discutir dentro de um lago, que serve de base para pinturas de Monet e Bonnard, estreitando as relações que existem entre a arte e o casamento.

 

E para além das gritarias, a traição é também colocada como uma das temáticas centrais, mas abordada sob uma ótica romantizada de amor verdadeiro que, para além de desnecessária, mostra-se incabível dentro da biografia que se propõe a ser, sobretudo quando aceita e aplaude uma redenção de Pierre em face de Marthe, após todas as vezes que ele a desrespeita, como se fosse algo emocionante.

 

Dessa forma, A Musa de Bonnard é incapaz de oferece qualquer sentimento ou produzir sensações ao espectador, quando sua câmera distante não parece interessada na experiência sensorial que o cinema pode oferecer, mas sim traçar um rígido panorama apressado da trajetória percorrida pelo casal. Esses quarenta anos em duas horas não falam mais do que o óbvio, ainda mais com a direção sempre recorrendo à diálogos engessados e artificiais, excessivamente didáticos, como se explicasse ao público noções de arte, ou fatos históricos, quando trata de outros artistas, como Claude Monet e Édouard Vuillard. Apesar de algumas ideias interessantes de semiótica, não passa de um filme vazio e pouco natural, longe da beleza das telas de Bonnard, e mais ainda de uma biografia sincera sobre a relação do casal.

 

Avaliação: 2/5

 

A Musa de Bonnard (Bonnard, Pierre et Marthe, 2024)

Direção: Martin Provost

Roteiro: Martin Provost e Marc Abdelnour

Gênero: Drama, Biografia

Origem: França, Bélgica

Duração: 122 minutos (2h02)

Disponível: Cinemas (via California Filmes)

 

Sinopse: A vida do pintor francês Pierre Bonnard (1867-1947) e de sua esposa, Marthe de Méligny (1869-1942), ao longo de cinco décadas. O homem que seu país natal apelidou de “pintor da felicidade” não seria o pintor que todos conhecem sem a enigmática Marthe que sozinha ocupa quase um terço da sua obra.

(Fonte: California Filmes / Sinny Comunicação)

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