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Foto do escritorHenrique Debski

CRÍTICA | O Dublê, de David Leitch (The Fall Guy, 2024)

O Dublê brinca com a indústria e transforma o set num campo de batalha, em mais uma ótima comédia de ação dirigida por David Leitch.



Na atual – e muito bem-vinda – onda de dublês assumindo as rédeas do cinema de ação norte-americano, O Dublê vem como mais uma forma de reconhecer o trabalho de tantos profissionais, que mesmo em frente às câmeras, quase nunca são lembrados.

 

E na esteira desse movimento, nada mais justo que a condução deste projeto ficar nas mãos de David Leitch, que até 2015 trabalhou como dublê, para, em 2017, estrear na cadeira de diretor com o refinado Atômica. Notável que sua direção não reinventa a roda, mas sabe muito bem, como poucos, utilizar elementos de uma comédia escrachada dentro de ótimas sequências de ação, enquanto, ao mesmo tempo, também sabe se levar a sério quando necessário.

 

É justamente por essa razão que O Dublê funciona tão bem em amplas frentes, da comédia ao romance, e do romance à ação. A pegada metalinguística adotada pelo roteiro de Drew Pearce, baseado na série homônima dos anos 1980 de Glen A. Larson, serve como um ótimo contexto para fomentar o romance entre os personagens de Ryan Gosling e Emily Blunt – ótimos, por sinal.

 

Não apenas o ambiente de trabalho comum que liga um ao outro, mas o diretor também utiliza desta linguagem do cinema para trabalhar a relação romântica, seja através dos diálogos em duplo sentido e os próprios recursos discutidos – e utilizados – em cena. É assim que todo o debate a respeito do filme dentro do filme faz parte, afinal, da narrativa.

 

Da mesma forma que Leitch utiliza a temática do “fazer cinema” para desenvolver o relacionamento, o mesmo é feito com a ação, que mescla tanto o estilo metalinguístico, usando o próprio set como campo de batalha, quanto se entrega ao estilo característico do diretor, na ação bem coreografada, montagem intercalada com poucos cortes, e trilha musical (com destaque ao ótimo uso de All Too Well, de Taylos Swift, em uma ótima referência ao curta baseado na canção e dirigido pela própria cantora), assim como a predominância do neon em determinados momentos – vide a típica sequência da boate, um bom resumo de sua filmografia.

 

A violência gráfica, algo que ajuda bastante na fluidez e impacto da ação de Leitch, aqui pouco faz falta quando direciona seu interesse em uma moralidade não letal, onde há toda uma prioridade em evitar baixas e um banho de sangue, até mesmo pela urgência que a própria narrativa impõe quanto à questão central.

 

E se O Dublê acerta na ação e na comédia romântica, seu lado investigativo é o que deixa a desejar. Não a ameaça criada, e nem tanto às motivações dos antagonistas, que até se ajustam bem à metalinguagem e ao humor, mas o desenrolar do mistério acaba priorizando, constantemente, as soluções fáceis, e de maneiras óbvias, produzindo boas referências, mas não saídas eficientes.

 

Muito disso é parte do elemento algorítmico do qual entra O Dublê, em uma adequação às tendências do cinema de ação atual. Porém, ao contrário de Argylle, que usa da metalinguagem para constantemente enganar o público com subsequentes reviravoltas, subestimando o espectador, o presente longa sabe adequar os elementos genéricos atuais de forma a diminuir o impacto da previsibilidade, que se torna evidente com a chegada do terceiro ato. Isso acaba mascarado com uma boa crítica ao narcisismo e a ganância da indústria, o que acaba suavizando, e até compensando, um sentimento de que falta criatividade.

 

Assim, O Dublê tem plena noção de suas fragilidades, mas as trabalha de forma adaptativa, contornando com seus pontos fortes. É assim que o romance e a ação se sobrepõem aos elementos investigativos, que tem dificuldade de avançar a narrativa de maneiras mais robustas. Mas sobretudo, é um filme que não cai em suas próprias armadilhas. Para além de uma boa comédia de ação, é importante na proposta de reforçar o trabalho e reconhecimento dos dublês, que, ao menos dessa vez, deixam de ser os coadjuvantes para assumirem a protagonismo da história, conduzida por um talentoso dublê que se tornou diretor.

 

Avaliação: 4/5

 

O Dublê (The Fall Guy, 2024)

Direção: David Leitch

Roteiro: Drew Pearce (baseado na série homônima criada por Glen A. Larson)

Gênero: Ação, Comédia, Romance

Origem: EUA, Austrália, Canadá

Duração: 126 minutos (2h06)

Disponível: Cinemas (via Universal Pictures)

 

Sinopse: Após um acidente que quase acabou com sua carreira, um dublê precisa descobrir o paradeiro de um astro de cinema desaparecido, desmascarar uma conspiração e tentar reconquistar o amor de sua vida enquanto ainda faz seu trabalho diário. (Fonte: IMDB)


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